Keyla Jesus Sacramento tem 19 anos e deve ser a primeira médica da família dela. Moradora de Salvador, ela quer conhecer a área da cirurgia cardiovascular e pesquisar sobre a saúde da população negra.
O primeiro passo para a realização do sonho de Keyla Jesus Sacramento já foi dado. A estudante de 19 anos foi aprovada em 1° lugar no curso de medicina da Universidade Federal da Bahia (Ufba) .
“Parece surreal, está todo mundo [família e amigos] assimilando o que está acontecendo, porque vou ser a primeira médica da minha família”, diz
Moradora de Salvador, Keyla concluiu o ensino médio em 2020 e se preparou durante um ano, em um curso pré-vestibular, até alcançar o objetivo dela.
“É uma responsabilidade muito grande, é um peso muito grande, mas eu estou tão feliz de, finalmente, está ocupando esse espaço”
“Eu vou viver esse sonho, que eu trabalhei tanto, estudei tanto para entrar e vou levar a minha vida em caminhos de construção para uma vida melhor”, destaca.
Keyla pretende fazer a medicina clínica e conhecer a área de cirurgias cardiovasculares, além de ser uma médica pesquisadora com foco na saúde da população negra e na crise da violência obstétrica, principalmente em referência as mulheres negras.
“Eu acho que, no Brasil, a gente precisa de mais incentivo à pesquisa e a gente precisa valorizar a produção científica das nossas universidades públicas”, opina.
Antes desse sonho, de ser médica, a estudante revela que cogitou cursar direito ou contabilidade.
“Quando entrei no ensino médio eu sabia que eu queria uma profissão que me possibilitasse fazer diferença no mundo, que realmente conseguisse ter um impacto de ajudar as pessoas, alinhada com os meus valores e meus propósitos”, conta Keyla ao g1.
O importante para a jovem era ter o estudo como base para ingressar na vida academica e profissional, mas o segundo passo do planejamento de Keyla era conseguir a aprovação em uma faculdade pública.
“Eu queria fazer uma faculdade muito boa, pública que eu pudesse fazer projetos de pesquisa, iniciação científica, que eu pudesse realmente explorar todas as possibilidades que a universidade pode me oferecer”, afirmou.
A rotina de estudos para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) não tinha uma programação de horas por dia para o estudo. Keyla tinha metas diárias, que eram alcançadas de acordo com a produtividade dela.
“A gente fica muito preso nesse momento super tradicional de estudo, mas já está cientificamente comprovado que metodologias ativas de estudo são mais eficazes para ajudar a fixação de conteúdos e na aprendizagem dos alunos”, contou a estudante.
Keyla então lia o conteúdo antes dele ser passado pelo professor, anotava os principais tópicos e tirava dúvidas, além de responder simulados.
A baiana encarava uma rotina considerada pesada para muitos, acordando sempre às 5h (uma das coisas que ela mais gosta de fazer). Ela considera que permaneceu focada nos estudos durante boa parte do dia, quando se sentia produtiva.
Mas o esforço não fez com que Keyla deixasse a vida social de lado. A prioridade dela, durante 2021, foi a família.
“A minha família era uma prioridade na minha vida, aniversário de pessoas que realmente importam para mim, eu fazia questão de comparecer. Mesmo que eu precisasse estudar um pouco mais durante a semana para estar com o final de semana livre”, relatou.
O que ela não conseguia era curtir um final de semana inteiro com os amigos e deixar os estudos totamente de lado.
“Não tinha condições, porque eu tinha simulado todo sábado de manhã e tinha que estudar. Então eu tentava sair só um dia, mas sempre não dava”, contou.
Keyla também buscava momentos de lazer durante a semana, tudo em prol da boa e essencial saúde mental. Sempre que podia ia ver o nascer do sol com a mãe, na praia de Stella Maris. No final de semana, o “rolê” era o passeio de bicicleta pela orla.
“Eu também priorizava muito a atividade física. Fazia academia de segunda a sábado”.
Motivação
Motivada, Keyla sempre tentou ser otimista com os próprios planos. Para isso, até cartinha para ela mesma, para não desistir e confortá-la quando o desanimo ousasse aparecer, a jovem fez.
“Quando eu estava nervosa, eu sempre lia a carta que eu escrevi para mim mesma. Era uma forma de eu lembrar os meus objetivos e porque eu me dedicava tanto para isso”, disse.
Em alguns momentos, Keyla conta que precisou lidar com momentos de nervosismo e apreensão. Contudo, o apoio da família foi imprescindível para ela não desistir.
“Foi uma vitória dos meus pais e meu irmão também. Quando eu puxava meus cabelos, falava que não queria mais estudar, eles me davam colo, me chamavam para beber uma água de coco e relaxar”, lembra a estudante.
Outra coisa que ajudou bastante Keyla foi conhecer o ciclo menstrual feminino. Esse conhecimento fez com que ela entendesse que, em determinadas partes do mês, é normal todas as mulheres terem diferentes níveis de produtividade.
“Eu entendi os meus momentos e foi melhor para o estudo. Me permito sentir a dor e depois calma, agora vamos motivar para conseguir melhores resultados”.
Futuro
É com esse pensamento, de um futuro promissor, que Keyla olha para frente.