Fundamentos do pensamento reichiano e suas contribuições na compreensão infantil – Em suas pesquisas pioneiras, Wilhelm Reich, um dos principais discípulos de Freud, descobriu que os distúrbios psíquicos e emocionais estão sempre associados a alterações corporais que podem ocasionar tensões musculares crônicas ou flacidez muscular, o que chamou de “couraça”.
Essas lesões eram acompanhadas de alterações respiratórias, circulatórias, sensoriais, digestivas e de outros órgãos resultantes de desequilíbrios nos nervos simpáticos e parassimpáticos do sistema nervoso. Estas descobertas passaram a ser a base de compreensão das doenças psicossomáticas.
A formação da personalidade ocorre durante o desenvolvimento da criança pela progressiva compreensão do mundo que a cerca, de seu relacionamento com as pessoas mais significativas de sua convivência, e pelo aprendizado da capacidade de interagir com o mundo através do comando voluntário de sua musculatura.
Traumas emocionais e situações de privação e sofrimento afetivo crônico, ficam associados a alterações psicomotoras que afetam os músculos envolvidos nessas funções. Pesquisando estes processos, Reich fez um mapeamento detalhado e preciso da relação de cada músculo com as funções psíquicas e emocionais de cada fase do desenvolvimento.
Reich chegou a descoberta de que o nosso organismo abriga a denominada bioenergia, que circula pelo corpo impulsionada pelas nossas funções emocionais e fisiológicas. Ela corresponde à energia Chi ou Qui descrita pela medicina chinesa, mas Reich chegou a esta descoberta através do desenvolvimento de outros métodos de atuação terapêutica.
A couraça, que resulta na contenção de impulsos e emoções, promove também um bloqueio nos fluxos dessa energia, fazendo surgir no organismo regiões com deficiência ou excesso de energia estagnada, que predispõem ao surgimento de doenças. Os trabalhos corporais promovem a regularização destes fluxos e, consequentemente, restaura os nossos níveis plenos de saúde.
Reich desenvolveu diferentes métodos de intervenção corporal, incluindo a respiração profunda, movimentos oculares, sonorização, expressão facial e respiratória de emoções, movimentos dos membros e diversos outros. Descobriu que a dissolução destes bloqueios corporais gerava evocação de memórias reprimidas, reações emocionais e respostas vegetativas associadas ao sistema nervoso simpático e parassimpático. Concluiu então que estas alterações eram o componente corporal dos mecanismos de defesa do ego.
Seu interesse em compreender as origens familiares e sociais das doenças mentais e de buscar métodos de prevenção, o levou a desenvolver um trabalho social junto a juventude operária alemã, que envolvia grupos de discussão sobre relacionamento humano, sexualidade, controle da natalidade, relação conjugal, gestação, parto e, principalmente, educação infantil. Esta sua importante atuação social lhe custou perseguições políticas durante o período da Alemanha nazista. Em 1934, para não ser preso, Reich precisou fugir da Alemanha afastando-se da sua associação e refugiando-se em Oslo na Noruega.