A presidente da ONG Todos pela Educação, Priscila Cruz, defendeu, em entrevista ao jornal O Globo, que se exija que todos sejam vacinados contra a covid-19 para um retorno seguro às aulas e avaliou que a pandemia causou um atraso de cerca de três anos na aprendizagem.
Conforme levantamento feito pelo UOL no mês passado, as escolas da rede pública de ao menos seis capitais decidiram incluir o comprovante de vacinação contra a covid-19 nos documentos obrigatórios para a matrícula de crianças de 5 a 11 anos, em meio à nova escalada de casos da doença causada pela chegada da variante ômicron. Entretanto, a falta de imunização não impedirá os alunos de estudarem.
As escolas deveriam constranger os pais e exigir os certificados. O parágrafo primeiro do artigo 14 do Estatuto da Criança e do Adolescente prevê que é obrigatória a vacinação nos casos recomendados pelas autoridades sanitárias. Em caso de não-notificação a escola poderá ser denunciada ao Conselho Tutelar.
Priscila Cruz, presidente do Todos pela Educação …
Ela lembrou que uma súmula do STF (Supremo Tribunal Federal) definiu em dezembro do ano passado que os pais não podem deixar de vacinar seus filhos e alertou para o risco de crianças vacinadas se afastarem das que não foram.
Segundo Priscila, a posição da ONG sempre foi em defesa pela aula presencial. No entanto, devido ao atraso na vacinação das crianças, ela disse achar admissível que haja um adiamento curto, de uma ou duas semanas, no retorno às salas de aula.
Para ela, os prefeitos deveriam fazer campanhas de conscientização das crianças e do pais em relação à vacinação.
“Como a gente tem um governo federal que tem uma capacidade de comunicação pelas vias oficiais ou não, eles têm a capacidade de chegar à população com mensagens antivacina, que deixam famílias inseguras. É muito fundamental que os gestores que se pautam pela Ciência façam a contracampanha com tranquilidade. Sobretudo para as crianças. Elas precisam se sentir seguras para a reabertura das aulas presenciais, para que sua cognição, sua capacidade de aprendizado, não sejam prejudicadas.”
Estrago da pandemia na educação foi ‘imenso’
Questionada sobre o tamanho do estrago provocado pela pandemia na educação, Priscila respondeu que ele foi “imenso” e atingiu com mais intensidade as crianças mais pobres.
“Mesmo que as aulas remotas tivessem chegado todos os dias a todas as crianças do país, essas aulas não têm capacidade de garantir o aprendizado. Nenhuma aula remota substitui uma com um professor na escola, ali é onde a troca e o vínculo entre aluno e professor acontece. Nós temos um retrocesso de três anos de aprendizagem”, avaliou.
O número de matrículas na educação infantil registrou queda de 7,3% entre os anos de 2019 e 2021. Segundo informações da primeira etapa do Censo Escolar 2021 divulgadas pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) ontem, nesse período, 653.499 crianças de até 5 anos saíram da escola.
“Na alfabetização, chegamos a 75% das crianças não alfabetizadas. Teve um crescimento muito grande na alfabetização e uma evasão que ficou muito acentuada, porque foram dois anos de afastamento desse aluno da escola, fez com que muitos jovens passassem a trabalhar, para ajudar a família”, destacou Priscila.