As inteligências pessoais “interpessoal e intrapessoal” foram aqui reunidas, pois o desenvolvimento de ambas pode estar estreitamente relacionado dependo da abordagem utilizada.
As inteligências pessoais
No início do século XX, Freud e James representavam movimentos históricos diferentes, tradições filosóficas diferentes e programas diferentes para a psicologia. Freud considerava a saúde como fruto do autoconhecimento e da disposição para confrontar as inevitáveis dores e paradoxos da existência humana. Em contrapartida, James adotara uma forma de psicologia de orientação mais aberta às possibilidades de mudança e crescimento. Segundo ele, “Um homem tem tantos eus sociais quanto há indivíduos que o reconhecem e têm uma imagem dele em sua mente.”
Apesar destas diferenças, os dois autores encontraram um ponto de união na crença na centralidade do indivíduo, ou seja, na convicção de que a psicologia deve ser construída em torno do conceito de pessoa, se modo que contemple sua personalidade, seu crescimento e seu destino. Além disso, ambos os estudiosos consideraram o auto crescimento importante para enfrentar o ambiente pessoal.
Assim, as inteligências pessoais representam o desenvolvimento de dois aspectos da natureza humana. De um lado, há o desenvolvimento dos potenciais internos de uma pessoa, denominado inteligência intrapessoal. Em sua forma mais primitiva, a inteligência intrapessoal equivale a pouco mais do que a capacidade de distinguir um sentimento de prazer de um de dor e, com base nesta discriminação, tornar-se mais envolvido ou retrair-se de uma situação. Em seu nível mais avançado, o conhecimento intrapessoal permite que detectemos e simbolizemos conjuntos de sentimentos altamente complexos e diferenciados. Do outro lado, temos a capacidade do indivíduo de voltar-se para outros indivíduos, denominada inteligência interpessoal. A capacidade central aqui é a de observar e fazer distinções entre outros indivíduos e, em particular, entre seus humores, temperamentos, motivações e intenções.
Sobre as inteligências pessoais pode-se dizer que são muito mais distintivas, menos comparáveis e, até mesmo, não passíveis de serem conhecidas por alguém de uma sociedade estranha. Ressalta-se que estas formas de conhecimento são de grande importância em quase todas as sociedades do mundo. Mas, mesmo assim, a maioria dos estudiosos da cognição tenderam a ignorar estas capacidades. Contudo, mesmo existindo esta omissão por parte dos estudiosos da área, não há dúvidas a respeito do mérito destas inteligências quanto à satisfação dos critérios adotados na presente teoria. Esta afirmação se prova, pois, tanto a inteligência interpessoal, quanto a intrapessoal, demonstram um centro identificável constituído de um padrão característico de desenvolvimento e de uns estados finais especificáveis, assim como, de impressionantes evidências para a representação neurológica e para os padrões discerníveis de falhas.
Pode-se dividir o crescimento do conhecimento pessoal em várias etapas ou estágios. A cada etapa é possível identificar determinadas características importantes para o desenvolvimento da inteligência intrapessoal, bem como outros fatores que provam ser cruciais para o crescimento da inteligência interpessoal. Entretanto, serão tratados aqui apenas os aspectos relacionados com a fase em que o indivíduo alcança um senso de eu maduro. Pode-se identificar duas concepções de maturidade. A primeira, enfatiza um senso do eu relativamente autônomo, no qual observa-se um acento pesado em características intrapessoais, mesmo quando colocada a serviço dos outros. A outra concepção, enfatiza muito mais o papel formativo de outras pessoas no senso do eu e, consequentemente, permite pouco crédito à noção de um eu autônomo. Segundo esta perspectiva, um indivíduo será sempre um conjunto de eus, um grupo de pessoas que perenemente reflete o contexto que por acaso habitam em qualquer momento específico. Este ponto de vista é relativamente saliente nas disciplinas da psicologia social e da sociologia.
Observa-se que parte das discussões entre James e Freud iniciadas no início do século XX permanecem até hoje, marcando os principais elementos que constituem as concepções do senso de eu maduro. Existem ainda outras perspectivas desenvolvidas em outras culturas, as quais admitem que os indivíduos podem ter potencial para crescer de maneira individualista, ou
JAMES, W. Psychology. New York: Fawcet, 1963. P. 169 seja, destituída de um sentimento de comunidade e de virtude abnegada, mas desenvolvendo um sentido de eu autônomo. Outra questão importante, diz respeito à tutelagem do conhecimento pessoal. Verifica-se que muitas vezes através da instrução formal, da literatura, de rituais e de outras formas simbólicas, a cultura ajuda o indivíduo em crescimento a discriminar sobre seus próprios sentimentos ou sobre os sentimentos das outras pessoas em seu meio. Em outros casos, o próprio indivíduo pode, desejoso de possuir mais habilidades na esfera pessoal, buscará ajuda para fazer os tipos adequados de discriminação. A procura por terapias no Ocidente serve como exemplo de esforços neste sentido.
Não se sabe exatamente como a instrução na esfera pessoal deveria idealmente ocorrer. Nem há medidores confiáveis para determinar a extensão na qual o treinamento das inteligências pessoais foi bem-sucedida. Mas, vale ressaltar, que a educação destas emoções e discriminações claramente envolvem um processo cognitivo. Quanto menos uma pessoa entender seus próprios sentimentos, mais será sufocada por eles. Quanto menos a pessoa entender os sentimentos, as respostas e o comportamento dos outros, mais tenderá a interagir inadequadamente com eles e, portanto, falhará ao assegurar seu lugar adequado dentro da comunidade maior. A partir da revisão da família das sete inteligências, pode-se talvez conceituá-las genericamente da seguinte maneira. As formas de inteligência relacionadas a objetos – a espacial, a lógico-matemática, a corporal-cinestésica – estão sujeitas a um tipo de controle. Este controle é exercido pela estrutura e pelas funções dos objetos particulares com os quais os indivíduos entram em contato. Fosse o universo físico diferentemente estruturado, estas inteligências supostamente assumiriam formas diferentes. Nossos modos de inteligência “livres de objeto” – a linguagem e a música – não são modeladas ou mediadas pelo mundo físico, ao contrário, refletem as estruturas de linguagem e de música específicas. Elas podem também refletir feições dos sistemas auditivo e oral, embora a linguagem e a música cada qual podem se desenvolver, pelo menos em alguma medida, na ausência destas modalidades sensoriais. Finalmente, as formas pessoais de inteligência refletem um conjunto de restrições poderosas e rivais: a existência da própria pessoa do indivíduo; a existência de outras pessoas; as apresentações e interpretações dos eus da cultura. Haverá feições universais de qualquer sendo de pessoa ou eu, mas também existirão consideráveis nuanças culturais refletindo uma multidão de fatores históricos e individualizantes.
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