Muitos são os fatores responsáveis pelo surgimento de um verdadeiro mestre, mas um é o mais importante: o aluno. Antes do contato com ele, podemos ser estudantes, intelectuais, conhecedores de conteúdos, pesquisadores etc., mas ainda não somos professores. É ele que desperta em nós o desejo de ensinar – e não apenas nossos sonhos, títulos, concursos ou projetos.
Escola: o melhor lugar para formar o professor |
Eu sempre percebo – e cada um de vocês certamente também – que os estudantes nos fazem melhores quando saímos de uma sala com a sensação de que construímos uma boa aula juntos. Algumas vezes, deixamos uma classe com a certeza de que tudo correu bem e em outra temos a impressão de que nada funcionou, mesmo tendo dado – praticamente – a mesma aula. Por quê? Porque é a turma que está ali na nossa frente que nos constrói. O aluno nos desloca e provoca ao colocar desafios que nenhum professor nos trouxe na faculdade nem na pós-graduação. Depois do contato com jovens questionadores, sentimos que somos melhores do que após enfrentar grupos sonolentos, indiferentes ou cínicos em relação ao nosso trabalho.
Sendo assim, o primeiro lugar que nos permite ser professores e que nos faz nascer como tal é justamente a escola. Estão certos os diretores e os responsáveis pelas políticas públicas que reconhecem isso e reservam na rotina escolar um tempo destinado única e exclusivamente para a formação de professores.
Contudo, não basta apenas reservar um espaço na agenda coletiva. É preciso dar condições ao formador – papel sob responsabilidade do coordenador pedagógico – de colher subsídios com a equipe docente para planejar a formação e avaliar os resultados dessa iniciativa na e para a escola.
Para criar na própria escola um clima de aprendizagem, cabe ao gestor:
– Garantir que durante a formação os professores possam falar sobre as dificuldades relacionadas ao ensino e à aprendizagem enfrentadas na sala de aula para a análise e o debate com os colegas.
– Estimular que as boas soluções sejam apresentadas ao grupo e sirvam de modelo na resolução de situações semelhantes que possam vir a acontecer, dando ao coordenador pedagógico a oportunidade e as condições de revelar a teoria que embasa a prática – afinal, nada mais prático do que uma boa teoria, que explica, faz avançar e articula um fato com outras realidades e outros tempos.
– Usar os conselhos de classe como espaço de formação e não como um lugar de maledicência contra as crianças. Uma vez propus que os alunos assistissem às reuniões dos conselhos e foi um alvoroço entre os docentes, pois muitos achavam que teriam de medir palavras e fazer encaminhamentos ponderados. Claro que isso nem sempre é fácil. Exige formação para tanto. E esta é outra função dos gestores: fazer a formação em serviço… e a serviço do estudante.
– Incentivar o reconhecimento dos esforços dos alunos pela equipe docente, com cuidado para não haver bajulação nem discriminação. Centenas são as boas atitudes que merecem atenção, só nos falta um radar para captá-las – embora ele não nos falte na hora de apontar comportamentos inadequados.
– Trazer convidados de fora que falem sobre temas complementares à formação do professor. Mas nada de ficar no genérico. É preciso verificar quais os problemas que aparecem com frequência entre os docentes e aí, sim, trazer um especialista para tratar do tema.
Esses itens são apenas alguns que podem incentivar os gestores a aproveitar os espaços previstos para reuniões pedagógicas para formar seus professores e – por que não? – formar a si mesmos.
Por: Fernando José de Almeida