As interações entre crianças são ricas em conteúdos e variam os contextos |
O estudo do papel do educador junto às crianças não pode descuidar do exame das relações que elas estabelecem entre si nas diferentes situações, Atos cooperativos, imitações, diálogos, disputas de objetos e mesmo brigas, entre tantos outros, são grandes momentos de desenvolvimento. Todas essas situações são frequentes nas creches e pré-escolas, devendo os professores criar condições para lidar positivamente com elas.
No início do debate entre pesquisadores sobre a creche, na década de 70, apontava-se o problema da possível ruptura, em uma idade precoce, da relação do bebê com sua mãe e a inconveniência, para a criança, de frequentar um ambiente coletivo de educação, onde poderia ser submetida a um processo massificador e contar com poucas oportunidades para desenvolver uma identidade pessoal.
Dirimindo esses fantasmas iniciais, pesquisas recentes têm destacado o valor positivo da experiência extra familiar no desenvolvimento infantil, a qual promove a curiosidade mútua das crianças e a identificação e a empatia entre elas.
A mesma psicanálise, que alertava sobre o perigo do rompimento do vínculo mãe-criança quando da entrada na creche, porque isso não possibilitaria a competição entre as crianças pelo amor da mãe, tem fornecido elementos que confirmam a importância da relação entre as crianças.
A função dos companheiros de idade é a de polarizar atenções recíprocas, constituindo fonte de interesse, imitação e percepção de diferenças. As interações que as crianças estabelecem entre si – de cooperação, confrontação, busca de consenso – favorecem a manifestação de saberes já adquiridos e a construção de um conhecimento partilhado: símbolos coletivos e soluções comuns. Para tanto, elas devem ser encorajadas a explorar seus interesses e ideias. O patrimônio de conhecimentos coletivamente construídos vai se expandindo para outras situações; cada ideia é levada adiante com algumas modificações.
Fazer parte de um grupo de crianças envolve camaradagem e relações privilegiadas, demonstração de interesse pelo que ocorre com o outro, ajuste de objetos de atenção e de formas de sintonização recíproca. A atividade de outra criança atrai o olhar por marcar certos objetos como potencialmente interessantes, dentro de um grande mecanismo de partilha de significados.
Quando uma criança consola outra, parece sentir a dor da companheira, e não apenas reproduz aquilo que já observou um adulto fazer. Contudo, as relações privilegiadas que as crianças estabelecem entre si não são somente de amizade, mas também de ciúme, criando situações difíceis para o professor.
As interações criança-criança são ricas em conteúdos e variam nos diferentes contextos, em consequência de elementos como o tamanho do grupo, os objetos disponíveis, o tipo de atividade, etc. Quando crianças pequenas trabalham em pequenos grupos com atividades adequadas a seu nível de desenvolvimento e a seus interesses (jogos de ficção, experimentações físicas, problemas lógico-matemáticos, etc.), passam a construir sequências de trabalho em que se mostram capazes de inventar e desenvolver iniciativas.
Além disso, na relação com os parceiros, aprendem que ser membro de um grupo envolve competências para aquiescer e contrapor-se, em momentos variados, ser dependente ou independente líder ou seguidor, além de refletir sobre o que significa ser justo verdadeiro e belo. É uma valiosa arena de crescimento pessoal.
Fonte texto e imagem por: PORTAL Educação