Educar dói, mas é necessário
Bar da piscina. Menino ,com o dobro da altura do garçom e barba na cara, pede uma caipirinha. Diz que é para sua mãe que está na piscina. Aponta para uma piscina completamente lotada de mães. Você duvidaria?
Educar dói, mas é necessário |
O garçom, de boa fé, vendeu a caipirinha. Estava ali, sol a pino, trabalhando honestamente. E, entre uma piada e outra, mostrando a foto da filha sorridente de, no máximo quatro anos. Nem imaginou que estava sendo enganado.
Não passou muito tempo para que uma mãe descontrolada viesse tomar satisfação. Toda a água da piscina, da ducha, do chuveiro não bastariam para acalmar a fúria da criatura. O erro, segundo ela, foi dele que não conferiu a idade.
Estamos em pleno verão. Na piscina de um hotel fazenda. É só dar o número do quarto e assinar a comanda. Quem anda com identidade? Nem identidade, nem dinheiro, nem preocupação. Sem lenço e sem documento.
Então , um adolescente mente, engana. E a culpa é do garçom? É isso mesmo? Sim, é isso mesmo. Assim se assiste ao processo de construção de um canalha. O aluno que nunca está errado, sempre acusa o professor. O profissional com um discurso de incompreendido. Pessoas que nunca enfrentam seus erros e cospem a culpa para o desavisado ao lado.
Quem assiste às notícias nos jornais acha que foi de repente. Nada começa de repente. São pequenos erros acobertados. Pequenas safadezas onde a criança nunca é punida. Bom? Pode ser. Em termos de Brasil, quem sabe ele não acaba seguindo carreira política?
Não sou perfeita. Estou bem longe disso. Também não consegui criar filhos perfeitos, lamentavelmente. Temos todos muitos momentos de mané. Falhamos muito. Mas algumas coisas, para mim, são essenciais. E delas não abro mão. Honestidade é uma delas. E eles sabem disso. Sabem que as coisas são causa e efeito. E que o efeito não é bom. É isso que faz o freio.
Playboys, meninos que põem fogo em mendigo, espancam homossexuais, quebram, batem, destratam. Procure o histórico. Há uma família cúmplice por trás disso.
Adolescentes testam, burlam, ousam, mentem. Faz parte dessa fase. Riscos do crescimento. Problema maior não são as pequenas ousadias. Não se tornarão, necessariamente, más pessoas por isso. Pode ser apenas uma tentativa desengonçada de conhecer além do permitido.
O que faz a diferença é a forma como esses atos serão encarados pela família. Nessas horas, fechar os olhos e fingir não ver é fatal. É preciso conversar. Punir de alguma forma para mostrar que tudo tem um preço. Encarar nossas falhas é doloroso. E o que nos faz ser melhor também.
Crescemos na dor. Na dor de ver filho errando. Na dor de não saber o que fazer. Se fosse comigo, acho que eu faria a criatura se desculpar com o garçom. Não se brinca com o trabalho dos outros. Isso é constrangimento? Não, isso é vergonha na cara. Isso é ensinar que todos merecem o mesmo respeito. É educação.
O rapaz que comprou a caipirinha no bar do hotel sabia que seria descoberto. Ele conta, inconscientemente, com isso. É seu jeito desengonçado de mostrar que algo não está bem . Há fatos que acontecem para serem descobertos. Não se trata de burrice. Ao contrário, é uma forma de pedir socorro. Uma forma dele mostrar que está sem controle, sem limites e precisa de atenção e cuidado.
A mãe deu ataque. Mudou o foco do problema. Transformou o garçom em réu e seu filho em vítima, inverteu a ordem das coisas. E perdeu uma ótima oportunidade de enxergar ali o problema do seu filho que pode estar indo ladeira abaixo. Passar a mão na cabeça só cria coitadinhos furiosos que acham que sempre têm razão. Educar dói, mas é necessário.
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