O que não pode faltar na creche
O que não pode faltar na creche |
O que propor Uma das primeiras brincadeiras do bebê é imitar os adultos: ele observa e reproduz gestos e caretas no mesmo momento em que acontecem. Com cerca de 2 anos, continua repetindo o que vê e também os gestos que guarda na memória de situações anteriores, tentando encaixá-los no contexto que acha adequado. Tão importante quanto valorizar essas imitações é propor ações físicas que possibilitam sensações e desafios motores. “É pela experimentação que a criança se depara com as novidades do espaço, sente cheiros e percebe texturas, tamanhos e formas”, explica Ana Paula Yasbek, coordenadora pedagógica da Escola Espaço da Vila, em São Paulo.
Para um trabalho eficiente, uma boa estrutura é essencial. Isso inclui ter material suficiente para que todos consigam compartilhar e um bom espaço de criação. “Os ambientes devem ser convidativos e contextualizados com a história que se quer construir”, diz Ana Paula. Uma área ao ar livre, mesmo que com poucas árvores, vira uma grande floresta. Uma sala bem cuidada, rica em cores e com variedade de brinquedos e estímulos igualmente possibilita momentos criativos, prazerosos e produtivos.
BRINCAR Momento de construir histórias (à esq.) e perceber formas (no centro) e texturas (dir.). Fotos: Marcos Rosa e Diana Abreu |
LINGUAGEM ORAL Gestos (à esq.), diferentes expressões faciais (dir.), balbucios e gritos dão início à fala. Fotos: Marcos Rosa e Diana Abreu |
Esta creche faz Todos os dias, a turma de 2 anos da EMEB Valderez Avelino de Souza, em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, participa de rodas de conversa. Nessa fase, acontecem relatos de experiências pessoais no bate-papo, além da invenção de outros elementos. Foi o que aconteceu no dia em que um dos pequenos contou que tinha visto um tubarão. “Outro completou dizendo que aquilo tinha sido na praia e um terceiro falou que nadava como o bicho”, conta a coordenadora pedagógica Pétria Ângela de Jesus Rodrigues Ruy dos Santos. A professora foi puxando o assunto e encaminhando a conversa. Um garoto, que até então estava quieto, saiu-se com esta: “Meu pai pescou um tubarão. Ele era enorme. Professora, quer ir pescar com meu pai?” Sabendo que é muito comum nessa fase mesclar informações reais com outras tiradas da imaginação, ela, é claro, aceitou o convite.
Os espaços da creche devem ser desafiadores e, ao mesmo tempo, seguros. São ambientes propícios para as atividades desse tipo tanto o pátio como a sala. Ali, são colocados bancos ou caixas que sirvam de apoio para os que estão começando a andar e ficam distribuídos brinquedos de equilíbrio. Enquanto a turma se mexe para lá e para cá, não se perde um lance. Um educador atento sabe quando um suspiro revela cansaço ou uma careta demonstra algum desagrado.
Esta creche faz Brincar, dormir, mamar, almoçar e dançar acompanhando o ritmo da música. A turma de 1 ano da CEI Cidade de Genebra, em São Paulo, não pára quieta. “Logo que acordam, os bebês tomam mamadeira e saem dos colchonetes quando querem. Como não há berços, eles têm liberdade para se movimentar”, diz a professora Anali Pereira dos Reis. No solário, com brinquedos de plástico e espaço para correr, eles escorregam, se balançam na gangorra e andam no cavalinho. Mesmo tão novinhos, já são craques no sobe-e-desce e no equilíbrio. Faz pouco tempo que aprenderam a andar, mas já entram nos carrinhos de plástico e saem dele sem ajuda e se divertem passando por dentro de bambolês, dando cambalhotas e rolando nos colchões.
ARTE Materiais de texturas e cores variadas, como tintas comestíveis, aguçam os sentidos. Foto: Marcos Rosa |
O que propor Quanto mais variadas as experiências apresentadas, maior a garantia de qualidade no desenvolvimento do grupo. Escutar sons, como os produzidos por batidas em várias partes do próprio corpo e pela manipulação de objetos, ouvir canções de roda, parlendas, músicas instrumentais ou as consideradas “de adulto” faz a diferença nessa fase. Além de ouvir e repetir um repertório já conhecido, a turma deve ser orientada a improvisar e criar canções, brincar com a voz, imitar sons de animais e confeccionar instrumentos. “A música contribui para um desenvolvimento pleno e harmônico, já que incide diretamente na sensibilidade, na expressão e na reflexão”, afirma Teca Alencar de Brito, co-autora do Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil.
Da mesma maneira, o ideal são atividades de artes visuais diversificadas. Uma boa prática inclui desenhos – e não o preenchimento de modelos prontos -, pinturas ou esculturas usando diversos materiais e possibilitar o contato com novos recursos visuais para ampliar as referências artísticas. As produções da classe ficam à disposição para que sejam observadas e comentadas e para que cada um reconheça o que é de sua autoria.
Esta creche faz No EMI Josefina Cipre Russo, em São Caetano do Sul, na Grande São Paulo, artes visuais e música fazem parte do cotidiano dos pequenos de 3 anos. Eles criam instrumentos com materiais reciclados e acompanham as músicas dançando e cantando. No dia-a-dia, eles desenham com giz, lápis, guache e aquarela, fazem esculturas e mexem com massinha e tintas comestíveis. Assim, a turma sente cheiros e texturas e aprecia cores diferentes. “As tintas são caseiras e dá para limpá-las facilmente. Colocar na boca ou deixar cair na roupa não é problema”, diz a diretora, Eliane Migliorini.
A organização do ambiente em cantos de atividades é outro meio de favorecer o exercício de escolha, já que cada um define onde brincar, com quem e por quanto tempo. Para ajudar na construção da identidade, cabe ao educador chamar cada um pelo nome e ressaltar a observação dos aspectos físicos individuais. “Colocar grandes espelhos nas salas, ter fotos de cada um junto dos cabides em que penduram as mochilas, identificar as pastas com o nome e um desenho, por exemplo, são ótimas maneiras de estimular a atenção para as próprias características e fazê-los perceber a diferença e semelhança em relação aos colegas”, diz Cisele.
Esta creche faz Na turma de 2 anos da CEI Jacyra Pimentel Gomes, em Sobral, a 248 quilômetros de Fortaleza, cada criança vê o nome escrito, reconhece a própria foto e aprecia imagens da família nas paredes da sala. A coordenadora pedagógica Carlinda Maria Lopes Barbosa diz: “Cada um entende que é diferente do amigo por ser identificado de outra maneira”. Para reforçar esse aprendizado, explica-se que existem objetos que são compartilhados e outros individuais, como a mochila e as roupas.