Professora monta escola dentro de bar e alfabetiza moradores de vila rural em Gavião Peixoto – Há 7 anos, Ana Cláudia Peleteiro deixou a família em Araraquara, comprou o bar e decidiu ensinar quem precisa todos os dias. ‘Eu tenho o maior prazer de fazer o que eu faço’, afirma.
Uma professora de 48 anos se tornou exemplo de ajuda ao próximo ao montar uma escola dentro de um bar em Gavião Peixoto (SP). Há 7 anos, Ana Cláudia Peleteiro deixou a família em Araraquara, comprou o bar e agora se dedica a alfabetizar os moradores da vila rural Nova Paulicéia. “A minha alma se acalma aqui”, disse.
A vila tem apenas 200 habitantes e fica em uma antiga estação de trem. Em 1968 a linha da Cia Douradense foi desativada, mas o prédio continuou de pé como um bar.
“Eu dava aula em três escolas em Araraquara há 20 anos, aí eu resolvi dar uma parada, fui para um rancho em Borborema, conheci o dono desse bar, ele me ofereceu para comprar. Eu vi na terça-feira, na sexta eu já estava aqui, nem dormi na semana porque eu queria vir para esse lugar. Me apaixonei pela vila”, disse.
Dificuldades para tirar CNH
Formada em pedagogia, Ana Cláudia sempre teve o sonho de ensinar as pessoas. Na rotina do bar, ela descobriu que dois fregueses estavam com dificuldades para tirar a carteira de habilitação pois não eram alfabetizados.
“Porque precisa da leitura para fazer a prova e a gente combinou de se encontrar a noite para ajudar eles. Outras pessoas ficaram sabendo que a gente estava fazendo isso e começaram a me procurar para a gente fazer um grupinho de alfabetização. Ai um foi falando para o outro”, explicou.
Escola em bar
Como a escola mais próxima fica a 10 km de distância, ela decidiu usar a experiência de professora para compartilhar conhecimento e, agora, durante a noite fregueses do bar viram alunos.
Ela montou uma lousa e espalhou algumas carteiras. Todos os dias ela ensina de graça para quem não teve a oportunidade de estudar.
O produtor rural Bento Antônio Luís, de 59 anos, conseguiu tirar a CNH após aprender com a professora.
“Se não fosse estudar e não tivesse a carta eu iria perder o serviço. Vi que ia precisar e fui atrás. É bom demais”, disse.
O aposentado Antônio Messias da Silva, de 80 anos, também frequenta as aulas. “Eu só sabia escrever o nome e ler alguma coisa. Tem que aprender, vivendo e aprendendo. [Não falta vontade], o que falta é dinheiro”, brincou.
Orgulho da família
Como a família de Ana Cláudia já estava estabilizada com trabalhos e estudos em Araraquara, ela decidiu ir sozinha.
“Minha filha pergunta: ‘mãe quando você vai voltar para a realidade?’, mas eu estou feliz aqui, eles sabem disso, eu tenho o maior prazer de fazer o que eu faço”, disse.
No início, a família não gostou muito da mudança, mas agora ela é motivo de orgulho, segundo a irmã Adriana Cristina Peleteiro.
Ela é uma sonhadora que não vive na realidade. Eu admiro demais minha irmã, porque ela tem a coragem que eu jamais vou ter na vida. Jogar tudo para o alto, dar valor mais para essas coisas, do ajudar, de querer ver todo mundo unido. Ela não está preocupada se o cabelo está despenteado, se a roupa está suja, ela não se importa mais com isso. Ela é livre”, disse emocionada.