A HISTÓRIA DO CIRCO

A HISTÓRIA DO CIRCO 

O circo tem origens em diversos países, com o registro de exercícios de força, resistência e agilidade, que ultrapassaram as barreiras militares conforme os impérios enfrentaram seu declínio. Os remanescentes desta era passaram a se apresentar e perpetuar seus conhecimentos em feiras e espaços públicos durante a Idade Média. Na medida em que a sociedade evoluiu, o Circo também acompanhou essa evolução, de forma a adaptar-se ao que o expectador esperava enquanto entretenimento.

Graças às dimensões continentais do Brasil, o circo pôde adaptar-se aos mais diversos contextos sócio-culturais presentes nas cinco regiões do país. Elementos do circo tradicional, com números de mágica, acrobacia, malabares e aéreos, incorporaram particularidades da cultura local, principalmente nas apresentações de palhaços, com expressões, hábitos e tipos, além de gêneros musicais próprios da região, resultando numa forte empatia e identificação com o público.

ORIGENS DO CIRCO

Alguns dos artistas, em algumas sociedades e contextos históricos específicos, realizavam exercícios acrobáticos ou atividades artísticas com finalidades religiosas; outros, simplesmente por prazer, numa relação mesmo dionisíaca. (SILVA, 2009)

Não se sabe ao certo como tudo começou, fato é que vários registros foram encontrados: na Grécia; em Roma; na China; na Índia, no Egito; e até nas Américas, fazendo alusão às práticas circenses. Em qualquer sociedade e período histórico deparamo-nos com artistas, fossem eles trovadores, poetas, atores, acrobatas, cantores, dançarinos, entre muitos outros. Alguns dos artistas, em algumas sociedades e contextos históricos específicos, realizavam exercícios acrobáticos ou atividades artísticas com finalidades religiosas; outros, simplesmente por prazer, numa relação mesmo dionisíaca. Até mesmo na recente pesquisa realizada por Alice Viveiros de Castro (nota), sobre os desenhos rupestres encontrados no Parque Nacional Serra da Capivara (Piauí – Brasil), que se pressupõe tenha em torno 27.000 anos, foi-nos apresentado um conjunto de imagens denominado de “Acrobatas do Boqueirão da Pedra Furada”, por tratar-se de desenhos que sugerem claramente ações acrobáticas, de equilíbrios com dupla altura, de roda de dança, etc. (SILVA, 2009

Pensar na manifestação artística como algo recorrente num passado remoto, no mínimo nos faz refletir sobre a necessidade intrínseca do espetáculo e do espectador, independente de época, cultura e sociedade. Tais manifestações ocorreram e ainda ocorrem muito além de uma simples atividade profissional, mas por uma resistência frente aos novos desafios. Enquanto houver a alma do artista e aquele que se encante com sua apresentação, o espetáculo continua. Pois o artista persiste, pinta a cara, faz aparecer qualquer coisa da cartola, treina seu corpo, extraindo de cada músculo o movimento perfeito, pelo aplauso e pelo amor.

A EVOLUÇÃO DO CIRCO

Na China, a pedido do Imperador Wu (140 a.C.), realizou uma festa com apresentações de acrobacias aos visitantes estrangeiros, a partir daí criou a festa popular chinesa para abundância na colheita e a união entre os povos – Festival da Primeira Lua. Que em outras manifestações e momentos também apresentaram veias cômicas o uso das artes marciais com movimentos acrobáticos. Em Roma, O Circo Máximo foi o exemplar mais significativo de um local destinado às apresentações de gladiadores, animais exóticos e corridas. Tempos depois dando lugar a estrutura do Coliseu. Que devidos aos problemas sociais enfrentados durante o Império de César, teve a política do Pão e Circo instituída para que a população pobre esquecesse os problemas e adiasse sua capacidade de contestação. Anos depois essas exibições deram espaço aos espetáculos sangrentos, provocando um desinteresse geral por longos anos. Agora os artistas buscariam os espaços públicos para realizar suas apresentações e estar mais próximo do seu público.
Na idade média, observam-se, segundo alguns autores, a realização das Saturnais – celebrações de origem romana durante o me de janeiro, permitindo a presença de artistas circenses como parte do entretenimento. Essa festividade transformou-se na Festa dos Loucos ou Festa do Asno, e eram marcadas por cortejos de embriaguês e lascívia. Tudo isso chamou muita atenção da censura da Igreja Católica. E pouca coisa seria permitida. Restando às feiras a configuração do espaço para apresentação de acrobatas, trovadores, amestradores, dançarinos, palhaços e equilibristas, entre outros.

[…] até a década de 1750, o encontro de várias linguagens artísticas não eram ainda denominadas de circenses. Somente no final da década seguinte, por volta de 1768, é que diversos grupos de artistas existentes na época: acrobatas, atores, cantores, músicos, dançarinos, prestidigitadores, ao se cruzarem com grupos de cavaleiros que dominavam a arte de adestramento de cavalos que se exibiam nas praças públicas, hipódromos, anfiteatros, iniciaram um processo de construção de um espetáculo que posteriormente se denominou de circo e, portanto, se conformaram como uma categoria de trabalhadores artistas circenses. (SILVA, 2009)

Durante tais apresentações, desse grupo ainda não denominado, a construção de um tablado era executada para permitir uma melhor visualização da população, estrutura essa semelhante a bancos de madeira, daí surgiu o termo saltimbancos. Essas figuras, ao longo do tempo, foram complementadas com outras figuras, como o bobo da corte, os ciganos, os prestidigitadores, os personagens da Commedia dell’Arte- típica encenação teatral italiana, cujas peças mais famosas envolviam o Arlequim, o Pierrô e a Colombina. Na modernidade, essa cultura se renovou, e uma arte milenar, que pode ser considerada inerente à criatividade humana, tendo origens em povos e contextos diversos. Os exercícios de força e resistência utilizados em treinamentos e apresentações de egípcios, chineses e romanos, entre outros, passaram a ocupar as ruas, praças e feiras da Europa com o declínio dos impérios. Muitos eram remanescentes dos setores militares ou tinham suas habilidades aprendidas dentro do seio familiar.
Através do inglês, militar, cavaleiro, Philip Astley que tivemos a construção que se configurou como Circo Moderno. Uma estrutura fixa, com apresentações de provas hípicas. O equilíbrio necessário para realização dos números fez com que o formato desse espaço – o picadeiro – tivesse o formato circular, permitindo que os animais corressem ao redor do centro e continuamente. Então Astley e o seu Amphitheatre of Arts, criado em 1768, ofereciam ao público espetáculos equestres em um picadeiro circular, que dava mais equilíbrio aos montadores durante o percurso dos cavalos em suas demonstrações. O anfiteatro também incorporou atrações como palhaços e acrobatas entre seus números principais. Estava criado o circo fixo. Então esse modelo foi replicado em outros locais, sendo a base da construção do CIRCO MODERNO e surgindo a criação da expressão CIRCO DE CAVALINHOS.
Houve com isso, a intercalação entre os números dos cavalos com apresentações artísticas de humor e outras habilidades que demonstração um teor mais artístico do que técnico (bem inerente aos ex-militares que desempenhavam os números eqüestres), a troca foi inevitável, os números equestres absorviam mais beleza e movimentos artísticos, e os artísticos, por sua vez, mais técnica e precisão. Com a guerra, muitos grupos ficaram dispersos, forçando-os a uma adaptação fora desses espaços fixos. E conforme a popularidade deste espetáculo crescia, outros surgiram, assim como a demanda por mais apresentações. O envolvimento de vários profissionais, entre artistas e técnicos, permitiu o surgimento de técnicas logísticas que permitiram o deslocamento das trupes, que agregaram outros números ao seu repertório. E assim cresceu oCIRCO TRADICIONAL, com uma lona improvisada, cujos fundadores construíram suas famílias sob o universo dos picadeiros, repassando seus conhecimentos de geração em geração. Talvez seja precipitado afirmar que assim como o circo evoluiu anteriormente durante todos esses anos, uma nova transformação esteja acontecendo em virtude das novas expectativas de entretenimento que o espectador tem, frente a tantas ofertas e tecnologias da indústria de entretenimento – que engloba os shows, o cinema, etc. Frente a esse novo modo de vida, uma arte tão antiga, acaba agregando novos atrativos para se manter “vivo”.

O CIRCENSE

Aquele que viaja o mundo sem sair de casa. Assim pode ser definido o circense: cidadão de todos os cantos, aquele que absorve diferentes culturas e devolve identificação e encanto a quem os assiste. Últimos filhos de uma tradição que repassa seus conhecimentos de pai para filho, estes artistas são a porta de entrada para outros segmentos culturais. Não é difícil encontrar grandes nomes que fizeram do picadeiro o seu trampolim para as linguagens que dialogavam com o circo: teatro, dança, artes visuais e música, entre outros.