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Ao final de um encontro de formação, em Salvador, ouvi um comentário de uma professora que me fez refletir sobre os sentidos da docência. Ela contou que uma colega, ao saber de sua idade, exclamou: “nossa, você não parece ter 67 anos!”. A resposta dela foi: “é porque ensino”.
Estava, então, configurada uma questão de ensino. Esta minha colega vê a docência como uma experiência que revitaliza, rejuvenesce, nutre e anima a vida. Degustei aquele relato como quem reflete sobre as próprias escolhas profissionais e sente, como ela, que os encontros com os estudantes parecem produzir certa endorfina. Nos estudos de Peter Woods, autor deInvestigar a Arte de Ensinar (224 págs., Porto Editora, (11) 3896-3350, 126,50 reais), encontro pistas para pensar, junto com vocês, sobre o ensino como ciência e arte. No Capítulo 1 (páginas 25 a 44), o autor questiona essa dicotomia, que surge na formação do professor, geralmente, como duas dimensões contrárias.
São muitos os desafios impostos à nossa profissão. Eles são de natureza política e pedagógica e passam pela precarização da carreira e das condições de trabalho que, muitas vezes, não são favoráveis nem ideais. Diante de todos os obstáculos e dificuldades, questiono: é possível combinar docência e felicidade?
Eu acredito que sim. É claro que, muitas vezes, esses profissionais são responsabilizados pelo fracasso da escola ou vistos como vítimas das condições em que desenvolvem seu trabalho. Pesquisas, como La Condición Docente: Análisis Comparado de la Argentina, Brasil, Perú y Uruguay, apresentam o mal-estar docente como um fenômeno da contemporaneidade. Apesar disso, aqueles que, em lugar de adoecer ou abandonar a profissão, permanecem firmes nela, se tornam mais comprometidos com a carreira.
Em 2008, ao escutar 12 professoras iniciantes de Língua Portuguesa, em minha pesquisa do mestrado (confira a dissertação na íntegra clicando aqui), essa constatação também emergiu. Em meio ao mar revolto da iniciação profissional, ambiguidades e contradições do emprego, foi possível perceber os tons de ânimo, alegria e, nas palavras das próprias entrevistadas, “amor e paixão” – que surge como um valor construído no cotidiano do ofício. Falas como “me tornei professora por falta de opção, mas com o passar do tempo, eu tenho gostado cada vez mais” permeiam relatos de quem atua na sala de aula.
Segundo Edgard Morin, em A Cabeça Bem-feita: Repensar a Reforma, Reformar o Pensamento, o ensino “exige algo que não é mencionado em nenhum manual, mas que Platão já havia acusado como condição indispensável dele: o eros”. Aqui, o termo carrega o significado de desejo e prazer de transmitir e refere-se ao amor pelo conhecimento e pelos alunos, fator que muda a forma como nos relacionamos com nossa atividade.
Convido você, caro leitor, a compartilhar sua experiência e opinião sobre as paixões e felicidades que envolvem nossa profissão apesar de todas as suas dificuldades. O que te dá prazer profissionalmente no dia a dia da sala de aula? O que nutre seus sonhos, expectativas e realizações como educador e o convocam a permanecer nessa profissão?
Queremos te ouvir! Deixe seu comentário!
Fonte: NOVAESCOLA
Escrito por: Neurilene Martins
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