Nathalia Ramos, de 19 anos, cursará engenharia química na universidade federal. Ela entrou na modalidade de cotas para ex-alunos da rede pública com renda familiar per capita inferior a 1,5 salário mínimo.
Nathalia Ramos, de 19 anos, foi aprovada em primeiro lugar no curso de engenharia química da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu), ela pôde se inscrever nas cotas para ex-alunos de escola pública com renda familiar per capita inferior a 1,5 salário mínimo.
Em 2021, mesmo com a retomada das aulas presenciais nos cursinhos pré-vestibulares, a jovem não voltou para a sala de aula: continuou acompanhando as atividades em casa.
Ela queria, sim, manter um contato mais próximo com os professores e frequentar os plantões de dúvida. Mas não tinha dinheiro para pagar o ônibus e o metrô que a levariam da zona leste de São Paulo, onde mora, até a Liberdade, no centro da cidade.
Essa é uma das razões pelas quais ela diz que “vai ser sempre mais difícil para a gente”. Por “a gente”, dá para entender que são todos os estudantes de baixa renda que não conseguem se dedicar aos estudos da forma como gostariam.
A aprovação na Unifesp é uma baita vitória, comemorada devidamente por ela, pelos amigos e pela família. Mas a jovem faz uma ressalva a todo momento. “Poderia ter sido mais fácil se eu tivesse feito um ensino médio melhor.”
Depois de três anos em uma escola técnica, ela prestou Fuvest em 2020, mas não foi aprovada, e sequer conseguiu fazer o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), porque teve de trabalhar nas datas da prova.
Em 2021, conseguiu uma bolsa de estudos de 90% em um cursinho privado – precisava pagar R$ 380 por mês.
“Foi bem apertado. Para conseguir bancar, encontrei um emprego de operadora de caixa em uma bicicletaria. Trabalhava todo final de semana; era muito cansativo”, conta.
“Se conseguisse me dedicar só aos estudos, teria sido melhor.”
‘Dá um alívio saber que existem cotas’
De segunda a sexta, Nathalia seguia uma rotina rígida de estudos, para tentar compensar a defasagem deixada pelo ensino público.
“Não dá para comparar com as condições de quem estuda em escola privada e tem o terceiro ano só focado em vestibular. Na escola pública, a gente não recebe esse incentivo de entrar na faculdade”, conta.
“Dá um alívio saber que existem cotas. Se o estudo não é igualitário no ensino médio, não dá para concorrer de igual para igual com os outros.”
Agora, o foco da estudante é se dedicar ao curso de engenharia química para seguir uma carreira na área de cosméticos. Ela continuará trabalhando aos finais de semana durante a graduação, “mas sem a pressão do cursinho”.
“Acho que vou aproveitar muito a universidade. Eu até imaginava, pela minha nota no Enem, que conseguiria passar, mas ver meu nome na lista [de aprovados] dá outra sensação.”