Breve História da Língua Portuguesa

A INFLUÊNCIA INDÍGENA E AFRICANA NA LÍNGUA PORTUGUESA  


Aaru: espécie de bolo preparado com um tatu moqueado, triturado em pilão e misturado com farinha de mandioca.
Abá (avá – auá – ava – aba): homem, gente, pessoa, ser humano, índio.
Ababá: tribo indígena tupi-guarani que habitava as cabeceiras do rio Corumbiara (MT).
Abacataia: peixe de água salgada, parecido com o peixe-galo.
Abaçaí: perseguidor de índios, espírito maligno que perseguia e enlouquecia os índios.
Abaetê: pessoa boa, pessoa de palavra, pessoa honrada.
Abaetetuba: lugar cheio de gente boa.
Abaité: gente ruim, repulsiva, estranha.
Abanheém: (awañene) língua de gente, a língua que as pessoas falam.
Abaquar: senhor (chefe)do vôo, homem que voa.
Abaré: (aba – ré – rê – abaruna)amigo.
Abaruna: (abuna)amigo de roupa preta, padre de batina preta.
Abati: milho, cabelos dourados, louro.
Acag: cabeça.
Acará: (acaraú) garça, ave branca.
Acaraú: acaraí, acará, rio das garças. Diz-se que a grafia com a letra u, com o som de ifechado, vem dos colonizadores franceses, que os portugueses representavam, às vezes, por y).
Acemira: acir, o que faz doer, o que é doloroso (moacir).
Açu: (iguaçu, paraguaçu) grande, considerável, comprido, longo.
Aguapé (tupi): (awa’pé) redondo e chato, como a vitória-régia, plantas que flutuam em águas calmas.
Aimará: túnica de algodão e plumas, usada pelos guaranis.
Aimirim: aimiri, formiguinha.
Airequecê: lua.
Airumã: estrela-d’alva.
Aisó: formosa.
Aiyra: filha.
Ajubá: (itajubá) amarelo.
Akitãi: (irakitã – muirakitã) baixo, baixa estatura.
Amana: (amanda) chuva.
Amanaci: (amanacy) a mãe da chuva.
Amanaiara: a senhora da chuva ou o senhor da chuva.
Amanajé: mensageiro.
Amanara: dia chuvoso.
Amanda: amana, chuva.
Amandy: dia de chuva.
Amapá: (ama’pá) árvore de madeira útil, e cuja casca, amarga, exsuda látex medicinal.
Amerê: fumaça.
Ami: aranha que não tece teia.
Anauê: salve, olá.
Andira: o senhor dos agouros tristes.
Andirá: morcego.
Anhangüera: diabo velho.
Anomatí: além, distante
Antã (atã): forte.
Anacê: parente.
Anajé: gavião de rapina.
Aondê: coruja.
Ape’kü: (apicum) mangue, brejo de água salgada.
Apoena: aquele que enxerga longe.
Apuama: veloz, que tem correnteza.
Aquitã: curto.
Aracê: aurora, o nascer do dia.
Aracema: bando de papagaios (periquitos, jandaias, araras).
Aracy: a mãe do dia, a fonte do dia, a origem dos pássaros.
Aram: sol.
Arani: tempo furioso.
Arapuã: abelha redonda.
Arapuca: armadilha para aves.
Araxá: lugar alto onde primeiro se avista o sol.
Auá: (avá, abá) homem, mulher, gente, índio.
Avaré: (awa’ré, abaré) amigo, missionário, catequista
Avati: gente loura (abati, auati).
Awañene: (abanheém) língua de gente, a língua que as pessoas falam.
Ayty: ninho (parati).


Babaquara: tolo, aquele que não sabe de nada.
Bapo: chocalho usado em solenidades.
Baquara: sabedor de coisas, esperto.
Biboca: moradia humilde.


Caá: kaá, mato, folha.
Caapuã: aquele ou aquilo que mora (vive) no mato.
Caboclo: (kariboka) procedente do branco, mestiço de branco com índio (cariboca, carijó, caburé, tapuio).
Caburé (tupi): kaburé, caboclo, caipira.
Canoa: embarcação a remo, esculpida no tronco de uma árvore; uma das primeiras palavras indígenas registradas pelos descobridores espanhóis.
Capenga: pessoa coxa, manca.
Cari: o homem branco, a raça branca.
Carió: procedente do branco, caboclo, antiga denominação da tribo indígena guarani, habitante da região situada entre a lagoa dos Patos (RS) e Cananéia (SP), (carijó).
Carioca: kari’oka, casa do branco.
Cuica: ku’ika,espécie de rato grande com o rabo muito comprido.
Curumim: menino (kurumí). 


Damacuri: tribo indígena da Amazônia.
Deni: tribo indígena aruaque(aruake), que vive pelos igarapés do vale do rio Cunhuã, entre as desembocaduras dos rios Xiruã e Pauini, Amazônia. Somam cerca de 300 pessoas, e os primeiros contatos com a sociedade nacional ocorreram na década de 60. 


Eçaí: olho pequeno.
Eçaraia: o esquecimento.
Etê: bom, honrado, sincero. 


Galibi: tribo indígena da margem esquerda do alto rio Uaçá, Amapá.
Geribá: nome de um coqueiro.
Goitacá: nômade, errante, aquele que não se fixa em nenhum lugar.
Guará (1): iguara, ave das águas, pássaro branco de mangues e estuários.
Guará (2): aguará, aguaraçu, mamífero (lobo) dos cerrados e pampas (açu).
Guarani(1): raça indígena do interior da América do Sul tropical, habitante desde o Centro Oeste brasileiro até o norte da Argentina, pertencente à grande nação tupi-guarani.
Guarani (2): grupo lingüístico pertencente ao grande ramo tupi-guarani, porém mais característico dos indígenas do centro da América do Sul.
Guaratinguetá: reunião de pássaros brancos.
Guariní: guerreiro, lutador. 


I: água, pequeno, fino, delgado, magro.
Iaé (kamaiurá): lua.
Iandé: a constelação Orion.
Iandê: você.
Iba: (iwa, iua, iva) ruim, feio, imprestável (paraíba).
Ibi: terra.
Ibitinga: terra branca (tinga).
Ig: água.
Iguaçu: água grande, lago grande, rio grande.
Ipanema: lugar fedorento.
Ipiranga: rio vermelho.
Ira: mel (iracema, irapuã).
Iracema: lábios de mel (ira, tembé, iratembé).
Irapuã: mel redondo (ira, puã).
Ita: pedra (itaúna).
Itajubá: pedra amarela (ita, ajubá).
Itatiba: muita pedra, abundância de pedras (tiba).
Itaúna: pedra preta (ita, una).
Ité: ruim, repulsivo, feio, repelente, estranho (abaité).
Iu: (yu, ju) espinho, (jurumbeba).

J
Jabaquara: rio do senhor do vôo (iabaquara, abequar).
Jacamim: ave ou gênio, pai de muitas estrelas (yacamim).
Jaçanã: ave que possui as patas sob a forma de nadadeiras, como os patos.
Jacaúna: indivíduo de peito negro.
Jacu: (yaku) uma das espécies de aves vegetarianas silvestres, semelhantes às galinhas, perus, faisões.
Jacuí: jacu pequeno.
Jaguar: yawara, cão, lobo, (guará).
Juçara: palmeira fina e alta com um miolo branco, do qual se extrai o palmito.
Jurubatiba: lugar cheio de plantas espinhosas (ju – ru – uba -tiba).
Jurubeba: planta espinhosa e fruta tida como medicinal.
Jururu: de aruru, que significa triste
Kaapora: aquilo ou quem vive no mato, (caapora, caipora).
Kamby: leite, líquido do seio. 


Laurare (karajá): marimbondo.
Lauré (pauetê-nanbiquara): arara vermelha. 

M
 
Manau: tribo do ramo aruaque(aruake) que habitava a região do rio Negro.
Manauara: natural de, residente em, ou relativo a Manaus (capital do estado do Amazonas).
Mairá: uma das espécies de mandioca.
Maní: deusa da mandioca, amendoim (maniva).
Manioca: mandioca (a deusa Maní, enterrada na própria oca, gerou a raiz alimentícia).
Mandioca: aipim, macaxeira, raiz que é principal alimento dos índios brasileiros.
Maracá: mbaraká, chocalho usado em solenidades.
Massau: uma das espécies de macaco, pequeno e de rabo comprido, (sagüi).
Membira: filho ou filha.
Motirõ: mutirão, reunião para fins de colheita ou construção. 


 
Nanbiquara: fala inteligente, de gente esperta.
Nhe: nhan, falar, fala, língua.
Nhenhenhém: nheë nheë ñeñë, falação, falar muito, tagarelice. 


 
Oapixana: tribo do ramo aruaque do alto rio Branco, Roraima, nas fronteiras com a Guiana.
Oca: cabana ou palhoça, casa de índio ( ocara, manioca)
Ocara: praça ou centro de taba, terreiro da aldeia
Ocaruçu: praça grande, aumentativo de ocara 


Pará (1): rio
Pará (2): prefixo utilizado no nome de diversas plantas
Paracanã: tribo indígena encontrada durante a construçao hidrelétrica de Tucuruí, no rio Tocantins, Para.
Paraíba (1): paraiwa, rio ruim, rio que não se presta à navegação.
Paraibuna: rio escuro e que não serve para navegar
Paraná: mar
Pauá (tupi): (pawa, pava) tudo, muito, no sentido de grande extensão.
Peba: branco,branca (tinga, peva, peua).
Pereba: pequena ferida.
Pernambuco: mar com fendas, recifes.
Piauí: Rio de piaus (tipo de peixe).
Pindaíba: anzol ruim, quando não se consegue pescar nada.
Poti: camarão.
Potiguar: pitiguar, potiguara, pitaguar, indígena da região nordeste do Brasil.
Puã: redondo (irapuã).
Puca: armadilha (arapuca, puçá).
Puçá: armadilha para peixes. 

Q
Quecé: faca velha.
Quibaana: tribo da região Norte.

R 
Raira: filho (membira).
Ré: amigo (geralmente usado como sufixo: abaré, araré, avaré).
Rudá: deus do amor, para o qual as índias cantavam uma oração ao anoitecer.
Ru: folha (jurubeba). 


Sapiranga: olhos vermelhos, (çá: olhos, piranga: vermelhos).
Sauá: uma das espécies de macaco.
Sergipe: rio do siri.
Surui: tribo do parque do Aripuanã, Rondônia. 

T 
Tapuia: designação antiga dada pelos tupis aos gentios inimigos, índio bravio.
Tembé: lábios (Iracema, iratembé).
Tiba: (tiwa, tiua, tuba) abundância, cheio.
Tijuca: lama, charco, pântano, atoleiro.
Tinga: branco, branca.
Tiririca: arrastando-se, alastrando-se, erva daninha que se alastra com rapidez.
Tocantins: bico de tucano.
Tupi (1): povo indígena que habita(va) o Norte e o Centro do Brasil, até o rio Amazonas e até o litoral.
Tupi (2): um dos principais troncos lingüísticos da América do Sul, pertencente à família tupi-guarani.
Tupi-guarani: um das quatro grandes famílias lingüísticas da América do Sul tropical e equatorial.

U 
Uaçá: caranguejo.
Uaná: vagalume (urissanê).
Ubá: canoa (geralmente feita de uma só peça de madeira); 

V
Vapidiana: tribo do ramo aruaque do alto rio Branco, Roraima.
W
Wapixana: tribo do ramo aruaque do alto rio Branco, Roraima.

X 
Xaperu: tribo da região Norte.
Xará: (X-rer-á) tirado do meu nome.
Xavante: tribo indígena pertencente à família lingüística jê. Ocupa extensa área, limitada pelos rios Culuene e das Mortes, Mato Grosso.
Xoclengue: tribo caingangue do Paraná (rio Ivaí).

Y 
Yacamim: ave ou gênio, pai de muitas estrelas (jaçamim)
Yamí: noite.
Yapira: mel (japira).
Yara: deusa das águas, lenda da mulher que mora no fundo dos rios.
Yasaí: açaí, fruta que chora.
Yawara (tupi): jaguar, cão, cachorro, lobo, gato, onça. 


abacaxi
açaí
aipim
amendoim
ananás
araçá
aracuã
araponga
arapuã
arapuca
arara
ariranha
babaçu
bacupari
bacuri
baiacu
baitaca
beiju
biboca
biguá
bocaiúva
boitatá
buriti
butiá
caatinga
 caboclo
 caiçara
 caipira  
caipora
cajá
caju
candiru
caninana
capão
capim
capivara
capixaba
capoeira
cará
caraíba
caramuru
carnaúba
catanduva
catuaba
cipó
comandoé
congonha
copaíba
copaibuçu
 cuia
 cuíca
 cumbuca
 cupim
 curica
 curió
 curupira
 cururu
 cutia
embaúba
emboaba
gambá
gaturamo
graúna
guabiroba
guabiru
guará
guri
iara
ingá
ipê
itaipava
itapuá
itaúba
jaburu
jabuti
jabuticaba
jaçanã
jacarandá
jacaré
jacu
jaguar
jaguatirica
jararaca
jararacuçu
jatobá
jenipapo
jequitibá
jerimum
jibóia
jirau
juçana
juçara
jurema
juriti
jururu
juruva
macaxeira
maguari
mandacaru
mandioca
mangaba
marajá
micuim
mingau
mirim
muçum
mundéu
muquirana
mutirão
mutuca
mutum
paca
paçoca
pacu
pajé
panapaná
parati
pariparoba
paru
patativa
pereba
perereca
peroba
peteca
piaçava
pindaíba
pipoca
piracema
piraí
piranha
pirarucu
pitanga
pitu
pixaim
pororoca
puçá
quiriri
sabiá
saci
sagüi
saíra
samambaia
sambaqui
sarará
saúva
seriema
siri
sororoca
sucupira
sucuri
surucucu
tabaréu
tacape
tamanduá
tanajura
tangará
tapera
tapioca
tapiopuba
taquara
tatu
taturana
taxi
timbó
tipóia
tiririca
tocaia
traíra
tucano
tucum
urubu
urupê
urutu
xexéu

PALAVRAS DE ORIGEM AFRICANA

 acarajé
banana
babá
babaca
bagunça
banzé
banzo
batuque
bambolê
banguela
beleléu
bengala
berimbau
birita
bugiganga
bunda
bugio
búzio
cabaço
caçamba
cachaça
caçula
cachimbo
cafofo
cafundó
cafuné
 calombo
 cambada
camundongo
candomblé
Cangote
canjica
capanga
capenga
capoeira
careca
carimbo
catinga
caxumba
chilique
chimpanzé
chuchu
cochilo
corcunda
coringa
cuíca
dendê
dengo
Exu
farofa
fofoca
forró
fubá
furdunço
fuzuê
fuxico
gambá
gandaia
gangorra
geringonça
ginga
gogó
gororoba
inhame
Iemanjá
ioiô
jagunço
 jiló
lambada
larica
lenga-lenga
 lero-lero
lundu
macaco
macumba 
maluco
mandinga
mangue
 mano
maracutaia
marimbondo
maromba
matuto
maxixe 
milonga
miçanga
mingau
minhoca
mochila
mocotó
molambo
molenga
 moleque
moqueca
muamba
mucama
muquifo
mutreta
muxoxo
neném
Orixá  
pamonha
papagaio
patota
patuá
pendenga
pindaíba
pinga
pirão
pitoco
puta
quenga
quiabo 
quilombo 
quitanda
quitute
quizília
 samba
 sarará
sapeca
serelepe
senzala 
sinhá
songamonga
sova
sunga
tagarela
tanga
titica
trambique
tribufu
tutu
urucubaca
vatapá
xará
xepa
xingar
xodó
zanzar
zebra
ziquizira
zoeira
zombar
zunzum

Nossa língua portuguesa e a influência da mitologia

    Nosso idioma está repleto de palavras que evocam mitos e
lendas que formavam a religião dos gregos e dos romanos. Sem
dúvida, nossos vocábulos ficam mais interessantes quando
descobrimos histórias que estão por trás de palavras
aparentemente comuns.
   Você sabe por que o mês janeiro tem esse nome? Foi em
homenagem ao Deus Janus, dono de duas faces, que o primeiro
mês do ano recebeu esse nome. Diz a mitologia que Janus tinha
duas faces e, portanto, podia, ao mesmo tempo, olhar o término
de um ano e o início do outro.
   O vocábulo cereal foi em homenagem à deusa Ceres, deusa
da plantação e da colheita.
   Já o Pluto, cachorro do Mickey, é o nome de um Deus romano.
Interessante é o significado do nome pânico. Pânico vem de
Pan, um deus com pequenos chifres e corpo de bode da cintura
para baixo. Conta a mitologia que esse deus vivia nos bosques
correndo atrás das ninfas, causando-lhes um enorme medo,
pânico. Qualquer ruído era sinal da presença do deus. Daí, hoje,
o termo indicar um medo incontrolável e, por vezes, irracional.
Estes são alguns nomes que exemplificam essa grande
herança mitológica do nosso vocabulário.

A LÍNGUA PORTUGUESA NO BRASIL

   Quando os portugueses descobriram o Brasil em 1500,
já encontraram aqui uma língua: o tupi , que eles logo batizaram
de língua geral . Era aquela falada pelos índios e também
pelos jesuítas, que a utilizavam para catequizá-los, além
dos comerciantes e outros moradores das terras brasileiras.
Os jesuítas acabaram sendo expulsos do Brasil em 1759, e,
desde então, o tupi foi proibido como língua geral, mas continuou
sendo falado pela população local e contribuiu muito
para o enriquecimento do vocabulário português. São inúmeras
as palavras que vieram do tupi. Exemplos: carijó, guri,
mingau, capim, araponga, arapuca, e outras; entre os nomes
de pessoas, podemos citar Jurema, Iara, Araci, Moacir, Ubirajara,
Iracema, e entre os topônimos (nomes de localidades)
temos Niterói, Ceará, Catumbi e outros.
Além do tupi, o português sofreu influência da língua
africana, que chegou ao Brasil com os escravos trazidos da África.
Sobretudo os dialetos nagô, ioruba e quimbundo, praticados
pelos negros que aqui chegaram, enriqueceram a língua
portuguesa com diversos termos. Exemplos: quilombo,
banzo, samba, quitanda, acarajé, vatapá, dendê, além dos
nomes de entidades da umbanda, como Exu, Orixá, Ogum,
Iansã e muitas outras palavras.
   Desde a colonização até meados de 1600, a língua portuguesa 
no Brasil convivia com essas outras línguas – o tupi e os
dialetos africanos. Daí em diante, ela começa a se impor como
língua dominante, o que acontece definitivamente com a vinda
da família real portuguesa para o Brasil, em 1808. Colaboram
para isso a crescente urbanização que, dando origem às
cidades, aprofunda a separação com o mundo rural, e o trabalho 
de importantes escritores, entre eles José de Alencar (1829-1870),
que passam a retratar em suas obras a terra e o povo brasileiro,
colaborando para uma identificação maior entre ambos. Mas,
fundamentalmente, o que fez com que a língua portuguesa se
impusesse como idioma foi o fato de o índio e o negro terem
perdido, progressivamente, sua importância como mão de obra
na economia colonial tendo, assim, sua língua e seus costumes
marginalizados da cultura dominante, e, em contrapartida,
o domínio que os portugueses exerceram sobre as terras e
riquezas do Brasil, o comércio, a educação, a cultura e demais

aspectos da sociedade brasileira.

DOMÍNIO ATUAL

   Com as navegações durante os séculos XV e XVI, os portugueses
levaram a sua língua para os vastos territórios que
conquistaram na África, na América e na Oceania, ampliando
muito seu domínio.
   Hoje, o português é a língua oficial de Portugal, do Brasil e
dos países que foram colônias portuguesas: Guiné-Bissau, Cabo
Verde, Angola, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor. É,
portanto, falado em áreas de todos os continentes: Europa
(Portugal continental, arquipélago dos Açores e ilha da Madeira),
África (arquipélago de Cabo Verde, ilhas de São Tomé e
Príncipe e, no continente, Angola, Guiné-Bissau e Moçambique),
Ásia (Macau), Oceania (parte ocidental da ilha de Timor) e
América (Brasil). Isso sem contar os inúmeros dialetos, que
misturam o português com o espanhol, praticados em povoações
da Espanha e nas zonas fronteiriças do Brasil.
Esse amplo domínio faz da língua portuguesa a quinta
entre as mais faladas do mundo, superada apenas pelas
línguas chinesa, inglesa, russa e espanhola.

AS FASES DA LÍNGUA
O linguista José Leite de Vasconcelos, em
sua obra Lições de Filologia Portuguesa (Lisboa,
1926)1, propõe as seguintes etapas na
evolução do latim ao português:
a) latim lusitânico – língua falada na
Lusitânia, desde a implantação do latim
até o século V.
b) romance lusitânico – língua falada na
Lusitânia, do século VI ao IX.
c) português proto-histórico – língua falada na Lusitânia,
do século IX ao XII.
d) português arcaico – do século XIII à primeira metade
do século XVI, quando a língua começa a ser codificada
gramaticalmente. Em 1536 é publicada a primeira
 gramática da língua portuguesa, a Grammatica
da Lingoagem Portuguesa, de Fernão de Oliveira.
e) português moderno – da segunda metade do século
XVI aos dias de hoje.
Outros autores costumam unir as fases do latim lusitânico
e do romance lusitânico naquela que seria a fase pré-histórica
da língua, a respeito da qual não existem documentos;
outros, como o próprio Leite de Vasconcelos, subdividem as
fases arcaica e moderna em outras fases. No entanto, parece-
nos suficiente essa divisão para a apreensão do processo
por que passou a língua portuguesa, tendo-se sempre presente
que a língua é um sistema em permanente transformação,
não cabendo, portanto, qualquer divisão estanque.

O GALEGO-PORTUGUÊS

Com a acentuação das diferenças entre
os romances peninsulares ocorrida sobretudo
durante o domínio árabe constitui-se, na
região ocidental da Península Ibérica, uma unidade
lingüística que se conservou até meados
do século XIV: o galego-português . Não
é rigoroso o registro de seu nascimento. Provavelmente
existiu desde o século VI, mas os primeiros documentos
conhecidos redigidos integralmente
em galego-português datam do século XIII.
Dessa unidade lingüística surgiria o novo idioma, fruto
de uma diferenciação progressiva entre o galego e o português,
que, acredita-se, culminou no século XIV, quando os
dois se separam definitivamente, passando, assim, a constituir
idiomas independentes.
O português é então adotado oficialmente como o idioma
de Portugal no reinado de D. Afonso Henriques, o primeiro
rei de Portugal, que ocupou o trono de 1143 a 1185.