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As Duas Faces da Adaptação Infantil


Adaptação Infantil 
RESUMO: A permanência com sucesso da criança na escola infantil depende essencialmente de uma adaptação bem feita. Este é um processo que vai exigir tanto da criança que busca adequar-se a essa nova realidade social, quanto de seus pais que precisam estar conscientes e confiantes dessa decisão, e também do educador e da instituição que precisa se preparar para recebê-la. Para que isto ocorra é necessária uma sintonia entre as partes envolvidas: família x escola. Este artigo trata de uma reflexão bibliográfica sobre este período e relata a experiência vivida em dezessete anos de educadora de educação infantil contrastando com a recente experiência vivida de ser a mãe da criança em adaptação. 

PALAVRAS-CHAVE: Adaptação, Educação Infantil, Família, Escola.
Veja também:
Duas faces na Adaptação Infantil

INTRODUÇÃO

Para ORTIZ E CARVALHO (2012, p. 45):
Cabe ressaltar que a incorporação de cada nova  criança estrutura da instituição provoca mudanças naturais e necessárias no seu funcionamento cotidiano, envolvendo diferentes personagens, como a criança, a família, os educadores e os demais funcionários da creche.
O processo de adaptação escolar infantil é um período de mudança que pode trazer insegurança, medo, frustração e irritação, que são normalmente traduzidos pelo choro. Exige muita paciência, compreensão e dialogo entre as partes envolvidas que são a família e a escola. De um lado a família que precisa deixar a criança na instituição deve estar consciente dessa escolha e de outro lado a escola que se prepara para a chegada de mais um novo integrante. A família “principalmente a mãe” precisa conhecer e confiar na instituição escolhida para poder passar essa confiança para a criança, pois se a mamãe não confiar como a criança vai confiar? Esse sentimento é percebido claramente pela criança.
Adaptar-se, do ponto de vista psicológico, significa utilizar as experiências de vida de modo positivo, como uma bagagem pessoal; poder sentir medo frente ao desconhecido, porém, sem ser dominado e paralisado para sempre por ele. Adaptar-se significa somar-se a um novo contexto. (ORTIZ E CARVALHO 2012 p. 46)
Vários fatores são determinantes para que esse processo transcorra de maneira saudável. A troca de informações entre as esferas envolvidas precisa ser feita através de uma entrevista que antecede a frequência da criança na escola onde ambas as partes devem trocar as principais informações referentes seu desenvolvimento, seus hábitos e costumes, alimentação, saúde e repouso. Essas informações darão condições ás educadoras de prestarem um atendimento mais preciso e cuidadoso para cada criança.
A adaptação de uma criança não tem um período determinado para se concluir. Ela depende exclusivamente de cada um. Cada situação precisa ser respeitada e valorizada, pois é uma etapa essencial que se inicia na sua vida.
É importante nesta fase que todos, pais e educadores, possam compreender e respeitar o momento da criança de conhecer o novo ambiente e estabelecer novas relações. À medida que ela vai se integrando, podem ser percebidas as influencias positivas de sua permanência em uma creche que oferece boas condições para o seu desenvolvimento. (ROSSETTI-FERREIRA, 2011, p. 54)
 REVISÃO DE LITERATURA:
Segundo ORTIZ E CARVALHO, 2012, o processo de inserção de crianças pequenas na instituição de ensino intitulado processo de adaptação requer cuidado especifico. 

Assim também nos fala ROSSETTI-FERREIRA (2011, p. 51):
Os momentos iniciais na creche exigem sempre um esforço de adaptação da criança, da família e daqueles que assumem seus cuidados. Habitualmente a criança convive com poucas pessoas em casa, com quem já estabeleceu um forte vinculo afetivo. Lá ela pode explorar os cômodos e objetos da casa, observando e participando das atividades familiares. Já na creche ou pré-escola, a criança passa a conviver com um grande numero de adultos e crianças, em um ambiente novo, que geralmente é estranho. Tudo é novo. Mudam as pessoas, o espaço, os objetos, a rotina.
A adaptação escolar exige uma prévia troca de informações entre as partes envolvidas.
Aqui vamos nos deter exclusivamente aos fatos relacionados com a entrada de bebes, portanto, que dizem respeito tanto a eles e suas famílias, como a instituição. É o período considerado necessário para que a criança se familiarize com o contexto da creche, assim como a família e a instituição passem a conhecer, vindo a estabelecer um bom relacionamento. Essa preocupação parte do principio básico de que a criança precisa ser cuidada, rodeada de afeto, respeitada em suas diversas necessidades e que a separação mãe-bebe pode gerar sofrimentos e dificuldades no estabelecimento de novas relações. (ORTIZ E CARVALHO, 2012, p. 45).
A adaptação é um momento de mudança de um contexto familiar para um contexto escolar diferente e novo. 
Conforme ORTIZ E CARVALHO (2012, p. 50),
A adaptação deve ser vivida como um momento de transição: de passagem do conhecido para o tempo de conhecer, para o tempo de apropriar-se do novo, ou seja, tornar seu o que ainda é estranho. Por isso é comum vermos algumas crianças que já conseguiram deixar a mãe ir embora continuarem apegadas a objetos ou brinquedos que trouxeram de casa: aquele que fica agarrado a sua mochila onde estão seus pertences trazidos de  casa; aquele que fica agarrado ao seu bicho de pelúcia, um brinquedo ou mesmo um pedaço de fralda, um objeto pertencente a mãe. No universo das creches e dos bebês, são chamados “nanas”, “cheirinhos”, bichos que tem nomes próprios e dos quais não se pode separar, pois são eles que lembram a mãe. Que representam o que já é conhecido.
Ressaltamos a importância das esferas envolvidas neste processo estarem em sintonia porque a adaptação é um processo que envolve criança, família e instituição. 
Gostaríamos de destacar também que o período de adaptação abrange todos os elementos envolvidos nesse processo, e não apenas o bebe. É a mãe adaptando-se ao seu bebe e ao mesmo tempo vendo-se na situação de ter que compartilha-lo com pessoas alheias a seu ambiente familiar; é a criança, ainda experimentando as novidades do ambiente extrauterino, tendo agora que desvendar um universo externo à relação com sua mãe; é a instituição e seus componentes recebendo mais um elemento, o que modifica sua rotina e suas características de seu funcionamento cotidiano. É ainda a instituição sendo questionada nos mais inusitados elementos de sua rotina, pois cada um que chega tem seu olhar próprio e será  capturado por um aspecto da creche que diz respeito a questões emergentes de sua historia pessoal. (ORTIZ E CARVALHO, 2012, p. 52)
E assim ORTIZ E CARVALHO (2012) concluem que para enfrentar as dificuldades características do período crítico que é o da adaptação é necessário um trabalho coletivo promovendo discussões e reflexões a cada novo período de entrada de crianças, aprendendo com o passado e planejando o futuro. Afinal, o objetivo de todos é que as crianças sejam acolhidas e bem vindas.

METODOLOGIA:

Com base numa pesquisa qualitativa descobrimos que ainda existem poucas literaturas que tratem do assunto adaptação infantil, mas o que foi pesquisado vem de encontro com a convicção que temos enquanto educadora de educação infantil na rede municipal de Ijuí desde 1999. Então aqui vamos relatar um pouco dessa vivencia enquanto educadora e contrapor com uma recente experiência vivida de estar do outro lado na condição de mãe necessitando deixar um bebê em uma escolinha para poder retornar ao trabalho.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
A adaptação na escola infantil tratada pelas literaturas ainda como “creches”, em qualquer idade é um processo delicado e exige muita compreensão e diálogo entre as partes envolvidas. Esse processo não é apenas difícil para a criança que está vivenciando algo novo, mas também para a família e para a instituição porque cada criança é única e tem uma forma de reação.

Segundo ROSSETTI-FERREIRA, et al. (2011 pp. 51 e 52)
Porém se engana quem acha que só a criança enfrenta mudanças na entrada na creche. Sua reação pode ser a mais evidente. Mas família também sofre nesse processo. As mudanças não ocorrem só na rotina da família, que tem de encaixar os horários da creche no seu dia a dia. Muda também a forma de encarar a educação e o cuidado de sua criança (…). E não é só a criança e a família que enfrentam mudanças. O educador também precisará se adaptar, descobrindo pouco a pouco, nesta criança e nesta família, seus novos parceiros do dia a dia.
Durante estes dezessete anos trabalhei em três escolas da rede municipal de Ijuí intituladas Escolas de Educação Infantil e vivenciamos muitas situações de adaptação, sendo que sempre procuramos trabalhar em sintonia com a família.  Antecedendo a estreia da criança na escola realiza-se uma entrevista com a família buscando informações detalhadas sobre seu desenvolvimento, seu jeito de ser e também explica-se a rotina e o funcionamento da escola, proporcionando assim uma  troca de saberes entre os pares que poderão auxiliar no bem estar da criança neste novo ambiente e tranquilizar também a família.
Muitas vezes a falta de tempo da mãe ou de outro membro da família para acompanhar esse processo acaba atrapalhando e comprometendo o sucesso e a permanência da criança na instituição. Muitas mães acabam procurando a escola para dar inicio ao processo escolar praticamente nos dias de voltar para o trabalho e nem sempre conseguem que outra pessoa acompanhe seu filho e isso acaba muitas vezes complicando e até deixando a criança insegura porque não conseguem respeitar o tempo que cada criança precisa para se familiarizar com este novo local até então totalmente estranho.
É muito importante que os tempos combinados bem como os horários de chegada e saída sejam respeitados, pois estes darão segurança para a criança e ela vai aos poucos perceber que não está abandonada neste lugar, que ela vem, fica um pouco e depois retorna para a família e assim vai descobrindo que ali muitas coisas interessantes acontecem.
Diante de inúmeras situações sempre procuramos manter um diálogo com as mães para compreender o processo de adaptação. O primeiro passo é saber se realmente estão certas e convictas que necessitam deixar a criança na escola, então é necessário ter “forças” para encarar essa difícil fase repleta de choros e inseguranças. Muitas crianças choram nos primeiros dias sendo necessário deixa-las apenas alguns minutos para que consigam familiarizar-se com esse novo ambiente e gradativamente amplia-se esse tempo com o passar dos dias. Outras crianças sentem-se envolvidas pela novidade e não choram nos primeiros dias, o que não significa que estejam adaptadas e o choro acaba surgindo mais tarde quando percebe o que está acontecendo realmente e que não está ali para passear e sim para ficar. E ocorrem alguns casos também que as crianças não estranham em nenhum momento na primeira semana já passam pelo processo gradual adequando-se à rotina escolar rapidamente.
Durante esses dezessete anos sempre procurei passar informações para as famílias , normalmente na pessoa da mãe, mostrando o ambiente da sala de aula, detalhando a rotina da turma, exemplificando meu método de trabalho, buscando tranquiliza-las principalmente  quando as crianças choravam muito na hora da separação e  posteriormente logo se acalmavam. Muitas vezes parecia que as mães não acreditavam no que a gente estava falando porque tão grande era a aflição de seu filho quando tinham que se afastar, aí sugeríamos que voltassem dar uma espiada para poderem comprovar o que haviam escutado e assim podíamos perceber que a confiança ia se alastrando.
Durante a adaptação, a educadora vai auxiliando a criança a familiarizar-se com os novos horários de sono, alimentação e banho, buscando um equilíbrio dos seus hábitos e costumes, aproximando-os gradualmente ate acomoda-los a rotina da creche. Esse processo será facilitado se a criança puder sentir tranquilidade e segurança na decisão dos pais de coloca-la na creche e na relação deles com sua educadora. (ROSSETTI-FERREIRA et al.2011, p. 53)
Recentemente foi chegada a hora de vivenciarmos a outra face dessa história. Depois de ter meu bebê e ter o privilégio de ficar dez meses e meio de licença dedicada exclusivamente para cuida-la era necessário escolher um local para ela ficar, pois era preciso retornar ao trabalho, muito intenso de dez horas diárias divididas em duas instituições escolares. 
Juntamente com o marido decidimos escolher uma instituição privada para matricula-la entre outros motivos principalmente pela flexibilidade de horário oferecida. Então quando ela estava com seis meses fomos conhecer algumas instituições e seu perfil de trabalho. A dor era intensa só de pensar que ia chegar o dia que a licença iria terminar e teria que leva-la para este estranho local. O choro foi inevitável só de imaginar como esse momento seria difícil e doloroso para nós duas. Mas lá no fundo a consciência exigia forças e eu sabia que era a melhor decisão. 
Escola escolhida, matrícula realizada, ainda tínhamos alguns meses para ir amadurecendo e aceitando a ideia de que teríamos que ficar longe, cada vez que lembrava as lágrimas corriam porque era muito difícil imaginar que meu bebezinho fosse ficar longe dos meus cuidados. O tempo foi passando muito rápido e então era hora de decidir a data inicial da adaptação. Pensamos juntos em casa e decidimos que iríamos escolher um período longo para que tudo pudesse transcorrer da melhor maneira possível com o menor sofrimento para o bebê.  
O dia nem tão esperado assim chegou e ela estava com nove meses e alguns dias quando marcamos a data do início da adaptação. A minha cabeça de mãe estava preparada para que ela ficasse no máximo quinze minutos em cada turno porque imaginava que o sofrimento seria muito grande. Foi então que conversamos muito com a equipe da instituição e também a professora responsável pela turma onde nos colocaram que faríamos uma primeira tentativa de quarenta e cinco minutos para ver como seria seu comportamento e eu concordei porque precisava confiar e acreditar no trabalho da instituição, mas deixei claro que se chorasse era para me avisar porque queria um processo gradativo e que pudesse trazer o mínimo de sofrimento possível para ela. 
Então trabalhei por alguns dias na minha cabeça aquilo que sempre frisava para as mães dos meus alunos que precisavam confiar na escola para poder transmitir essa confiança para a criança e consegui ficar calma e acompanhar de maneira muita tranquila essa transição. 
Para ela os primeiros dois dias foram de novidade misturado com a saudade, aí veio o terceiro dia que trouxe mais insegurança e foi o ponto mais difícil e já esperado que acredito foi a hora de perceber que não estava ali só para passear e passar alguns minutos e sim com um propósito. Mas ficava aguardando na sala de espera com muita tranquilidade porque sabia que isso era de extrema importância para ela. E assim a semana passou, veio a próxima e o tempo foi gradativamente sendo ampliado e as relações de afetividade foram se transformando e tudo transcorreu de uma maneira bem agradável e em menos de um mês a adaptação estava concluída.
Desta forma foi possível retornar ao trabalho com a certeza de que  a escolha certa foi realizada e que essa preciosidade que é um filho está num local seguro, acolhedor e educativo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante desta experiência podemos concluir que nesta fase cheia de surpresas, é muito importante que os pais possam reconhecer seus próprios sentimentos diante da situação que está sendo vivida. É necessário que a escola proporcione momentos de interação e diálogo com a família transmitindo transparência em seu trabalho. Assim, os pais terão muito mais condições de reconhecer e dar suporte aos sentimentos, demandas e dificuldades do filho. Por isso a importância de dedicar o tempo necessário para acompanhar esse progresso gradativo e extremamente importante para a criança salientando-se que a idade da criança também é um fator que influencia muito porque a adaptação de um bebezinho de poucos meses é bem diferente da de uma criança com dois, três ou quatro anos de idade. Uma adaptação bem feita evita readaptações e abre as portas para o bom desempenho escolar.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ORTIZ, Cisele; CARVALHO, Maria Teresa Venceslau de. Interações: ser professor de bebês – cuidar, educar e brincar, uma única ação. Coleção interAções; Editora EdgardBluche Ltda, São Paulo, Bluche, 2012.
ROSSETTI-FERREIRA, Maria Clotilde et al. Os fazeres na Educação Infantil, 12ª ed. São Paulo: Cortez, Ribeirão Preto, 2011.
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