Avaliar para ensinar melhor

Observação atenta e constante: bases para uma avaliação que privilegia a aprendizagem e leva em conta o ritmo de cada estudante. (Crédito: Gilvan Barreto)
Escrito por: Denise Pellegrini

Quem procura um médico está em busca de pelo menos duas coisas, um diagnóstico e um remédio para seus males. Imagine sair do consultório segurando nas mãos, em vez da receita, um boletim. Estado geral de saúde nota 6, e ponto final. Doente nenhum se contentaria com isso. E os alunos que recebem apenas uma nota no final de um bimestre, será que não se sentem igualmente insatisfeitos? Se a escola existe para ensinar, de que vale uma avaliação que só confirma “a doença”, sem identificá-la ou mostrar sua cura? 

Assim como o médico, que ouve o relato de sintomas, examina o doente e analisa radiografias, você também tem à disposição diversos recursos que podem ajudar a diagnosticar problemas de sua turma. É preciso, no entanto, prescrever o remédio. “A avaliação escolar, hoje, só faz sentido se tiver o intuito de buscar caminhos para a melhor aprendizagem”, afirma a consultora Jussara Hoffmann.

Ênfase no aprender

Não é de hoje que existe esse modelo de avaliação formativa. A diferença é que ele é visto como o melhor caminho para garantir a evolução de todos os alunos, uma espécie de passo à frente em relação à avaliação conhecida como somativa. 

Para muitos professores, antes valia o ensinar. Hoje a ênfase está no aprender. Isso significa uma mudança em quase todos os níveis educacionais: currículo, gestão escolar, organização da sala de aula, tipos de atividade e, claro, o próprio jeito de avaliar a turma. 

O professor deixa de ser aquele que passa as informações para virar quem, numa parceria com crianças e adolescentes, prepara todos para que elaborem seu conhecimento. Em vez de despejar conteúdos em frente à classe, ele agora pauta seu trabalho no jeito de fazer a garotada desenvolver formas de aplicar esse conhecimento no dia-a-dia. 

Na prática, um exemplo de mudança é o seguinte: a média bimestral é enriquecida com os pareceres. Em lugar de apenas provas, o professor utiliza a observação diária e multidimensional e instrumentos variados, escolhidos de acordo com cada objetivo. 

A avaliação formativa não tem como pressuposto a punição ou premiação. Ela prevê que os estudantes possuem ritmos e processos de aprendizagem diferentes. Por isso, o professor diversifica as formas de agrupamento da turma.

Conhecer o aluno

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), aprovada em 1996, determina que a avaliação seja contínua e cumulativa e que os aspectos qualitativos prevaleçam sobre os quantitativos. Da mesma forma, os resultados obtidos pelos estudantes ao longo do ano escolar devem ser mais valorizados que a nota da prova final. 

“Essa nova forma de avaliar põe em questão não apenas um projeto educacional, mas uma mudança social”, afirma Sandra Maria Zákia Lian Sousa, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. “A mudança não é apenas técnica, mas também política.” Tudo porque a avaliação formativa serve a um projeto de sociedade pautado pela cooperação e pela inclusão, em lugar da competição e da exclusão. Uma sociedade em que todos tenham o direito de aprender. 

Para que a avaliação sirva à aprendizagem é essencial conhecer cada aluno e suas necessidades. Assim o professor poderá pensar em caminhos para que todos alcancem os objetivos. O importante, diz Janssen Felipe da Silva, pesquisador da Universidade Federal de Pernambuco, não é identificar problemas de aprendizagem, mas necessidades.

Teoria

Quando a LDB estabelece que a avaliação deve ser contínua e priorizar a qualidade e o processo de aprendizagem (o desempenho do aluno ao longo de todo o ano e não apenas numa prova ou num trabalho), usa outras palavras para expressar o que o jargão pedagógico convencionou chamar de avaliação formativa. O primeiro a usar essa expressão foi o americano Michael Scriven, em seu livro Medotologia da Avaliação, publicado em 1967. Segundo ele, só com observação sistemática o educador consegue aprimorar as atividades de classe e garantir que todos aprendam.


Muitos vêem a avaliação formativa como uma “oposição” à avaliação tradicional, também conhecida como somativa ou classificatória. Esta se caracteriza por ser realizada geralmente ao final de um programa, com o único objetivo de definir uma nota ou estabelecer um conceito – ou seja, dizer se os estudantes aprenderam ou não e ordená-los. Na verdade as duas não são opostas mas servem para diferentes fins. A avaliação somativa é o melhor jeito de listar os alunos pela quantidade de conhecimentos que eles dominam – como no caso do vestibular ou de outros concursos. A formativa é muito mais adequada ao dia-a-dia da sala de aula.

O aluno como parceiro

Se seu objetivo é fazer com que todos aprendam, uma das primeiras providências é sempre informar o que vai ser visto em aula e o porquê de estudar aquilo. Isso é parte do famoso contrato pedagógico ou didático, aquele acordo que deve ser estabelecido logo no início das aulas entre estudantes e professor com normas de conduta na sala de aula.


A criança deve saber sempre onde está e o que fazer para avançar. Assim, fica mais fácil se envolver na aprendizagem. E dá para fazer isso até na pré-escola, desde que a maneira de dizer seja adequada à idade e ao nível de desenvolvimento da turma.


Quando o educador discute com os estudantes os objetivos de uma atividade ou unidade de ensino, dá meios para que eles acompanhem o próprio desenvolvimento.


E isso pode ser feito por meio da auto-avaliação (leia o texto ao lado). “Se o professor quer que os alunos se avaliem, deve explicitar por que e para que fazer isso. Ele precisa perceber como essa prática ajuda a direcionar todo o processo de aprendizagem”, diz Janssen Felipe da Silva.


As conclusões da auto-avaliação podem servir tanto para suscitar ações individuais como para redefinir os rumos de um projeto para a classe como um todo. Esse processo pode ir além da análise do domínio de conteúdos e conceitos e mostrar como está a relação entre os colegas e com o professor.


A melhor maneira de pô-la em prática, na opinião de Janssen, é dizer à turma em que aspecto cada um deve se auto-avaliar. Uma lista de pontos trabalhados em sala pode ser apresentada aos alunos para que eles digam como se desenvolveram em relação a cada item.


Durante o processo de auto-avaliação, é importante que todos possam expor sua análise, discutir com o professor e os colegas, relatar suas dificuldades e aquilo que não aprenderam. “Nada garante que o olhar de uma criança vá ser igual ao do colega ou do professor”, explica Sandra Maria Zákia Lian Sousa.


Além de ser mais um instrumento para melhorar o trabalho docente, a auto-avaliação é uma maneira de promover a autonomia de crianças e dos adolescentes. Para que isso realmente aconteça, o processo necessita ser democrático. “O aluno deve dizer sem medo de ser punido o que sabe e o que não sabe. Se ele percebe que não há punição nem exclusão, mas um processo de melhoria, vai pedir para se avaliar”, garante Janssen.

Um alerta

O professor que se atém ao comportamento do estudante e o rotula acaba tendo uma atitude prejudicial. O agressivo e conversador sempre tende a ser visto dessa maneira. Assim como o atencioso e comportado. Por isso, não classifique seus alunos como se eles fossem sempre do mesmo jeito, com hábitos imutáveis – e, o mais importante, incapazes de se transformar. O ideal é tentar entender por que se comportam de determinada forma diante de uma situação. Rotular não leva a nada.

Maria de Lourdes: envolvendo os alunos na própria avaliação

No Colégio Cenecista José Elias Moreira, em Joinville, interior de Santa Catarina, a avaliação vai além de provas, trabalhos e outras atividades formais. Em dois aspectos, pelo menos, a análise do professor se completa: na observação multidimensional e na auto-avaliação dos alunos.


Maria de Lourdes Montemor Picheth, que leciona Língua Portuguesa para a 4ª série, atua assim há quatro anos. Ela começa com um diagnóstico das capacidades de escrita e de comunicação dos alunos. Depois dá um retorno a cada um. “Mostro no que deve melhorar a produção, que aspectos vamos trabalhar”, explica. A seguir, os principais passos do trabalho.
(Crédito: Suzete Sandin)
1. Maria de Lourdes acredita na importância de sempre manter os alunos informados sobre o que será desenvolvido em aula e o que espera deles. Diariamente ela coloca agenda no quadro, relatando conteúdos a serem trabalhados, atividades e objetivos da aula. “Dessa maneira, eles reconhecem progressos e dificuldades”, explica.
(Crédito: Suzete Sandin)
2. As auto-avaliações são de dois tipos: orais e escritas. As orais são feitas quinzenalmente. Em grupo, as crianças verificam no caderno o que foi trabalhado e se realmente aprenderam aquilo. “Eles são muito sinceros e dizem se não estão bem firmes no assunto, se têm dúvidas ou se não se lembram”, descreve a professora. Já a escrita acontece no final do trimestre e diz respeito a todas as disciplinas. A aluna Laís Boaventura, por exemplo, admitiu que não gostava de falar e se sentia insegura. Trabalhadas as dificuldades, a situação mudou: “Hoje sinto que sou capaz de realizar atividades que pareciam muito difíceis”.


Terminada a aula, Maria de Lourdes compara a auto-avaliação das crianças com seus registros. “Se a diferença for gritante, posso não estar olhando para a criança como deveria”, reflete. As questões que, na opinião da turma, não foram aprendidas são retomadas em atividades diferenciadas. Os que já atingiram determinado objetivo também participam com interesse.
(Crédito: Suzete Sandin)
3. Para Maria de Lourdes, conhecer o aluno em outros aspectos que não apenas os relacionados aos objetivos alcançados é essencial. Por isso ela procura sempre ouvi-los. A professora conta ainda com a possibilidade de consultar o histórico do estudante, mantido pela escola. Lá estão os relatórios dos anos anteriores.
(Crédito: Suzete Sandin)
4. Quem apresenta comportamento diferenciado passa porentrevista com a orientadora Sílvia do Valle Nogueira. Depois os pais são ouvidos. Um dos alunos, Vanderson dos Santos, chegou ao Elias Moreira na 4ª série, mas com sérios problemas de alfabetização. Nas entrevistas, surgiu a informação de que o garoto havia passado por várias escolas e não tinha nenhum professor como referência. “Conhecendo a história dele, pude perceber não o que ele não sabia, mas o que não tinha tido oportunidade de conhecer”, comenta Maria de Lourdes.


Com base nessas informações, a professora organizou um programa para Vanderson, que também foi encaminhado ao apoio pedagógico e teve aulas extras, fora do horário regular. “Ele cresceu dois anos em um e passou normalmente para a 5ª série”, comemora Maria de Lourdes. “Se tivesse avaliado apenas sua capacidade de leitura, escrita e oralidade, constataria que ele não estava alfabetizado e que deveria ser reprovado.”

Trocando em miúdos

No trabalho de Maria de Lourdes, a avaliação visa à melhoria da aprendizagem porque…
  • a professora compartilha os objetivos do trabalho com a turma;
  • os alunos avaliam a si próprios e aos colegas, analisam os próprios progressos, sentem-se motivados a avançar e vêem limitações como algo a ser superado, não punido;
  • a professora observa o aluno sob vários aspectos ? temperamento, expectativas, experiências de vida ? , identificando necessidades e não “problemas” de aprendizagem;
  • os alunos sentem-se incluídos no grupo, têm diminuído seu sentimento de frustração por não acompanhar as atividades e passam a participar mais das aulas.

“É difícil mudar, mas compensa”

Se você acha que é difícil mudar a maneira de avaliar, veja como a consultora Jussara Hoffmann responde às principais dúvidas dos professores.


É possível alterar o paradigma da avaliação diante das exigências burocráticas do sistema? Não é melhor começar por alterá-las? 
As exigências maiores do sistema são justamente uma avaliação contínua, o privilégio aos aspectos qualitativos e aos regimes não seriados. É isso o que diz a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. No entanto, não são os estatutos que levam o professor a tomar consciência do significado de qualquer mudança.


O professor não acaba responsabilizado pelo fracasso de alunos desinteressados e desatentos? 
O professor não deve ser responsável pelos alunos, mas comprometido com a aprendizagem. Isso ele só faz se estiver atento nas respostas, nas dificuldades e nos interesses de cada um, não se baseando na média do grupo.


Como é possível alterar a prática considerando a existência de classes numerosas e o reduzido tempo do educador com as turmas
Por meio de experiências educativas em que os alunos interajam. Isso inclui sistemas de monitorias, trabalhos em duplas ou em grupos diversificados. Durante as atividades coletivas, ele circula, insiste na participação de um e de outro. Se a experiência interativa for significativa, o reflexo será percebido nas atividades individuais. O que ele não pode é querer dar uma aula particular a cada um dos 40 alunos.


Um professor desenvolveu um conteúdo e 70% dos alunos aprenderam. Se continuar trabalhando com os 30% restantes ele vai atrasar a maioria? Não! Se o professor organizar uma atividade suficientemente rica e desafiadora, os 70% estarão sempre evoluindo e ampliando conhecimentos, enquanto os demais poderão construir o entendimento.


Em que medida é possível formar alunos competentes sem uma prática avaliativa exigente e classificatória, isto é, competitiva? 
O modelo que vem pautando a escola é o do vestibular, que exacerba a competitividade entre os alunos. Esse modelo só favorece dois ou três numa sala de aula, porque todos os outros são “menos” que esses. A formação de um profissional competente está atrelada à autonomia moral, ao desenvolvimento intelectual, a uma auto-estima elevada. E a competição na escola não favorece isso.


Dá certo substituir as notas por relatórios ou pareceres? 
Respondo com outra pergunta. Dá certo relatar a aprendizagem de um aluno por meio de números? Eles são subjetivos e genéricos e não refletem com precisão muitas situações de aprendizagem que ficam claras em pareceres (leia o texto ao lado). Considero a avaliação o acompanhamento do processo de construção de conhecimento. E as médias não permitem isso.

Roberta: relatos da avaliação na forma de pareceres

Nada de notas. Desde o ano passado, a professora Roberta Rodrigues, da Escola Municipal dos Coelhos, no Recife, relata as avaliações em forma de pareceres. A medida é parte da mudança na proposta pedagógica implantada na rede que instituiu os ciclos. Agora, em vez de calcular médias, ela redige relatórios sobre cada aluno do 2º ano do 2º ciclo.


“Eu já não me prendia só às provas e às notas. Me guiava pelo que o aluno apresentava em sala de aula”, lembra-se. Só que antes ela atribuía notas de 0 a 10. “Agora sei que o 8 do João não era igual ao 8 da Maria. Eles eram diferentes, embora tivessem a mesma nota.” Roberta está animada com a nova maneira de trabalhar, apesar de ter mais tarefas. “É preciso registrar tudo o que acontece com as crianças, mas é compensador.” Assim ela consegue resgatar o aluno que estava no cantinho da sala e que, no sistema seriado, seria reprovado. “É muito melhor ensinar a ler, a resolver problemas, a ter uma visão crítica de mundo do que dar uma nota que só serve para aprovar ou reprovar.” Confira a seguir os principais passos do trabalho de Roberta.


1. Na sala de aula, as carteiras ficam na maior parte do tempo em “U”, para que a professora esteja próxima de todos. Além da observação, ela utiliza instrumentos de avaliação diversificados. Cada um deles se adapta ao conteúdo estudado ou a seu objetivo no momento. Nos debates e nas intervenções das crianças durante as aulas, Roberta fica atenta na expressão oral. Nos exercícios escritos, na coerência e coesão dos textos ou no raciocínio em Matemática, por exemplo. Nos trabalhos em grupo, na solidariedade.


2. Roberta corrige em classe as atividades de cinco crianças, em média, por dia. Estabelecendo um rodízio, por sorteio, avalia todos com o mesmo objetivo, porém em atividades diferentes. Na hora da correção, vai perguntando os caminhos que cada um utilizou e pensa nas estratégias para fazê-los evoluir. Tudo é anotado.


3. Após as aulas, Roberta reorganiza as conclusões dessas conversas num caderno de apoio. Também coloca ali os pontos observados no decorrer da aula e que foram anotados precariamente numa tabelinha. Os registros oficiais são feitos na caderneta da escola, em que não há lugar para notas, mas para os conteúdos trabalhados, as competências desenvolvidas e as estratégias utilizadas. Os relatórios são construídos durante todo o ano e servem de base para o planejamento diário. As dificuldades percebidas são trabalhadas, por exemplo, em monitorias e atividades em grupo. As crianças mais adiantadas auxiliam os colegas que ainda não compreenderam determinados conteúdos. Para os próximos professores esses registros serão valiosos. “Eles saberão exatamente com quem vão trabalhar”, resume Roberta.

Trocando em miúdos

No trabalho de Roberta, a avaliação visa à melhoria da aprendizagem porque…
  • a professora usa a avaliação para investigar como os alunos estão aprendendo e o que deve ser feito para melhorar;
  • os alunos percebem que a avaliação tem como objetivo fazer todos aprenderem e vêem o trabalho em sala ganhar sentido;
  • a professora observa os estudantes individualmente, procurando sanar as dificuldades específicas de cada um;
  • os alunos têm a oportunidade de desenvolver atividades que objetivam resolver suas dúvidas e progredir. 

Instrumentos diversificados

Na avaliação formativa nenhum instrumento pode ser descrito como prioritário ou adotado como modelo. A diversidade é que vai possibilitar ao professor obter mais e melhores informações sobre o trabalho em classe (leia o texto ao lado). “A avaliação precisa ser processual, contínua e sistematizada”, diz Janssen Felipe da Silva. Nada pode ser aleatório, nem mesmo a observação constante. Ela só será formativa para o aluno se ele for comunicado dos resultados.


Janssen explica ainda que os instrumentos utilizados devem ter coerência com a prática diária. “Não é possível ser construtivista na hora de ensinar e tradicional na hora de avaliar”, explica. Outro ponto a ser lembrado por todo professor: cada conteúdo ou matéria exige uma forma diferente de ensinar e também de avaliar. “Não posso fazer uma prova e perguntar: você é solidário?”, exemplifica. “É preciso criar uma situação em que seja possível verificar isso.”


Os instrumentos devem contemplar também as diferentes características dos estudantes. “Quem avalia sempre por meio de seminários prejudica aquele que tem dificuldades para se expressar oralmente”, exemplifica. A viabilidade é outro ponto essencial. Ao planejar um questionário, deve-se evitar textos ambíguos e observar o tempo que será necessário para respondê-lo adequadamente.


Qualquer que seja o instrumento que adote, o professor deve ter claro se ele é relevante para compreender o processo de aprendizagem da turma e mostrar caminhos para uma intervenção visando sua melhoria.

Rodrigo: diferentes maneiras de avaliar

Várias estratégias de ensino, várias formas de avaliar. Nisso se baseiam as aulas de História para a 8ª série do professor Rodrigo Perla Martins, do Colégio Monteiro Lobato, em Porto Alegre. Aplicando uma série de tarefas avaliativas, ele consegue analisar formas de expressão do aluno, como ler e interpretar, redigir, desenhar, buscar informações. Os instrumentos são aplicados de acordo com o tema trabalhado e todas as impressões viram relatório.


O objetivo é sempre o mesmo: fazer Rodrigo descobrir como levar a turma a avançar mais. 

1. Um dos temas trabalhados no ano passado foi navegações. Numa das avaliações, Rodrigo pediu uma produção visual, um desenho ou uma história em quadrinhos em que os alunos tinham de descrever o encontro entre nativos e portugueses na chegada destes ao Brasil, em 1500. “A maneira como os dois povos se relacionaram, o cenário, as roupas, os hábitos e a língua deveriam estar presentes na cena”, diz Rodrigo.


2. Em seguida Rodrigo trabalhou os reflexos no Brasil de hoje da chegada dos colonizadores. É constante em seu planejamento a ponte entre fatos históricos e a atualidade. Depois de ler reportagens de jornais, a turma escreveu textossobre os reflexos da colonização portuguesa na vida dos nativos hoje e sobre a relação entre as capitanias hereditárias e o Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra. Em exercícios como esse, ele pode analisar se os estudantes conseguem estabelecer relações, se os argumentos têm coerência, se os dados citados são precisos e se saem do senso comum.


3. Uma das estratégias de ensino de Rodrigo são os seminários, leituras de textos acompanhadas por ele. Um desses textos foi a carta de Pero Vaz de Caminha. “Surgem perguntas e idéias ótimas durante a discussão”, revela Rodrigo. A estratégia é perfeita para que ele analise as dúvidas e o raciocínio que o aluno está fazendo. Para finalizar, pediu uma nova produção de texto, desta vez uma carta aos portugueses. O objetivo, contar as impressões de quem pusesse os pés pela primeira vez no Brasil hoje.


Conceitos não assimilados ou objetivos não atingidos são sempre revistos. E isso pode ocorrer em atividades interdisciplinares. Com a professora de Arte, Rodrigo retomou os aspectos culturais do encontro entre portugueses e índios. Os alunos capturaram imagens na internet e reconstruíram a cena.


4. As dificuldades mais sérias são trabalhadas em atividades complementares, realizadas num horário extra. “Pode ser uma pesquisa dirigida na biblioteca, seguida de uma nova produção de texto”, cita. Nessa pesquisa, o professor analisa se o estudante consegue construir um conceito com as próprias palavras, em vez de apenas copiar, ou expressar um ponto de vista próprio. Apesar de não existir uma só verdade histórica, é possível avaliar se as idéias são mais ou menos coerentes com as fontes consultadas.


A cada etapa do processo avaliativo o professor elege alguns aspectos e objetivos a analisar. “Sistematizando essas etapas, ao final do tema navegações eu tinha uma visão geral de cada um ao longo de todo o processo”, finaliza Rodrigo.

Trocando em miúdos

No trabalho de Rodrigo, a avaliação visa à melhoria da aprendizagem porque… 


o professor não tem a preocupação de classificar melhores e piores, mas de fazer com que todos aprendam. Para isso, diversifica o planejamento;


os alunos são respeitados em sua individualidade e podem observar seus progressos em relação a si próprios, dentro do ritmo de aprendizagem de cada um.

Quer saber mais?

BIBLIOGRAFIA
Avaliação: Da Excelência à Regulação das Aprendizagens entre Duas Lógicas, Philippe Perrenoud, 183 págs., Ed. Artmed, tel. (0_ _51) 330-3444, 32 reais


Avaliação Educacional, Heraldo Marelim Vianna, 193 págs., Ed. Ibrasa, tel. (11) 3107-4100, 30 reais


Avaliação Desmistificada, Charles Hadji, 136 págs., Ed. Artmed, 29 reais


Avaliação Mediadora, Jussara Hoffmann, 197 págs., Ed. Mediação, tel. (51) 3311-7177, 26 reais


Avaliação: Mito & Desafio, Jussara Hoffmann, 118 págs., Ed. Mediação, 24 reais


Avaliar para Promover, Jussara Hoffmann, 217 págs., Ed. Mediação, 28 reais


Erro e Fracasso na Escola, Julio Groppa Aquino, 153 págs., Ed. Summus, tel. (11) 872-3322, 24 reais

Fonte: novaescola.org.br