O processo psicoterapêutico infantil pode ser compreendido como uma sequência lógica e organizada de procedimentos psicológicos que produzem mudanças comportamentais graduais na criança, as quais ao longo do curso da terapia vão se alterando e subsidiando a implementação de novos procedimentos por parte do terapeuta, sempre com vistas à meta final de melhora do paciente. Se quem organiza e programa a aplicação de procedimentos clínicos é o terapeuta, então o processo terapêutico pode ser entendido a partir da descrição das suas ações diante das mudanças de seu paciente.
Neri (1987) define o termo de forma similar ao afirmar que “processo” implica na tentativa do terapeuta em controlar as variáveis que favorecem, por um lado, a extinção de respostas inapropriadas do indivíduo e, por outro, a aquisição de outras que o levem a uma atuação adequada em seu ambiente, reduzindo sua exposição às consequências negativas, e aumentando ao máximo a probabilidade de expor-se a situações agradáveis.
Essa autora deixa implícito em sua definição que, ao longo do processo, são as tentativas do terapeuta que vão se ajustando à criança, conforme as mudanças vão ocorrendo.
Sistematizar o processo terapêutico é importante para o sucesso da psicoterapia, pois possibilita saber com maior grau de certeza, como e quando avançar na intervenção dadas as respostas obtidas, e assim otimizar a eficácia. Ao se tratar do trabalho com crianças, a estruturação e sistematização de estratégias ao longo do processo ganha status especial, pois requerem habilidades diferenciadas de manejo e condução clínica, tanto no momento de lidar com relatos metafóricos de problemas, quanto em relação ao uso de estratégias lúdicas para o treino indireto de novos comportamentos.
Quando o paciente é uma criança, é preciso considerar que a condução do processo exigirá habilidades específicas, as quais envolvem lidar com um paciente cuja compreensão do problema e do ambiente pode sofrer ampla variação, dada a idade e características de seu desenvolvimento físico e psicológico.
Sessões com os pais
As especificidades da terapia infantil se iniciam já na avaliação diagnóstica. É pacificado o entendimento sob a necessidade de variar as fontes e os métodos de coletar informações quando se trabalha com crianças, os quais devem abranger entrevista com os pais, observação da criança em casa e na escola, coleta de dados nas sessões através de desenhos, redações, inventários e, quando necessário, obtenção de dados com outros profissionais que acompanham a criança (pediatra, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, etc).
Os passos iniciais do processo terapêutico infantil incluem a entrevista inicial com os pais ou família e a entrevista inicial com a criança. O terapeuta deve, logo na primeira sessão, se apresentar, explicar sobre sua profissão, buscar entender qual a representação que ela tem da terapia, deixar claro quem a contratou e qual a queixa apresentada pelos pais ou responsáveis. Deve ainda esclarecer sobre o sigilo profissional, expondo seus direitos quanto às informações advindas das sessões com os pais.
Iniciada a terapia, o psicoterapeuta terá como tarefa principal abordar a criança sobre o seu problema e promover uma análise conjunta das variáveis que o mantêm. Posteriormente, realizará com o paciente o levantamento de alternativas comportamentais e treinará com ele novas soluções para os seus problemas. É importante ressaltar a necessidade de se ter conhecimento do nível de desenvolvimento cognitivo da criança para que as estratégias empregadas sejam compatíveis com cada característica pessoal. Diversos procedimentos poderão ser introduzidos isoladamente ou em conjunto, conforme sua adequação ao alcance dos objetivos propostos.
Quanto à frequência das sessões, geralmente as crianças são atendidas uma vez por semana, em sessões de 50 minutos. Porém, em casos que envolvem problemas mais sérios ou situações de crise, elas podem iniciar o processo com a frequência de duas vezes por semana. As sessões eventualmente podem ser conjuntas. Os pais podem ser atendidos em dupla com os filhos para diagnóstico da interação ou mesmo para ensino de novas habilidades de convivência.
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Visita domiciliar e visita escolar
Refletir sobre a visita domiciliar e a visita escolar, procedimentos que fazem parte do psicodiagnóstico infantil interventivo na abordagem do estudo da experiência subjetiva da consciência da criança é fundamental. Esse processo investigativo, como se concebia anteriormente, traz a possibilidade de intervenção.
No psicodiagnóstico interventivo estão simultaneamente em ação os processos avaliativo e terapêutico. As intervenções se caracterizam por propostas devolutivas ao longo do processo, acerca do mundo interno da criança. São assinalamentos, pontuações e clarificações que permitem a ela buscar novos significados para suas experiências, se apropriar de algo sobre si mesmo e ressignificar suas experiências anteriores. Caracteriza-se por ser uma modalidade de atendimento que conta com a participação ativa dos pais, da criança e do psicólogo, que compartilha de suas impressões, percepções e experiências a fim de promover uma nova compreensão acerca das experiências vividas.
Dessa forma, é possível abrir possibilidades para que diminua o sofrimento psíquico da criança. Durante o diagnóstico, a visita domiciliar e a visita escolar são recursos fundamentais. Essas visitas são realizadas somente se houver o consentimento da criança e de sua família, assim como autorização da direção da escola, sendo agendada previamente. Nesse encontro, procura-se obter maior compreensão da criança no ambiente escolar e também compreender o olhar da escola em relação à criança.
A visita domiciliar é agendada previamente. O espaço da casa nos auxilia a compreender a família em seu mundo. Esses dois recursos têm por objetivo compreender a criança em relação às circunstâncias em que vive e revelam aspectos ao psicólogo que, muitas vezes, não seriam percebidos na sessão com a criança ou com os pais e familiares. Podem, ainda, ampliar a compreensão do psicólogo a respeito da criança e dos pais e, ainda, ser um elemento facilitador para o reconhecimento das potencialidades e singularidades de cada contexto, já que não existe fórmula mágica a ser aplicada de maneira milagrosa.
Quando procedemos à investigação clínica no psicodiagnóstico é importante não perdermos de vista a queixa inicial que nos foi apresentada e buscarmos compreendê-la conjuntamente com o paciente e sua família, de forma que faça sentido para todos, possibilitando a ampliação da compreensão acerca da queixa inicial.
Tanto o recurso da visita escolar quanto a domiciliar têm importância fundamental dentro do psicodiagnóstico, pois contribuem para que novas perspectivas de compreensão possam emergir e para que se construam outros olhares e significados acerca do paciente, buscando transcender aquelas concepções cristalizadas pelo convívio diário.
Sendo assim, esse recurso pode contribuir para que novos significados e possibilidades sejam descobertos, desvelando-se um espaço de interlocução. Por melhores que sejam as propostas para atendimento de crianças, elas devem considerar quem dirige que tipo de procedimento, para que tipo de indivíduo ou família, com que tipo de problema, em que contexto, em prol do bem estar da criança