Créditos: Shutterstock Crianças pequenas e bebês aprendem muito rápido. Mas por que apressar a alfabetização? Para a especialista em neuropsicologia Michelle Müller, é perda de tempo. |
O mundo em que vivemos é repleto de estímulos – visuais, sonoros, textuais – e passamos a vida toda decodificando esses códigos a todo instante. O processo de ler e interpretar esses estímulos é tão automático e aparentemente banal que não paramos para pensar em como – e, principalmente, quando – ele acontece.
Apesar de ser mais recorrente entre seis e sete anos, não há um momento exato ou ideal para que a chamada “revolução mental” aconteça – criado pelo neurocientista Stanislas Dehaene, o termo denomina o período em que a criança começa a criar as primeiras conexões profundas com a palavra.
Créditos: Shutterstock Alfabetização é um processo complexo que não deve ficar à mercê da ansiedade dos pais e professores. |
Mas quando a leitura é de palavras, o processo é mais complexo. “Passamos tanto tempo recebendo e transmitindo informações por meio da linguagem escrita que ela nos parece quase tão espontânea quanto a comunicação oral. No entanto, não há nada de natural na leitura. Não existe no cérebro nenhuma sequer região especialmente dedicada à decodificação de símbolos que representem palavras”, destaca a jornalista especialista em neurociências e neuropsicologia Michelle Müller, em um texto publicado no Brasil Post.
Diante disso, querer ‘apressar’ a alfabetização das crianças se torna um contrassenso. “Para acontecer com sucesso, a alfabetização deve esperar que etapas anteriores estejam muito bem construídas e assimiladas”, explica Michelle, referindo-se ao ritmo de cada pequeno na hora de apreender os estímulos externos. “Alfabetização precoce é perda de tempo”, ela enfatiza.
Afinal, o que é alfabetização?
O psicolinguista colombiano Evelio Cabrejo Parra, explica que adquirimos a linguagem já na primeira infância, quando bebês, e associa a ‘alfabetização’ a um processo anterior à fala e à escrita. “O bebê, ao nascer, já vem com a capacidade de escutar. Quando se lê para ele em voz alta ou se canta uma canção de ninar, ele se põe em posição de escuta. Isso quer dizer que ele está tratando de construir significado à sua maneira”.
Já a escritora e ilustradora infantil Patricia Auerbach ressalta como o próprio conceito do que é ‘ler’ é insuficiente. Segundo ela, a alfabetização e a leitura na educação infantil focam somente no texto, deixando de lado o potencial de leitura de imagens. “Se a gente só alfabetizar para a palavra, a criança não vai dar conta de decodificar o mundo, que é muito visual”, explica Patricia em entrevista ao blog Garimpo Miúdo. Patricia é autora de diversos livros ilustrados infantis, como “O jornal” (Brinque-Book) e “Coisas de gente grande” (Cosac Naify).
Seja como for, o fato é que a maioria das pessoas tem a capacidade da linguagem tão introjetada no dia a dia que é fácil esquecer como foi lento e gradual adquiri-la. Antes de generalizar o aprendizado das palavras ou apressar a alfabetização, é preciso ter em mente que a leitura de mundo dos pequenos acontece de muitas maneiras. Um bebê, por exemplo, lê com o corpo, com os ouvidos, com as mãos, a partir da exploração tátil, sonora e visual das coisas.
Para entender mais sobre o assunto, clique aqui e leia a análise completa de Michelle Müller.
Fonte: CATRAQUINHA