Como alfabetizadora, tenho consciência de meu papel na formação. E, assim como recebi muito apoio no início da minha carreira, faço questão de ajudar quem está chegando agora.
Escrito por: Mara Mansani
Minha primeira experiência como professora foi uma loucura. Recebi uma turma de 18 alunos, em uma escola municipal de Educação Infantil, em 1986. O incrível é que eu tinha somente 16 anos e ainda estava fazendo o magistério. Na época, isso era permitido porque faltavam professores.
Era uma sala de aula em área rural, bem isolada. A maioria das criancinhas vinha de chinelinhos e pé no chão. E eu, assustadíssima em meio ao barulho contínuo, não sabia o que fazer nas aulas, enquanto os pequenos olhavam para mim esperando as orientações.
Lembro que pedi silêncio, firme e brava, e ouvi uma voz bonita de criança perguntar: “Tia, o que é silêncio?”. Elas nem entendiam o que eu estava falando. Foi aí que me dei conta que, se eu estava assustada, elas estavam muito mais. Ri com aquela pergunta, respondi com calma e resolvi que, em vez de falar e falar, eu iria ouvir aqueles alunos , para então poder planejar minhas aulas.
Então, procurei as professoras mais experientes da instituição onde eu fazia o magistério e os estágios para pedir ajuda. Recorri também a algumas professoras do curso. Aquelas profissionais, que lecionavam há muito tempo, me auxiliaram muito, me acolheram, me acalmaram e orientaram meus passos. Foi assim que, naquele ano, deu tudo certo! Com o tempo, nos tornamos amigas e, depois de formada, trabalhei com elas na própria escola em que eu estudava, a EE Cel. João Rosa. Entre aquelas professoras mais experientes, Elizabete e Serafina, já aposentadas, foram determinantes na minha formação.
Comigo, sempre foi assim. Ao longo da minha carreira trabalhei em muitas escolas, em diferentes cidades, e sempre encontrei quem me auxiliasse e me acolhesse. Só tenho a agradecer! Mas fico pensando em quantos educadores passaram por essa mesma situação sem saber o que fazer no início da caminhada. Afinal, os cursos de formação não nos dão essa base para o dia a dia em sala de aula, apesar dos estágios que temos que fazer.
Atualmente, como professora alfabetizadora, tenho consciência de meu papel na formação de novos educadores. Por isso, quando encontro um educador iniciante ou recebo um estagiário, sempre os oriento sobre as aulas, compartilho experiências, dou dicas de como lidar com a indisciplina em sala de aula, explico sobre o andamento da escola, sugiro leituras e faço o que mais for preciso para que esse novo profissional seja acolhido e sinta-se como parte da equipe. Na alfabetização, permito que eles participem diretamente de todas as atividades desenvolvidas com os alunos, desde como aplicar uma sondagem diagnóstica até a avaliação final.
Em minha escola, sempre quando recebemos esses alunos de cursos de Pedagogia temos bons resultados para todos. Enquanto nós ganhamos uma ajuda valiosa em sala de aula (sob a nossa supervisão e orientação, é claro), eles se beneficiam com uma formação que os torna mais preparados para começar o trabalho como educador. Aliás, recebi recentemente em minha sala na EE Prof. Laila Galep Sacker, em Sorocaba, interior de São Paulo, duas ótimas estagiárias, a Edjane e a Eliane. Talentosas e muito dedicadas, elas com certeza serão excelentes profissionais.
Infelizmente, ainda há muitos jovens professores que sofrem com esse despreparo, mas o bom é saber que há muitas iniciativas para que essa situação mude. Há universidades fazendo a diferença ao propor parcerias com as escolas, onde seus alunos e futuros professores possam vivenciar por mais tempo e com mais profundidade a vida escolar.
Há quatro anos, participei de uma experiência diferente de estágio. Fui tutora regente e recebi três alunos do Curso de Pedagogia da UAB/UFSCar, para o Estágio Supervisionado de Ensino em uma escola estadual em Salto de Pirapora, também no interior de São Paulo. Meu papel era ser uma “co-formadora” desses alunos, preparando-os para o exercício da docência.
Foi uma experiência diferenciada porque, primeiro, eu fiz um curso de preparação para a tutoria oferecido pela própria universidade, onde pude preparar um plano de atuação para cada estagiário. A tutoria foi acompanhada, orientada e registrada em um ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Além disso, recebi o certificado de “Tutores Regentes dos anos iniciais do Ensino Fundamental”. Entre o curso de preparação inicial e as aulas de regência dos alunos, foram aproximadamente seis meses. Valeu demais!
Deixo como dica outra boa iniciativa, o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid), do Ministério da Educação (MEC). O objetivo do programa é o aperfeiçoamento e a valorização da formação de professores para a Educação Básica. Os alunos de licenciaturas participantes recebem bolsas de iniciação à docência. Isso antecipa o vínculo entre os futuros educadores, os alunos e a escola das redes municipais e estaduais públicas.
Como foi seu início como professor? Você teve algum auxilio? Participou de algum programa diferenciado de formação? Você auxilia jovens professores?