Giovanna Dias, de 19 anos, alcançou a nota máxima na última edição da prova, sete anos depois de Ana Olívia, sua irmã, também ter atingido o tão sonhado ‘mil’.
Sócrates já era um jogador consagrado (por muitos motivos) quando Raí, um de seus irmãos mais novos, arriscou seguir a mesma carreira e, superando todas as desconfianças (não eram poucas), tornou-se uma das principais estrelas nos gramados brasileiros. Substitua agora futebol por Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e você terá uma ideia do que se passou com duas irmãs do Recife.
Giovanna Dias, de 19 anos, entrou em campo sete anos depois de Ana Olívia. Trazia sobre si o peso da pressão de uma nota mil conquistada pela mais velha na redação da prova em 2014. Pois o raio caiu duas vezes no mesmo lugar, sim. A caçula não se intimidou: fez jus ao histórico familiar e também tirou mil na dissertação do Enem 2021.
“Assim que consegui acessar meu boletim, fui acordar a Ana Olívia. Ela acabou de se formar em medicina [aos 25 anos] e está trabalhando muito; tinha ido dormir no meio daquela confusão da espera pelas notas”, conta Giovanna. “Quando contei do ‘mil’, ela ficou em choque e me abraçou muito!”
As duas querem continuar jogando no mesmo time.
“Também pretendo fazer medicina na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)”, diz. “Eu não tinha esse sonho, até ver a Ana Olívia no internato, nos encontros com os pacientes, tão inserida no sistema de saúde… Acompanhar tudo tão de perto despertou meu interesse.”
O próximo passo é, na semana que vem, inscrever-se no Sistema de Seleção Unificada (Sisu). Como Giovanna estudou desde o 6º ano na escola de aplicação da UFPE, poderá se cadastrar na modalidade de cotas para egressos da rede pública.
“Fiz a prova de seleção e fui aprovada no colégio da federal em 2014. Isso foi fundamental para os meus resultados no Enem, porque recebi uma base de conhecimentos muito boa. Tenho consciência de que nem todo mundo parte desse ponto”, conta.
Estudos: foco no repertório cultural
Giovanna terminou o ensino médio em dezembro de 2020. No ano seguinte, dedicou-se exclusivamente aos estudos para o Enem — continuou com aulas de redação e ainda se matriculou em um cursinho preparatório para o exame.
“Tentei apostar mais no lado prático: priorizei exercícios, simulados e treinos de textos”, diz. “Fui ganhando confiança para montar a estrutura da dissertação, aí passei a focar no meu repertório cultural.”
Na redação do Enem, uma das competências exigidas do candidato é fazer citações a estudos científicos, notícias, filósofos, filmes, livros e séries, por exemplo.
“Quando vi o tema de 2021 [‘invisibilidade e registro civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil’], já decidi quais seriam as minhas referências. Na introdução, falei do quadro ‘Retirantes’, de Candido Portinari. No desenvolvimento, citei os historiadores José Murilo de Carvalho e Florestan Fernandes, e mencionei um dado sobre desigualdade”, relata.
Depois de entregar a prova, Giovanna optou por nem encostar mais na folha de rascunho da redação. Ela temia encontrar algum erro ou descobrir que seu texto estava insatisfatório.
“Fiquei muito nervosa. Ontem, até demorei para acessar as notas do Enem, porque deu medo de não ter conseguido o resultado que eu esperava. Quando vi o ‘mil’, fiquei em choque. Agora, estou esperançosa [de entrar na faculdade]”, diz.