Não é fácil ser professor nos dias de hoje. São muitos os obstáculos que enfrentamos em nossa profissão. Eles prejudicam o desenvolvimento do nosso trabalho e, consequentemente, a aprendizagem dos nossos alunos, além de atravancar nossos próprios caminhos na Educação. É preciso persistência e jogo de cintura para resolver os problemas, calma para pontuar e reivindicar ações de apoio e também muita energia, clareza e esperança para não se deixar contaminar por essas dificuldades. Não trago essas questões apenas como reclamação, mas como um desabafo em que ao compartilhar, espero também trazer provocações para buscarmos possíveis soluções.
Como alfabetizadora, escolhi três problemas que venho encontrando ao longo desses anos de docência e que sempre estão presentes em minhas conversas e debates com outros colegas:
Falta de apoio e participação efetiva da família
A falta dessa parceria traz muitos prejuízos ao aprendizado. Alunos sem apoio, sem estímulo e sem acompanhamento dos pais podem apresentar dificuldades na alfabetização. Muitas dessas crianças são faltosas e, muitas vezes, sem justificativas reais. A criança que se ausenta um dia a cada semana escolar, tem sua sequência de aprendizagem rompida e é preciso sempre criar novas possibilidades de reintegrá-las no contexto de aprendizagem da turma e na rotina de atividades.
Outro ponto importante é a educação familiar. Na escola, logicamente exploramos em atividades educativas, as questões em relação à boa convivência, o respeito ao outro, respeito aos espaços coletivos, mas a educação das crianças é responsabilidade dos pais. Mas é preciso que os pais orientem e eduquem seus filhos em relação à falta de limites no convívio coletivo.
Venho fazendo ótimas parcerias com os pais de meus alunos em minha trajetória na alfabetização! Falamos a mesma língua, temos a grande meta de juntos fazemos tudo o que possível para alfabetizar os alunos. Com alguns mantenho contato e amizade há anos. Mas também há aqueles que são mais difíceis, que ainda não entenderam a prioridade da alfabetização. Nesses casos insisto, chamo para conversar, cobro apoio à criança, ao meu trabalho e, às vezes, isso acontece durante todo ano. Mas uma coisa é certa: quando família e escola estão juntas, as chances de sucesso na aprendizagem dos alunos são muito maiores.
Salas de aulas superlotadas
Realmente fica difícil (quase impossível) alfabetizar uma turma com mais de 30 alunos. Pela minha experiência e pelo que dizem os especialistas no assunto, o ideal são turmas bem menores, de cerca de 15 alunos. Mas acredito que dá para se fazer um bom trabalho em uma sala com até 20 alunos. Imagino que talvez seja uma medida para economizar na contratação de profissionais e no uso de espaços, mas nitidamente os resultados são muito prejudiciais à aprendizagem de nossos alunos, sem contar o desgaste físico e mental dos professores, tendo que atender tantos estudantes em pouco espaço e tempo.
Seria bom que pelo menos tivéssemos um professor auxiliar em sala de aula. Conheço secretarias em que o alfabetizador tem sempre um auxiliar. Estagiários de curso de pedagogia também colaboram! É uma excelente troca de saberes, aprendizagens e necessidades mútuas. Mas não esqueçamos: o melhor mesmo são turmas menores e se ainda tiverem auxiliares melhor ainda!
Professores sem apoio pedagógico
Quantas dúvidas os professores encontram em sala de aula sobre a alfabetização dos seus estudantes. São dúvidas sobre como fazer uma avaliação diagnóstica, como desenvolver a rotina, quais são as melhores atividades de leitura e escrita, como desenvolver alunos com dificuldades de aprendizagem, entre tantas outras. Não há como caminhar na aprendizagem das crianças quando os professores se sentem sozinhos e isolados em suas salas de aula. Educação é engajamento de toda a comunidade escolar!
Já passei por essas dúvidas e hoje tenho outras. Tive a sorte de encontrar e trabalhar com coordenadores pedagógicos e gestores que, em sua maioria, me apoiaram de toda a forma. Elas valorizam o trabalho docente, apoiam, orientam, estimulam o estudo e a formação continuada de todos. Mas conheço professores que estão sem apoio nenhum e, para eles, tudo fica mais difícil. Conseguem alfabetizar e desenvolver seu trabalho, porque são profissionais de fibra e vão à luta, mas é uma caminhada com mais pedras no caminho e alguns tombos.
Esses são alguns dos obstáculos que os professores enfrentam todos os dias. Eles são difíceis e desgastantes, mas precisamos enfrentá-los de frente! Precisamos reivindicar apoio. Precisamos também valorizar as coisas boas e positivas que encontramos em nossas escolas, seja um colega que nos ouve ou um compartilhamento de práticas educativas, por exemplo. Afinal, Educação também é resiliência e é possível ser feliz sendo professor!
Mara Mansani
Blog de Alfabetização