A Afetividade no processo de aprendizagem
A afetividade no processo de aprendizagem: Confira a seguir mais um artigo do nosso parceiro “Professor Marcos L Souza” – Pedagogo – Historiador e Mestre em Filosofia.
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A afetividade no processo de aprendizagem
Sabemos que a afetividade já foi bastante estudada e considerada como um dos fatores na educação, pois é através das interações sociais que se constrói a aprendizagem. É primordial que o educador tenha uma postura de de mediador, estimulando o processo de aprendizagem desse sujeito em construção. Os sentimentos são um dos elementos que constituem o ser humano, de forma que não podem ser negligenciados de maneira alguma, pois fazem parte de suas habilidades e competências altamente valorizadas na atualidade. Nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) ( Brasil, 1997), consta que uma educação de qualidade deve desenvolver as capacidades inter-relacionais, cognitivas, afetivas, éticas e estéticas, visando a construção do cidadão em todos os seus direitos e deveres. Verificou-se a necessidade de desenvolvimento de projetos escolares que contemple o trabalho das emoções.
A afetividade deveria ser a primeira preocupação dos educadores éticos, porque é um elemento que condiciona o comportamento, o caráter e a atividade cognitiva da criança. E o amor não é contrário ao conhecimento podendo tornar-se lucidez, necessidade e alegria de aprender. Quando se ama o mundo, esse amor ilumina e ajuda a revelá-lo e a descobri-lo ( SNYDERS ,1986).
Entende-se que a escola é a continuação do lar, na verdade há crianças que passam mais tempo na escola que com suas famílias, sendo que esta não pode se limitar a fornecer somente conhecimentos conceituais e curriculares, mas também contribuir para o desenvolvimento da personalidade de seus alunos em sua totalidade é um imprescindível papel do educador. A maior influência no processo escolar é exercida pelo professor que tem o papel de mediador “ Facilitador” e que precisa ter o conhecimento de como se dá o desenvolvimento emocional e comportamental da criança em todas as suas manifestações.
Crescer é também estabelecer vínculos que não sejam somente vínculos de dependência. É no âmbito familiar a partir dos vínculos entre as pessoas destes primeiros convívios que se inicia a relação do ensinar e o aprender e que também se inicia o Alfabetizar. A base destas relações é vincular e afetiva, pois o bebê utiliza uma forma de comunicação emocional com um adulto para mobilizá-lo a ganhar os cuidados que necessita. Dessa forma o que sustenta a etapa inicial do processo de aprendizagem é o vínculo afetivo estabelecido entre a criança e o adulto (KLEIN 1996). Fernandez (1991), diz que a aprendizagem é repleta de afetividade, já que ocorre a partir das interações sociais, e nos diz ainda que, aprendizagem é uma mudança comportamental resultante da experiência, é uma forma de adaptação ao meio onde esse indivíduo está inserido.
O afeto é essencial para o funcionamento equilibrado do nosso corpo nos dando confiança, coragem, motivação, interesse, além de tornar mais fácil a socialização. A criança precisa sentir-se segura para poder desenvolver seu aprendizado, e é necessário que o professor tenha consciência de como seus atos são extremamente significativos nesse processo, porque essa relação aluno-professor é permeada de afeto, e as emoções são estruturantes da inteligência do indivíduo (WALLON, (1995).
Freire (1997), afirma a importância dos componentes afetivos na construção do conhecimento. Ele diz que devemos evitar o medo dos nossos sentimentos, de nossas emoções, de nossos desejos e o medo de que esses ponham a perder nossa cientificidade; diz ainda que, o que sabemos, sabemos com o corpo inteiro, com a mente, com os sentimentos, com a intuição e com as emoções. A afetividade constitui um fator muito importante no processo de desenvolvimento humano, e é na relação com o outro, por meio desse outro, que o indivíduo poderá se delimitar como pessoa e manter o processo em permanente construção.
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Importantes teóricos da Psicologia e Educação, a exemplo de Vigotsky , Wallon, Piaget, entre outros, produziram conhecimentos relevantes acerca da afetividade como parte integrante na constituição do sujeito. Conforme Galvão (2004), o teórico Henri Wallon trouxe uma respeitosa contribuição não só para os estudos de aprendizagem, mas também para o entendimento da dinâmica vivencial do ser humano no processo de constituição da sua personalidade.
Wallon (1995), desenvolveu seus estudos sobre afetividade em uma teoria baseada numa perspectiva histórico-cultural, afirmando em sua teoria da Psicogênese da Pessoa Completa, que a dimensão afetiva, ao longo de todo o desenvolvimento do indivíduo, tem um papel fundamental para a construção da pessoa e do conhecimento. Foi também o primeiro teórico a abordar especificamente as emoções dentro da sala de aula, e ver os conflitos com uma visão positiva, assim como pontuar questões referentes à importância dos movimentos corporais da criança neste contexto.
Este autor definiu muito bem a diferença entre emoção e afetividade, conceituando emoção como elemento mediador entre o orgânico e o psíquico. Desta forma compreende-se a emoção como o primeiro forte vínculo da criança com o mundo, assim como uma forma de expressão adaptativa com o seu meio. Já a afetividade corresponde a um momento mais tardio do desenvolvimento, sendo este marcado por elementos subjetivos que moldam a qualidade das relações com sujeitos e objetos. Logo, pode-se dizer que a afetividade sinaliza a entrada da criança no universo simbólico, proporcionando também a origem da atividade cognitiva. Segundo ele, afetividade refere-se à capacidade, à disposição do ser humano de ser afetado pelo mundo externo/interno por sensações ligadas a tonalidades agradáveis ou desagradáveis. Ser afetado é reagir com atividades internas/externas que a situação desperta.
E a visão dualista do homem enquanto corpo/mente, matéria/espírito, afeto/cognição, têm dificultado a compreensão das relações entre ensino e aprendizagem e da própria totalidade, sendo que se faz necessário conhecê-la melhor.
Contribuições de Henri Wallon para a educação
Para esse autor, o termo afetividade corresponde às primeiras expressões de sofrimento e de prazer que a criança experimenta, sendo essas manifestações de tonalidades afetivas ainda em estágio primitivo, de base orgânica. Ao se desenvolver, a afetividade passa a ser fortemente influenciada pela ação do meio ambiente, tanto que este autor defende uma evolução progressiva da afetividade, cujas manifestações vão se distanciando da base orgânica, e tornando-se cada vez mais relacionadas ao social (WALLON, 1941/2007).
Wallon (1995), diz ainda que a constituição biológica da criança, ao nascer, não será a única lei de seu destino, ela passará pelas transformações das circunstâncias da vida e também das suas escolhas pessoais. Ou seja, o desenvolvimento humano não depende apenas do potencial herdado geneticamente, mas o meio onde ele está inserido poderá desencadear modificações genotípicas. Ele também afirma que as emoções aparecem desde o nascimento do indivíduo, e são a exteriorização da afetividade e a expressão corporal e motora. Tem um poder plástico e contagioso e são os primeiros contatos com o mundo físico.
Esse importante teórico da área da educação propôs grandes contribuições estruturais no sistema educacional francês, apontando três momentos marcantes e sucessivos na evolução da afetividade: a emoção, os sentimentos e a paixão; os quais resultam de fatores orgânicos e sociais e correspondem a configurações diferentes. Na emoção, há o predomínio da ativação fisiológica; no sentimento, ativação representacional e na paixão a ativação do autocontrole. Emoções são sistemas de atitudes reveladas pelo tônus muscular, são altamente orgânicas, alteram a respiração e os batimentos cardíacos. A emoção dá rapidez às respostas do organismo, para fugir ou atacar quando não há tempo para pensar; ela é apta para suscitar reflexos condicionados. Ela estimula mudanças que tendem a diminuí-la ao propiciar o desenvolvimento cognitivo; e atitude é a combinação entre o nível de tensão muscular e a intenção.
O autor afirma que o estudo da criança exige o estudo do meio em que ela se desenvolve, e esse meio deverá corresponder às suas necessidades e as suas aptidões sensório-motoras e posteriormente psicomotoras.
Para ele, os sentimentos correspondem à expressão representacional da afetividade, não implicando em reações diretas e instantâneas como nas emoções; opõem-se ao arrebatamento, tendem a reprimir e impor controle para quebrar sua potência. Os sentimentos são manifestações mais evoluídas e aparecem mais tarde na criança quando se inicia as representações. Quando adultos os indivíduos tem maiores recursos de expressão porque primeiro observam, refletem antes de agir, sabem onde, como e quando se expressar (WALLON, 1941/2007).
O estudo do processo da aprendizagem na teoria de Wallon (1995), é dividido em conjuntos ou domínios funcionais para explicar didaticamente o que é inseparável, a pessoa. São divididos em etapas do desenvolvimento do psiquismo humano. Esses domínios são: os da afetividade, do ato motor, do conhecimento e da pessoa.
- O conjunto afetivo são as funções responsáveis pelas emoções, sentimentos e pela paixão.
- O conjunto ato motor oferece a possibilidade de deslocamento do corpo no tempo e no espaço, as reações corporais que garantem o equilíbrio corporal, bem como o apoio tônico para as emoções e os sentimentos se expressarem.
- O conjunto cognitivo oferece um conjunto de funções que permite a aquisição e a manutenção do conhecimento por meio de imagens, noções, idéias e representações.
- O conjunto funcional – a pessoa- expressa a integração em todas as suas inúmeras possibilidades.
Todos os conjuntos inicialmente se revelam de uma forma nebulosa, global, difusa, sem distinção das relações que as unem, mas em cada estágio um dos conjuntos predomina, ficando mais evidenciado, embora os outros também estejam presentes numa relação complementar.
Os estágios são: impulsivo-emocional, sensório-motor e projetivo, personalismo, categorial, puberdade e adolescência. Em cada um desses estágios de desenvolvimento há uma alternância de movimentos ou direções.
Nos estágios impulsivo-emocional (0 a 1 ano), no personalismo (3 a 6 anos), na puberdade e adolescência (11 anos em diante), a direção do movimento é para dentro, para o conhecimento de si, o predomínio é afetivo.
Nos estágios sensório-motor, e projetivo (1 a 3 anos) e no categorial (6 a 11 anos), o movimento é para fora, para o conhecimento do mundo exterior e o predomínio é do cognitivo.
Embora nessa teoria o desenvolvimento seja descrito até a adolescência, esse processo não termina nessa etapa da evolução humana, porque a constituição do “eu” é um processo que jamais acaba, perdurando por toda a vida. Somos seres Inacabados “ Paulo Freire”.
Relação Aluno-Professor
Fernández (1991), diz que é no decorrer do desenvolvimento que os vínculos afetivos vão se ampliando na figura do professor e na importante relação de ensino e aprendizagem na época escolar. Diz também, que para haver aprendizagem é necessário que haja no mínimo dois personagens, o ensinante e o aprendente. Nessa relação é necessário confiança, pois não aprendemos de qualquer um, mas aprendemos daquele a quem outorgamos o direito de ensinar.
O papel do professor é de mediador do conhecimento, é a ponte para facilitar o aprendizado. Queira ou não, ele é um modelo na sua forma de expressar valores, resolver conflitos, comunicar-se; na forma de ouvir, falar e de relacionar-se com os outros professores e com os alunos. E a forma como o professor se relaciona com o aluno se reflete nas relações do aluno com o conhecimento e na relação aluno-aluno. Nessa relação há um antagonismo entre emoção e atividade intelectual que Wallon chama de antagonismo de bloqueio, ele também diz que quando não são satisfeitas as necessidades afetivas, estas resultam em barreiras para o processo ensino-aprendizagem e, portanto, para o desenvolvimento, tanto do aluno como do professor e que esses conflitos são essenciais ao desenvolvimento da personalidade (WALLON, 1995).
Almeida (2001), refere que essa natureza antagônica da relação aluno-professor oferece riquíssimas possibilidades de crescimento e que o conflito faz parte da natureza, da vida das espécies, porque somente ele é capaz de romper estruturas prefixadas, limites predefinidos e atingir os planos sociais, morais, intelectuais e orgânicos.
O educador do século XXI necessita ter competências e habilidades para perceber e intervir em situações que envolvam conflitos e crises emocionais, o educador deve ter consciência do poder do contágio emocional entre as crianças e atuar nessas situações, promovendo intervenções que possam ser administradas de forma significativa e, possivelmente, benéfica para o grupo.
Há uma necessidade urgente de renovação dos processos de ensino-aprendizagem que devem levar em conta a renovação também das estruturas organizacionais. É necessário construir estratégias que gere, tanto na sala de aula como na escola, um clima de segurança, confiança e respeito a individualidade de cada indivíduo que, por consequência, trará liberdade de expressão emocional, física e criativa. Escolas não são edifícios, escolas são pessoas “ José Pacheco”. A aprendizagem está intimamente ligada a transformações sociais e a comunidade deve se ater ao seu papel crucial dentro da escola, porque sem a participação da mesma, não haverá mudanças sociais e nem aprendizado.
Aprender a conviver em sociedade é um dos objetivos da educação escolar. Para isso, é necessário ensinar a conciliar a relação igualdade e diferença, paz e violência, aceitação e preconceito, sendo que esse processo exigirá dos professores uma postura democrática e não autoritária onde trabalha a criatividade e liberdade de expressão, que são contrários ao modelo atual onde é esperado o mesmo comportamento para todos, como se fosse possível colocar uniformes no interior dos alunos. Até mesmo o modelo de avaliação da aprendizagem deve ser revisto, pois não aprendemos da mesma forma e não nos comunicamos no mesmo nível de linguagem, o que não quer dizer que não somos capazes de aprender, mas sim que todo ser humano é único.
Vygotsky e Wallon (1992), afirmam que a relação afetividade-inteligência possui um caráter social e fundamental para todo o processo de desenvolvimento do ser humano. E cabe ao educador integrar o que amamos com o que pensamos, trabalhando razão e emoção. De modo que todo indivíduo tenha condições de usar tanto a razão quanto os sentimentos, e aprenda a conhecer-se a si mesmo e a seus semelhantes.
O professor é o único no mundo que tem nas mãos a argila com a qual se moldará o amanhã. Antunes (2002).
A afetividade no processo de aprendizagem em WORD.
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