Do ponto de vista histórico, a psicologia da criança pode ser divida em três principais períodos de desenvolvimento: período filosófico, período descritivo e período experimental.
O período filosófico foi estabelecido porque os filósofos foram os primeiros a se interessarem pelo estudo da saúde mental infantil. Eles procuraram estudar a “alma da criança”, para saber se as ideias eram inatas ou adquiridas na interação com o mundo, sendo possível citar Locke, Vives, Montaigne e Comênio como pensadores que estudaram o caráter espiritual das relações infantis.
Seria preciso, então, distinguir os enfoques filosóficos da elaboração científica que foi realizada por Piaget. A sua epistemologia genética teria dado cientificidade à psicologia da criança. O período descritivo foi iniciado por Pestalozzi e remonta a meados de 1770, quando ele iniciou seu diário com base na observação do comportamento de seu filho, se ocupando da “evolução psíquica da criança”.
A respeito do período experimental, com o interesse crescente da psicologia pelos problemas educacionais, começou haver a necessidade de se inserir mais profundamente nas questões relacionadas a natureza psíquica da infância. Esse seria o período dos testes psicológicos relacionados aos estudos sobre a criança que começaram a surgir, em meados de 1890, nos Estados Unidos.
Em contrapartida, a saúde mental infantil no Brasil, enquanto campo de intervenção, cuidados e estudos sobre a criança, não teve nada sistematizado até o século XIX, quando surgiram as primeiras teses em psicologia e em psiquiatria, e quando foi criado o primeiro hospital psiquiátrico brasileiro – o Hospício D. Pedro II, em 1852 – seguido de vários outros.
Naquele contexto patriarcal, o castigo físico era prática corrente na educação das crianças: a palmatória e a vara de marmelo eram companheiras zelosas dos bons modos; e quanto mais cruel era a família com a criança, mais cruel era a criança com os animais e com os escravos, seus únicos companheiros durante as suas “brincadeiras”.
Em detrimento disso, os sofrimentos impostos às crianças faziam com que elas desenvolvessem problemas emocionais. A nossa literatura histórica relata que muitos meninos de formação patriarcal que foram alunos em colégios católicos sofriam de gagueira. Tanto a educação da casa-grande quanto a do colégio religioso se empenhavam em “quebrar a individualidade da criança, visando adultos passivos e subservientes.
Somente a partir do século XIX é que começa a mudar a forma de se conceber a criança e suas necessidades. Demorou até que os higienistas percebessem que todo o sistema familiar herdado da Colônia tinha sido montado para satisfazer as exigências dos adultos. Às crianças, tratadas como alegorias deste sistema, restavam as sobras do banquete. Foi contra esta situação que eles se indignaram, vendo claramente que o inimigo principal era o pai, pivô de toda a organização familiar.
A criança precisava ser protegida, cuidada, amparada e educada, daí a necessidade de propagar os ideais que a preservariam dos males e a poupariam da morte prematura.
É a partir da segunda metade do século XIX que surgem os primeiros jardins de infância (no Rio de Janeiro em 1875 e em São Paulo, em 1877) e as primeiras creches (no Rio em 1889).
A partir desta evolução gradativa nas concepções, nas primeiras décadas do século XX a preocupação com a criança saiu da Academia e foi concretizada por iniciativas precursoras de instituições que se voltaram especificamente para os cuidados com a infância, como o Instituto de Proteção e Assistência à Infância, que era voltado para os cuidados materno-infantis com a atuação de médicos de várias especialidades, organizada sob a forma de associação, que congregava em torno de 600 membros associados no momento de sua instalação.
Dinâmico e realizador, seu fundador Arthur Moncorvo Filho, em seus discursos, falava do descaso das autoridades para com a infância no Brasil, fazia apelos ao governo no sentido de se criar instrumentos de assistência infantil e defendia uma legislação direcionada aos cuidados da criança. Foi um dos grandes precursores da saúde mental infantil no país.
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