Sala de aula invertida: a educação do futuro |
Outra educação é possível, na qual o aluno é o protagonista e aprende de forma mais autônoma, com o apoio de tecnologias. Isso é o que os estudiosos da área defendem há décadas, mas na maior parte das instituições de ensino brasileiras perdura o modelo tradicional de ensino: o professor expõe os conteúdos e os alunos ouvem e anotam explicações para, em seguida, estudar e fazer exercícios.
Como alternativa, uma nova didática vem sendo adotada de forma crescente em vários países, colocando-se como uma das tendências da educação: a sala de aula invertida (flipped classroom). Nela, o aluno estuda os conteúdos básicos antes da aula, com vídeos, textos, arquivos de áudio, games e outros recursos. Em sala, o professor aprofunda o aprendizado com exercícios, estudos de caso e conteúdos complementares. Esclarece dúvidas e estimula o intercâmbio entre a turma.
A metodologia tem alcançado resultados positivos, com impacto nas taxas de aprendizagem e de aprovação, como também no interesse e na participação da turma. Disseminada nos últimos anos pelos professores norte-americanos Jon Bergmann e Aaron Sams, foi testada e aprovada por universidades classificadas entre as melhores do mundo, como Duke, Stanford e Harvard.
Poderíamos discutir até que ponto a sala de aula invertida é mesmo uma inovação. Vygotsky (1896-1934), por exemplo, já destacava a importância do processo de interação social para o desenvolvimento da mente. Seymour Papert, na linha de Piaget, já defendia na década de 60 uma didática em que o aluno usasse a tecnologia para construir o conhecimento. E, sem ir tão longe, o próprio Paulo Freire era adepto de que o professor transformasse a classe num ambiente interativo, usando recursos como vídeos e televisão. “Não temos que acabar com a escola”, disse num diálogo com Papert em 1996, mas sim “mudá-la completamente até que nasça dela um novo ser tão atual quanto a tecnologia”.
Em todo caso, seja um método novo ou apenas um nome diferente para o que há muito se pensa para a educação do futuro, é fundamental que escolas e faculdades brasileiras conheçam mais sobre essa pedagogia. Sobretudo porque ela apresenta contribuições importantes para alguns dos maiores desafios do nosso alunado: motivação, hábito de leitura, qualidade da aprendizagem.
Além disso, a sala de aula invertida valoriza o papel do professor, como orientador dos percursos de pesquisa e mediador entre estudantes e conhecimentos. E pode ajudar a desenvolver competências como capacidade de autogestão, responsabilidade, autonomia, disposição para trabalhar em equipe.
Sem cair no erro de importar tal e qual um modelo estrangeiro, nada impede que, no Brasil, o método seja estudado, sejam realizados estudos, ensaios e experiências e, na sequência, se adaptem alguns dos princípios e recursos para as necessidades do nosso contexto. Algumas escolas e universidades já vêm fazendo isso e, em breve, talvez verifiquemos resultados surpreendentes.
Fonte: Luciane Cordeiro / G1
FOTO CAPA: edools