A pedagogia Waldorf segundo Rudolf Steiner
A pedagogia Waldorf segundo Rudolf Steiner: Artigo enviado pelo nosso parceiro “Professor Marcos L Souza – Pedagogo – Psicopedagogo – Educador musical – Historiador.
A pedagogia Waldorf segundo Rudolf Steiner
A Pedagogia Waldorf é baseada na filosofia da educação do austríaco Rudolf Steiner, fundador da antroposofia. O conceito de sua teoria procura integrar de maneira holística o desenvolvimento físico, espiritual, intelectual e artístico dos alunos e seu principal objetivo é desenvolver indivíduos livres, integrados, socialmente competentes e moralmente responsáveis.
Uma das principais características da Pedagogia Waldorf e a autonomia. Fica claro que professores e escolas possuem flexibilidade para adequar suas propostas pedagógicas de acordo com as necessidades de seus alunos.
Criada em 1919 em Estugarda, na Alemanha, tem como base o conceito de que o desenvolvimento de cada ser humano é diferente. Assim, o ensino deve levar em conta as diferentes características de cada indivíduo. Um mesmo assunto que se pretende ensinar é abordado várias vezes durante o ciclo escolar, mas nunca da mesma maneira, e sempre respeitando a capacidade de compreensão de cada um. Fundamentalmente, esta pedagogia tem como objetivo, desenvolver a personalidade de forma equilibrada e integrada, estimulando o florescimento na criança e no jovem de: clareza do raciocínio; equilíbrio emocional; e iniciativa de ação.
A Pedagogia Waldorf na Educação Infantil
Educar para o futuro significa encarar, a partir da própria organização escolar, os principais desafios que a atualidade nos propõe.
A Pedagogia Waldorf, aborda a importância fundamental da educação nos primeiros 7 anos de vida do ser humano, por se tratar da fase da vida na qual é desenvolvida a organização do corpo físico, o veículo que o indivíduo irá usar como meio e instrumento para a concretização de sua missão na Terra. A educação visa proporcionar um corpo são para uma mente sã segundo a teoria de Rudolf Steiner.
Até aproximadamente os três anos de idade, o cérebro, centro nervoso, está em franco desenvolvimento, cheio de vitalidade, sendo moldado conforme os estímulos vindos do ambiente e pelas experiências corporais que fazem uso da motricidade para estimular as habilidades motoras, expressivas, cognitivas e consequentemente desenvolver a autonomia e a autoconfiança. As experiências vividas inicialmente em nível corpóreo ficam gravadas no cérebro e poderão ser usadas posteriormente como ponto inicial do pensar.
A criança que pôde desenvolver corretamente sua habilidade corpórea natural tem uma boa pré-disposição para um pensar vivo e ativo, no decorrer de toda sua vida.
Durante seu desenvolvimento, nos três primeiros anos de vida, quando por meio de um grande empenho, a criança conquista o andar ereto, o falar e inicia o processo de pensar, é a fase do aprendizado mais importante da vida. Trata-se das três capacidades intrínsecas do homem que o distinguem do animal. O acompanhamento correto desse processo é a base para a elaboração educacional para berçários e maternais. Quanto menos interferências houver nesses processos, acelerando-os ou deixando de criar condições propícias, tanto melhor para a criança (Uma das bases para a pedagogia Motessoriana).
Outro momento importante destacado entre os dois ou três anos de idade, é quando a criança diz “eu” enxergando a si própria como ser único. Antes era egocêntrica, egoísta por natureza; agora, ela vai despertando para o convívio social. A teimosia típica dessa idade deve ser compreendida como uma medição de forças para o conhecimento das capacidades do eu próprio.
A maturidade da criança para ingressar no jardim da infância, onde vai ter que aprender a conviver socialmente, mostra-se à medida que ela sabe lidar com o “tu”, em torno dos três a quatro anos de idade. Também é o momento em que as primeiras características do pensar se ampliam, mostrando uma grande mobilidade de pensamentos que podem se unir arbitrariamente, nem sempre fiéis à realidade exterior: A criança cria seu mundo de brincar, que é influenciado intensamente pela imitação e pela fantasia. No ambiente corpóreo se apresenta uma crescente capacidade no uso dos braços e das mãos como também um domínio no uso da respiração. Aos cinco anos de idade, ocorre uma nova mudança de comportamento da criança. As brincadeiras se tornam mais ordenadas, numa imitação fiel da realidade vivida pela criança. As perguntas muitas vezes têm um cunho “filosófico” e também aparece a capacidade de compreender o ontem, o hoje e o amanhã, significando um novo passo no despertar do pensamento.
No âmbito corpóreo, as crianças de cinco e seis anos mostram maior habilidade no uso de pernas e pés. As habilidades corpóreas vão se desenvolvendo da cabeça aos pés, repetindo o processo formativo do feto e o processo do nascimento. Como a criança entre os primeiros 7 anos ainda não desenvolveu, por natureza, sua capacidade de raciocínio, o educador não pode apelar para uma compreensão. Ele terá que apelar a um elemento nato, ou seja, a imitação. A criança aprende a se adequar aos apelos do mundo por meio da imitação das pessoas e das ocorrências do seu redor. O educador é um exemplo que deve ser digno de ser imitado (A importância do Mediador- Teoria de Vygotsky). Ele faz parte do meio ambiente formador da criança. Na educação infantil, o educador deve estimular a imaginação e a criatividade da criança, formando uma ponte que liga o mundo verdadeiro com o imaginário fantasia, tornando assim o aprendizado mais prazeroso e eficaz.
No jardim de infância são agrupadas crianças de quatro a seis anos, porque o ambiente e as atividades desenvolvidas atendem a todas as idades, uma vez que a proposta da pedagogia Waldorf para os primeiros 7 anos é criar um ambiente propício para a formação, e não uma pré-escola com informações ou ensino formal. O jardim de infância, como o maternal, é o prolongamento do lar e não uma “ante-sala” do ensino escolar. Assim como numa família onde irmãos de idades diferentes educam-se mutuamente, também as crianças de jardim de infância, em grupos de idades mistas, têm essa mesma oportunidade. Nos primeiros 7 anos, o desenvolvimento está centrado principalmente na organização corpórea e sendo influenciado intensamente pelos estímulos do ambiente no qual a criança vive, a atenção que o educador deve dar à formação dos órgãos sensoriais é indiscutível. São os sentidos que trazem as mensagens do próprio corpo e ajudam a criança a fazer uso dessas atribuições para se adaptar ao mundo. O educador que utiliza os conceitos da Pedagogia Waldorf, dá muita importância à qualidade dos fenômenos e objetos que justamente vão influenciar a formação e o funcionamento dos órgãos dos sentidos.
Outro principal aspecto da Pedagogia Waldorf é o Ritmo.
Todo processo vivo de aprendizagem deverá necessariamente respeitar e fomentar um ritmo adequado. A pedagogia Waldorf considera fundamental a alternância sadia e equilibrada entre concentração e expansão, entre atividade intelectual e prática, entre esforço e descanso, entre recordação e esquecimento. Assim se planeja o mais cuidadosamente possível, a partir desse ponto de vista, tanto na prática educativa anual, mensal, semanal e diária, como também cada uma das horas de aula, a fim de conseguir o ritmo adequado às fases de compreensão, assimilação e produção da aprendizagem. Isso requer estruturas flexíveis e móveis que integrem tempos, durações e ritmos multiformes, ou seja, um novo significado do tempo. Em educação, isso exige uma organização dinâmica que se adapte aos conteúdos, às práticas pedagógicas e ao aluno. A criança vivencia o ciclo anual de uma forma direta, pois o perfaz com todo seu ser, como se fizesse parte da natureza. No ritmo de cada dia, o brincar ocupa um lugar de extrema importância.
O valor do brincar para o desenvolvimento sadio da criança é cientificamente comprovado e é a preocupação de muitos educadores. Na pedagogia Waldorf ele tem valor preponderante, principalmente na educação da criança nas séries iniciais. O brincar livre, não dirigido ou proposto, é visto como o maior e o melhor estimulador para um desenvolvimento que esteja de acordo com a maturidade etária e as capacidades individuais de cada criança. O impulso natural interior da criança para aprender a se tornar humana, para adaptar-se e se adequar ao ambiente, encontra evasão no brincar livre. Ela procura a atividade lúdica que melhor corresponde às suas necessidades evolutivas momentâneas, seguindo inconscientemente e instintivamente os estímulos provenientes de uma sabedoria corpórea. Faz parte da natureza da criança querer sempre se superar, tornando-se cada vez mais capaz no domínio de sua própria corporalidade e na interação com o mundo.
Os educadores mediadores desenvolvem o papel de criar o ambiente e as condições para o processo auto-educativo da criança, no brincar livre. Sua primeira preocupação é criar um ambiente propício para o desenvolvimento dos órgãos dos sentidos, que irão se formar de acordo com as qualidades dos estímulos. Não é o excesso de estímulos que irá proporcionar uma organização sensória capaz de perceber as sutilezas do mundo, justamente aquelas que mais enriquecem a vida interior. O excesso de impressões e estímulos não permite que a criança tenha tempo para se ligar ao percebido; ela irá desenvolver o hábito para a superficialidade e terá dificuldades para a concentração. Cada objeto em sala de aula deve ter seu valor para que as crianças possam criar vínculo com os mesmos. Estas são qualidades importantes a serem desenvolvidas em nossa época em que quase tudo é descartável e, portanto, desprezível. Os objetos e os brinquedos devem ser de materiais naturais, duradouros e bonitos esteticamente, já que irão influenciar a formação dos órgãos dos sentidos e, indiretamente, despertar o amor e o respeito pela natureza.
Os objetos com os quais as crianças brincam não devem ter um acabamento pormenorizado, réplicas fiéis dos objetos usados pelos adultos. Eles devem despertar a fantasia infantil que lhes dará o “acabamento personalizado”, de acordo com as necessidades solicitadas pela imaginação. Além dos brinquedos estruturados usuais como bonecas, carros, bolas, etc, dá-se muita importância, na Pedagogia Waldorf, ao oferecimento de objetos rústicos naturais, tais como a natureza oferece, como pinhas, sementes de vários tamanhos, tocos de madeira de vários tamanhos e formas, conchas, pedras, raízes e tudo que possa estimular a fantasia da criança, que logo encontrará uma “utilidade” para eles.
Uma das principais características da Pedagogia Waldorf, é justamente a importância que se dá na utilização da música como ferramenta pedagógica indispensável no processo de aprendizagem. São oferecidos instrumentos musicais de percussão e melódicos como metalofone, xilofone, triângulos, sinos, etc. Dentre as atividades desenvolvidas no jardim de infância Waldorf, cabe destacar alguns pontos que demonstram, na prática, a proposta pedagógica em foco. O tema utilizado nas rodas rítmicas (cirandas e dramatizações) é inspirado na natureza, na vida. O educador vai pesquisar os movimentos que expressam coerentemente cada imagem, cada ação que ela quer trazer às crianças. Com relação ao desenho, devemos lembrar que a criança não deve aprender a desenhar de forma dirigida. Devemos incentivar o desenho livre como uma atividade diária, sendo que o lápis ideal para ser usado é o lápis de cera ou outros que tenham a superfície corante bem larga. O mesmo se dá no que diz respeito à música, pois cabe aos educadores discernir que características a música levada à criança deve ter, pois essa música deve ir de encontro ao estágio de desenvolvimento em que a criança se encontra.
E assim, nas demais atividades propostas, também se procura atender as reais necessidades físicas, psíquicas e espirituais de cada criança, proporcionando um ambiente adequado ao grupo como um todo e a cada uma em sua individualidade. Na pedagogia Waldorf não se pretende contribuir para a aceleração do desenvolvimento da criança. Temos hoje na sociedade, de modo geral, a tendência a estimular o aprendizado causando uma precocidade infantil. Uma das questões fundamentais da educação é como lidar com essa aceleração do desenvolvimento da criança. Será que, de fato, a solução consiste na antecipação dos conteúdos de ensino? Ou as crianças estão esperando outra solução para suas necessidades? Na pedagogia Waldorf não se vê a aceleração ou a antecipação como solução. A solução está na real compreensão fisiológica e psicológica do desenvolvimento da criança, e a partir dessa compreensão profunda, criar um ambiente de situações propícias para o aprendizado das crianças de uma determinada faixa etária. A aceleração e o adiantamento do ensino formal, já no primeiro setênio, não permitem o amadurecimento das vivências e experiências. Esse procedimento favorece o acúmulo de informações e ajuda a criar o hábito da superficialidade, ao exigir sempre mais novidades, mas sem o aprofundamento de nenhuma. A criança passa por fases de desenvolvimento e cada uma delas é um passo no despertar da consciência.
A qualidade sempre tem mais valor do que a quantidade. Cabe ao educador Waldorf buscar uma profunda compreensão antropológica e pedagógica do processo evolutivo do ser humano, criar o ambiente que atenda às necessidades da criança, estimular socialmente a interação da mesma e auxiliar no desenvolvimento da autonomia da autoestema e das habilidades motoras, cognitivas e expressivas.
Na pedagogia Waldorf, o papel do educador infantil é visto como de extrema importância e até mesmo decisivo para toda a vida do indivíduo. A primeira fase da vida é o fundamento, o primeiro degrau sobre o qual se edifica todo o desenvolvimento futuro. Isto requer uma ampla formação do educador infantil em todos os âmbitos. Como a educação da criança nos primeiros anos apela essencialmente para a imitação, o educador, como exemplo, deve ter a capacidade para uma autêntica autocrítica e força de vontade para a auto-educação. O educador tem de ter uma boa capacidade de observação tanto para analisar o processo evolutivo das crianças, como também para observar as manifestações da natureza. Sua função é justamente a de ajudar as crianças a se familiarizarem e se adaptarem aos novos desafios diários sejam estes educacionais e ou sociais, além de ajudá-las a conhecer o mundo no qual irão atuar futuramente. Com a incapacidade da criança de compreender racionalmente os fenômenos do mundo, o educador terá que usar a linguagem compreendida nessa faixa etária: a linguagem dos gestos, dos movimentos vivenciados na natureza. A linguagem falada ou cantada é mais um acompanhamento dos gestos que caracterizam a natureza, e proporciona maior vivência e aprendizado da própria língua, do vocabulário e a imitação correta dos fonemas. O educador deve ter uma voz agradável para falar e afinada para cantar. Também é importante ter uma dicção clara e bem formulada para o contato constante com as crianças e para contar-lhes histórias e contos de fadas. O educador deve ter bom senso rítmico e conhecer a atuação dos ritmos falados, cantados e musicais sobre a índole da criança.
Apesar das crianças do jardim de infância não fazerem tantos trabalhos manuais dirigidos, é importante que o educador seja habilidoso manual para todos os afazeres do dia a dia em sala de aula, pois estas mesmas atitudes e habilidades serão imitadas pelas crianças em seu brincar livre. Dentre esses afazeres, consta o preparo do lanche de cada dia, que é feito pela professora na presença das crianças e com a colaboração das mais velhas e/ou interessadas em participar deste momento que, na Pedagogia Waldorf, é visto como uma importante atividade. Procura-se sempre preparar e oferecer alimentos naturais, selecionados de acordo com orientações a respeito da alimentação das crianças. Produtos como frutas, legumes, cereais integrais, mel (evita-se o uso do açúcar branco) entre outros fazem parte do cardápio, que também tem um ritmo que se repete a cada semana. Neste aspecto o educador deveria refletir e, se preciso for, rever sua própria alimentação, pois a criança assimila mais e melhor aquilo que sente ser verdadeiro na vida da professora.
A Pedagogia Waldorf também incentiva que os educadores devem trabalhar em conjunto com as famílias e vice-versa, pois as escolas Waldorf têm como meta básica fazer com que os pais acompanhem de perto o desenvolvimento de seus filhos. Escola e família trabalham conscientemente para a formação harmoniosa das crianças. Para isso, desde o momento da matrícula, a escola deverá deixar bem claro aos pais qual é a proposta pedagógica. Os pais, então, de posse desse material, poderão refletir e tomar uma decisão consciente sobre a futura educação de seus filhos, participando assim, ativamente, desse processo.
Pais serão chamados para conversas particulares sobre o andamento de seus filhos na escola e, ainda em respeito ao espírito de convivência entre a escola e a família, os professores deverão, pelo menos uma vez por ano, visitar seus alunos em suas casas. A escola promoverá também passeios visando o entrosamento e a convivência social harmônica.
A Pedagogia Waldorf procura estudar cada criança de forma individual, buscando suprir suas necessidades, estimula projetos com o grupo de classe, fornecendo o alimento planejamentos e propostas à sua etapa de desenvolvimento, além de orientar os pais para que participem ativamente do desenvolvimento e formação de seus filhos, construindo assim um elo entre Escola, Família e Comunidade.
É muito bom ampliar nossos conhecimentos ainda mais quando estamos na prática de sala.