Filho aprende a programar e cria app para facilitar o trabalho do pai
Lisandro, de 14 anos, usou dados de geolocalização do Google em programa que ajuda o pai, motorista, a coordenar endereços das entregas.
Postagem original: Ana Carolina Moreno
Do G1, em São Paulo
Não é incomum que os filhos e filhas façam os presentes para seus pais ou mães com as próprias mãos. Mas o motorista Leandro Pires da Silva, de 40 anos, não imaginava que seu filho Lisandro, de 14 anos, pudesse inventar um presente que fizesse tanto efeito no seu dia-a-dia. Depois de começar um curso de programação na escola em que estuda, em Itatiba, no interior de São Paulo, o estudante programou um aplicativo que coordena as rotas mais comuns do trabalho de entregas feito pelo pai.
Lisandro, de 14 anos, programou um aplicativo para ajudar o pai, Leandro, a encontrar endereços de entregas (Foto: Arquivo pessoal) |
Simples e fácil de usar, o app registra uma lista de endereços até onde Leandro precisa dirigir com mais frequência, e facilita o trabalho na hora de traçar rotas de um lugar ao outro.
“Não tem que ficar digitando nome de rua. Tem ruas em São Paulo que você não acha, e parece que sempre que você está com pressa parece que não consegue colocar direito”, explicou ele.
“Trabalho há sete anos com transporte, sou da época ainda que a gente trabalhava com o guia de ruas. Depois fui para o GPS, e agora estou com esse GPS bem mais avançado.”
Há cerca de dois meses, depois que o filho instalou o aplicativo em seu celular, Leandro diz que não precisa mais gastar minutos dentro do carro programando o aparelho de GPS para chegar no próximo local de entrega. A redução de tempo é de poucos minutos, mas ele afirma que a tranquilidade faz diferença. Em média, ele dirige cerca de 350 quilômetros por dia, mas, dependendo da cidade à qual precisa ir, chega a dirigir mil quilômetros em um único dia.
Curso de programação
Lisandro conta que teve a ideia de ajudar o pai ao fazer uma das tarefas do curso de letramento em programação realizado pelo Instituto Ayrton Senna em parceria com a Secretaria de Educação de Itatiba. O curso teve início em 2015. Atualmente, 400 alunos de 13 escolas municipais de Itatiba participam das aulas, e o projeto foi ampliado para 12 escolas de três municípios do Rio Grande do Sul: Marau, Passo Fundo e Sananduva.
Lisandro conta que teve a ideia de ajudar o pai ao fazer uma das tarefas do curso de letramento em programação realizado pelo Instituto Ayrton Senna em parceria com a Secretaria de Educação de Itatiba. O curso teve início em 2015. Atualmente, 400 alunos de 13 escolas municipais de Itatiba participam das aulas, e o projeto foi ampliado para 12 escolas de três municípios do Rio Grande do Sul: Marau, Passo Fundo e Sananduva.
Segundo Adelmo Eloy, coordenador do projeto, afirmou ao G1 que ele desenvolve uma nova forma de apresentar conceitos básicos de lógica de programação de computadores para crianças e jovens. “O objetivo é que, por meio de noções iniciais de ciência da computação, os alunos consigam analisar informações e comunicar comandos ao computador” para “resolver problemas e se empoderar por meio da tecnologia”. De acordo com ele, “no processo de aprendizagem, [os alunos] também desenvolvem importantes competências para século 21 como criatividade, trabalho em grupo e resolução de problemas”.
O curso tem três módulos: dois com duração de um semestre, e o terceiro, que dura um ano. “No primeiro módulo, a gente aprendeu o conceito de programar. No segundo tinha um site em que a gente criava joguinhos. E nesse terceiro módulo a gente aprende a fazer aplicativo”, explica Lisandro.
Uma das tarefas do terceiro módulo era sincronizar os dados de mapas do Google para inserir pontos turísticos em um aplicativo. “Aí eu pensei: se funciona pra pontos turísticos, por que não funcionaria para os endereços do meu pai?”, diz o adolescente. “Pra programar foi meia hora, para o design foi um dia. Meu irmão trabalha com design gráfico, então precisei da ajuda dele pra fazer as imagens e colocar no aplicativo.”
(Foto: Divulgação/Instituto Ayrton Senna) |
Primeira reação
Na hora em que ensinou o pai a usar seu app, Lisandro diz que a primeira reação não foi das melhores. “No começo ele estava meio desconfiado, pensava que não ia dar certo, mas depois do primeiro dia ele gostou bastante”, lembra o filho. O pai confirma a história. “Posso ser sincero? Não pensava de jeito nenhum [que o aplicativo funcionaria]. Pensa em um menino que é preguiçoso, que ficava pedindo até para eu buscar um copo de água. Aí chegar fazer umas coisas dessas aí…”
Orgulho das notas do jovem, porém, Leandro conta que ele e a esposa sempre tiveram. “Ele é super inteligente, mas a gente nunca sabia que ele ia chegar nesse ponto de desenvolver um programa desses.”
Para o Dia dos Pais, Lisandro preparou de presente para Leandro uma atualização no app. “Queria colocar mais locais no aplicativo. Queria que fosse surpresa, mas fica difícil”, disse o jovem, que agora pretende continuar estudando programação e, quem sabe, seguir carreira na área. “É difícil achar um emprego que você goste, e nesse curso eu comecei a gostar de programar, e quero fazer isso para o resto da vida.”
FONTE: http://g1.globo.com/