Termo tem sido bastante falado por causa da onda de violência nos colégios. Especialista explica significado e afirma que ação ‘não é responsabilidade única e exclusiva das escolas’.
Devido ao aumento da violência em escolas em todo o país, as autoridades estão implementando medidas preventivas. No Distrito Federal, por exemplo, o governo anunciou iniciativas como reuniões com diretores, protocolos de segurança e um aumento no policiamento das escolas por meio do batalhão escolar.
Além das medidas práticas, tem sido frequentemente mencionada nas declarações oficiais a importância da cultura de paz nas escolas. Mas o que exatamente é isso?
De acordo com José Ivaldo Araújo de Lucena, professor e mestre em educação da Universidade Católica de Brasília (UCB), a cultura de paz é definida pela Organização das Nações Unidas (ONU) como “um conjunto de valores, atitudes, comportamentos e estilos de vida que rejeitam a violência e promovem o diálogo e a negociação como meio de prevenir e resolver conflitos, lidando com suas causas”.
“Cultura de paz nas escolas significa, nesse contexto, uma opção política e pedagógica dos atores que compõem o sistema de ensino, equipes diretivas, professores, auxiliares, estudantes e suas famílias, no sentido da construção de ações coletivas de superação de todo o tipo de violência”, diz o professor.
Para o especialista, o desenvolvimento de uma cultura de paz nas escolas não é responsabilidade única e exclusiva das instituições de ensino, “mas elas são territórios privilegiados para o desenvolvimento de programas, projetos, atividades e ações de sensibilização e formação de crianças, adolescentes e jovens para a construção de uma sociedade mais humana e menos violenta”.
“A paz, assim como outros conhecimentos difundidos nas escolas, precisa ser aprendida e cultivada. Exige um processo contínuo de aprendizagem, construção e reconstrução permanente, dentro e fora da sala de aula”, diz José Ivaldo.
Segundo o especialista, há exemplos bem-sucedidos de implementação da cultura de paz nas escolas, tais como:
- Capacitar estudantes para serem mediadores e agirem como protagonistas na resolução de conflitos entre seus colegas;
- Estabelecer uma sala específica para mediação de conflitos nas escolas, onde os próprios estudantes atuam como mediadores no atendimento de seus colegas;
- Realizar assembleias escolares em sala de aula, onde os conflitos são apresentados e a turma trabalha em conjunto na busca por soluções;
- Oferecer treinamentos sobre cultura de paz, comunicação não violenta e mediação de conflitos para professores, auxiliares, estudantes e famílias, criando, assim, um ecossistema de cultura de paz na comunidade.
‘Cultura de paz não significa ausência de conflitos’
O professor explica que a cultura de paz favorece relações abertas para o diálogo e a cooperação, no entanto “não significa a ausência de conflitos, mas promove a maturidade de como resolvê-los de formas não violentas”.
“A escola se torna ambiente propício para falas autênticas e escutas empáticas pautadas pelo respeito e pela corresponsabilidade entre os atores que fazem partes do processo de ensino e de aprendizagem.”
Para José Ivaldo Araújo de Lucena, na maioria das vezes a violência não tem origem na escola, mas dentro da própria família e da comunidade.
“Nesse sentido, é indispensável a criação de políticas públicas de educação para a paz que mobilizem toda a sociedade, desde famílias, associações de bairro, empresas, igrejas, órgãos de segurança pública, entre outros, numa ação sistêmica de prevenção à violência”, diz José Ivaldo.
O professor também é secretário executivo da Cátedra UNESCO de Juventude, Educação e Sociedade da Universidade Católica de Brasília (UCB). Um centro de estudos e pesquisas sobre juventude, educação e sociedade.
“A UNESCO considera a educação, a ciência, as ciências sociais, a cultura e a comunicação como meios para atingir o objetivo ambicioso declarado em sua constituição: ‘uma vez que as guerras se iniciam nas mentes das pessoas, é nas mentes das pessoas que devem ser construídas as defesas da paz'”, diz o especialista.