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Jovem autista de 18 anos é aprovado em medicina após simular vestibular no próprio quarto em SP

Arthur sempre sonhou em ser médico por ter encontrado, ao longo da infância, psiquiatras que ‘não estão preparados para lidar com pessoas autistas’

Um jovem de 18 anos, diagnosticado com autismo e morador de Praia Grande, no litoral de São Paulo, foi aprovado no vestibular de medicina de uma universidade de Guarujá, também no litoral paulista. Ao g1, Arthur Ataide Ferreira Garcia contou neste domingo (20) que sempre sonhou em ser médico e que pretende ingressar na profissão para “tornar mais acessível para as pessoas autistas o direito de elas receberem seu diagnóstico, que é o que nos garante os nossos direitos”.

Arthur passou a infância indo a consultórios de médicos que não conseguiam diagnosticá-lo com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Com dificuldades de atenção e no aprendizado na escola, ele e seu irmão mais novo só receberam o diagnóstico como autistas quando Arthur já estava com nove anos. Ele conta que, desde o Ensino Fundamental, estudava sete horas por dia, “para compensar as dificuldades do autismo”, diz.

“Uma coisa que eu percebi é que a psiquiatria tem muitos profissionais que não estão preparados para lidar com pessoas autistas. Alguns têm visão uma preconceituosa e estigmatizada. Isso fez com que eu percebesse que alguém precisa mudar isso. Alguém precisa tornar mais acessível para as pessoas autistas o direito de elas receberem seu diagnóstico. É o diagnóstico que nos garante nossos direitos às terapias, às plataformas e a medidas de inclusão, que nos dão o direito de reivindicar ferramentas de acessibilidade para que a gente possa frequenta qualquer tipo de meio”, relata.

Para Arthur, ainda faltam esforços do restante do mundo para integrar todas as pessoas à sociedade. “Eu quero ser um psiquiatra para ser alguém que vai entender as pessoas autistas e para explicar para pais e familiares a importância de se esforçar para entendê-los também. É difícil fazer parte de um grupo que, por ser diferente da maior parte das pessoas, não é compreendido. Eu quero ser uma figura que oferece compreensão. Muito do preconceito que as pessoas têm é porque elas não entendem as nossas diferenças”, conta.

Vestibular

Ao longo da infância e adolescência, Arthur afirma que ouvia que não seria capaz de realizar o sonho de ser médico. Além disso, ele sabia que vestibulares muitas vezes não são um sistema que pensa na inclusão. “As perguntas dependem muito de concentração, às vezes não são diretas. Fora as sobrecargas sensoriais que você é exposto no dia da prova, como a intensidade da luz da sala, o barulho de fora do prédio. Mas fui estudando e tentando simular a experiência do vestibular no meu quarto, para me adaptar um pouco melhor”, relata.

“Quando vi o resultado, até achei que estava errado. Mas depois de um tempo, vi que fazia sentido. Era o resultado de todo esforço que tive até aqui. Fiquei eufórico, contei para os meus pais. Um dos momentos que mais me senti realizado. Tenho potencial para ser psiquiatra e mudar essa área por dentro”, diz o jovem.

Segundo ele, a aprovação no curso de medicina no campus Guarujá da Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp) já inspira o irmão três anos mais novo. “Se eu consegui, ele também conseguirá. Ele está super confiante agora, se preparando para o vestibular também”, afirma.

As aulas já tiveram início nesta semana e agora Arthur tenta conseguir uma bolsa para arcar com algumas despesas, já que o campus não fica no município onde mora e a universidade é particular.

Inspiração

Acostumado a dar palestras e a organizar eventos para a conscientização sobre o Transtorno do Espectro Autista, o jovem tem planos para elaborar mais ações para contribuir com as mudanças sociais e encontra inspiração no apresentador Marcos Mion, cujo diagnóstico do filho Romeo foi tornado público em 2014. “Sonho em ter um projeto de inclusão junto com ele”, finaliza.

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