Como um aluno saiu da hipótese silábica para a alfabética no 2º ano
(Foto: Mariana Pekin) |
Escrito por: Mara Mansani
Naquela turma de 2º ano, encontrei o Ariel. Fiquei encantada com ele logo no primeiro momento: um menino extremamente alegre, que sorria até com os olhos e mesclava leveza, pureza e travessuras. Ele fazia parte da metade da turma que não lia nem escrevia com autonomia, o que o deixava extremamente angustiado. Mas além de precisar, Ariel tinha muita vontade de aprender.
No começo do ano, depois da sondagem das hipóteses de escrita de cada um, me organizei para fazer propostas mais individualizadas e intervenções certeiras enquanto liam e escreviam. Nesse processo, acompanhei a trajetória vitoriosa dos meus 22 queridos alunos da turma, mas sem tirar o olhar de Ariel: mês a mês, ele avançou da hipótese silábica com valor sonoro à alfabética, rumo a estar alfabetizado.
Diariamente, propunha que todos escrevessem e lessem para elaborar um almanaque sobre animais. Para isso, pesquisei materiais de boa qualidade que abordassem o tema, como textos informativos científicos, poemas, parlendas, contos, adivinhas, fábulas e fichas técnicas para a leitura e interpretação. Fizemos também a escrita de listas, parlendas, ditados populares e poemas, além da reescrita de contos e fábulas, de textos do tipo “você sabia?” e muito mais. Lemos muitos, muitos livros sobre animais e compartilhávamos nossas ideias e sensações nas rodas de conversa.
Ariel, assim como Laís e Gustavo, que tinham conhecimentos semelhantes a ele, fazia as mesmas atividades que os demais, mas o meu olhar em relação a ele era sempre atento. Sabia que as propostas exigiam maior tempo de execução e eram essenciais as atividades em duplas ou em pequenos grupos para reunir colegas que tivessem hipóteses de escrita próximas. Posso afirmar que não foi fácil conciliar essas propostas com as demais obrigações do planejamento, mas considero que foi essencial procurar diferentes estratégias para atender a todos. Acredito que se um aluno do 2º ano avança para o ano seguinte sem estar alfabetizado, vai acumulando suas dificuldades e prossegue muito desestimulado – além de deixar nós, professores, um tanto frustrados.
Nos momentos de debate e reflexão sobre a evolução dos alunos, lembro de um trecho de O Diálogo Entre o Ensino e a Aprendizagem (Ed. Ática), de Telma Weiss, que diz: “O professor é quem precisa compreender o caminho de aprendizagem que o aluno está percorrendo naquele momento e, em função disso, identificar as informações e as atividades que permitam a ele avançar do patamar de conhecimento que já conquistou para outro mais evoluído. Ou seja, não é o processo de aprendizagem que deve se adaptar ao de ensino, mas o processo de ensino é que tem de se adaptar ao de aprendizagem. Ou melhor: o processo de ensino deve dialogar com o de aprendizagem.”
Como foi bom acompanhar e participar do processo de aprendizagem do Ariel. Às vezes ele percorria pequenos passos e em outros momentos mostrava avanços significativos em suas descobertas. Percebi a transformação positiva que a aprendizagem da leitura e da escrita fizeram na sua vida, como ampliou a liberdade de escolhas, passou a entender com mais tranquilidade o mundo e a descobrir suas inúmeras possibilidades.
Atualmente, no 3º ano, Ariel lê, escreve e produz bons textos. Agora os desafios são de ordem ortográfica e da escrita com letra manuscrita (ou cursiva). Valeu todo o meu esforço e estudo, e também o dele e de seus colegas. Pois vencemos, todos nós, nossos obstáculos. Todos leem e escrevem!
E vocês? Como andam superando os obstáculos na alfabetização de seus alunos? Conte em seus comentários suas experiências, suas boas práticas em alfabetização, ou suas dúvidas em relação a elas.
Escrito por: Mara Mansani – Retirado do site NOVAESCOLA