Professor cego e cadeirante inspira alunos com sua história – Professor formado em pedagogia, Osvaldo Fernando Moreira, de 29 anos, foi vítima de uma rara doença degenerativa que lhe tirou a visão e parte dos movimentos das pernas quando era adolescente.
Osvaldo dá aulas para alunos do quinto ano do ensino fundamental em Rio Claro, São Paulo, desde junho. Os alunos dizem que Osvaldo é uma grande fonte de inspiração para eles. “A superação está dentro de cada um”, disse ele ao G1.
Concursado na Escola Municipal Jovelina Morateli, ele diz-se realizado pela profissão ainda quando se graduava em pedagogia, na universidade. Moreira afirma que foi preciso muita dedicação para conseguir o que queria – ser professor, – e que com muito trabalho, conseguiu, sendo o feito que mais admira em si próprio.
“Eu não falo que não consigo, que é impossível fazer algo. Para mim, essa palavra não funciona, não. Eu persisto nas coisas e até fico admirado pelo que faço”, disse.
Síndrome de Devic
Osvaldo nasceu completamente saudável, porém, durante a adolescência foi diagnosticado com a síndrome de Devic (ou neuromielite óptica), uma doença autoimune que afeta o sistema nervoso central.
Em apenas uma semana, perdeu 100% da visão e parte dos movimentos das pernas. Em 2001, quando tinha 12 anos, iniciou tratamento no CHI (Centro de Habilitação Princesa Victoria). Lá, fez amizade com pessoas que enfrentavam dificuldades semelhantes.
Durante o tratamento, aprendeu o sistema de escrita Braille, e pouco tempo depois, foi convidado a dar aulas para crianças cegas ou com baixa visão.
Em 2008, após prestar concurso público, passou a trabalhar oficialmente na unidade.
“Eu ensinava braile, informática adaptada para cegos, adaptava material e orientava professores da rede ensino. Sentia a necessidade cursar pedagogia para oferecer mais qualidade aos alunos”, contou.
Após receber o diploma, Moreira prestou um segundo concurso para professor da rede municipal de ensino e, em maio, teve que se desligar do CHI. “Por ter toda uma história de ajuda e recuperação, foi muito difícil a minha saída”, contou.
Primeiro dia de aula
Receoso em relação ao primeiro dia de aula, o professor lembra que não sabia o que iria encontrar por ali – apesar de não conhecer o ambiente escolar, tampouco os professores, nem saber se as instalações eram adaptadas à sua condição, Osvaldo afirma que a experiência o surpreendeu positivamente.
“As crianças são curiosas, perguntaram por que tinha ficado doente, como uma pessoa cega enxerga, como eu fazia em casa. Contei a minha história e elas ficaram surpresas por eu conseguir fazer tantas coisas. Com isso, foi quebrando aquele gelo. No primeiro dia de aula saí muito feliz pela receptividade dos alunos e da escola”, contou.
A Secretaria Municipal de Educação de Rio Claro investiu em algumas melhorias no prédio escolar ao adicionar adaptações no banheiro e rampas especiais, além de reformas as portas e acessos às salas, deixando-as mais amplas e facilitando a circulação dos estudantes.
“Eles vêm, pegam minha cadeira e levam até o lugar deles. Leem a pergunta, a resposta e dou as orientações”, contou.
A também professora Ana Cristina auxilia o trabalho junto à Osvaldo.
“Quando tem explicação na lousa, eu falo e ela escreve. Ela é como se fosse meus olhos e braços. Discutimos e planejamos o conteúdo aplicado, as crianças têm sorte por terem dois professores”, disse ele.
Independência
Osvaldo conta que morava com seus pais e outros três irmãos até decidir comprar um apartamento há cerca de quatro anos. Desde então, mora sozinho.
Seus pais de início não gostaram nem um pouco da possibilidade do filho ir morar só, mas após algumas conversas, aceitaram a notícia com a condição de que sua mãe cozinharia para ele, além de fazer pessoalmente algumas outras tarefas sensíveis para Osvaldo.
No entanto, o acordo entre mãe e filho não durou muito, já que Moreira aos poucos aprendeu a cozinhar feijão, carne, bolos, tortas e outras receitas sozinho, com o auxílio da internet. Também aprendeu a lavar roupas e arrumar a casa por conta própria.
“Sempre fui ligado à família, porém sempre fez parte da minha personalidade ser mais independente. Apesar disso, nunca estou sozinho, meus pais, irmãos e amigos estão sempre em casa”, contou.
Superação
O professor do quinto ano deposita em Deus toda sua fé e diz que Ele tem um propósito para todas as coisas.
“Talvez se eu não ficasse doente, não iria conseguir mostrar para as pessoas que há possibilidade e que não é preciso só reclamar dos problemas. Com a minha história, acabo transformando a vida de algumas pessoas”, disse.L
Segundo Osvaldo, superação é “uma capacidade do ser humano, basta querer fazer e se esforçar”. Ele diz procura inspirar em seus alunos a “ideia de que é preciso correr atrás dos seus objetivos independentemente da limitação que se tem.”
“Aceito a minha condição de ter duas deficiências, mas eu não me conformo porque senão não vou conseguir viver em paz, ser feliz. A ciência está avançada, a gente não sabe o dia de amanhã. Do mesmo jeito que fiquei doente posso recuperar. Eu acho que lamentar e reclamar de um problema não vai fazer com que consiga resolvê-lo, As pessoas têm que tem ter mais ação e força de vontade para seguir frente”, concluiu.
Fonte: G1
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