O estudante Ageu Salgado dos Santos, 21, morador do município de Tomé-Açu (PA) quase não acreditou quando viu seu nome no listão dos aprovados da Universidade Federal do Pará. Ele garantiu vaga no curso de medicina estudando sozinho em casa usando apenas a internet. Filho de um gari e de uma diarista, ele é o primeiro integrante dos dois lados da família a entrar na universidade.
“Quando minha irmã me avisou, não acreditei. Já estava desesperançoso, porque a nota de corte é muito alta, mas consegui. Foi uma emoção indescritível”, comemora.
Filho do gari Messias dos Santos, 53, e da diarista Maria dos Santos 49, ele tem três irmãos, de 24, 22 e 18 anos, que ainda não entraram no ensino superior. Os pais consideram a aprovação dele um incentivo para os irmãos.
“Valeu muito a pena todo o esforço dele em não desistir daquilo que ele queria de verdade. A gente espera que isso incentive os irmãos a seguir os passos dele”, diz o pai, orgulhoso.
Ageu não teve nenhum acompanhamento durante a preparação para o exame. A única fonte de conteúdo e companhia foram a Internet, acessada através do celular e de um Tablet, pois ele não possui um computador em casa.
Estudei através de plataformas gratuitas específicas e só paguei por um curso. Sabia que os cursinhos eram muito caros. Teria que pagar um valor todo mês, uma despesa que não teria condições de arcar. Mesmo pagando esse curso, foi só uma vez. Por isso preferi a Internet.
Múltiplas aprovações
Essa não foi a única vez que Ageu conseguiu uma vaga na universidade. É a quarta aprovação. Em todas, a preparação foi a mesma. Desde que concluiu o ensino médio, em 2018, nunca frequentou cursinho preparatório.
Antes de medicina, Ageu foi aprovado para engenharia agrícola na Universidade Federal Rural da Amazônia, em 2019; enfermagem na UFPA, em 2020; e direito na USP, no ano passado. Ainda chegou a frequentar, por uma ano e meio, a faculdade de engenharia, e nos demais, nem se matriculou porque o sonho era apenas um: ser médico. Ideia que só foi reforçada pela pandemia e pelo susto provocado pela avó, Luiza Santos, 82.
A medicina sempre me chamou atenção. Sempre me senti impotente de não poder ajudar alguém que esteja doente. Minha avó teve covid-19 esse mês e chegou a ficar internada uma semana. Hoje ela está se recuperando em casa, mas quando aconteceu ficamos assustados. Eu olhava pra ela e me sentia impotente por não poder ajudar.
Mesmo com todas as dificuldades, Ageu nunca desistiu do sonho de ser médico e aconselha quem esteja pensando em entrar na faculdade, mesmo que seja em um curso com maior concorrência, que se dedique ao seu sonho.
Não entre em outro curso que não seja o seu sonho. Eu fiz isso quando entrei no primeiro. A faculdade exige muito, inclusive do nosso psicológico. Então se não é o que você quer torna tudo mais difícil. Eu ia desanimado para as aulas. Persista até conseguir o que você quer, pois no final vai valer a pena.
Fonte: https://educacao.uol.com.br/