As crianças herdam o sofrimento dos pais

Publicado em 9 de janeiro de 20199 de janeiro de 2019 por SÓ ESCOLA

O estado emocional dos pais influencia seus filhos, para melhor ou para pior. Talvez você não saiba mais as crianças herdam o sofrimento dos pais.

Se os pais sofrerem, eles transmitirão esse sofrimento à sua descendência de maneiras diferentes. Um deles é epigenética.

Epigenética analisa os fatores que regulam a expressão de genes sem uma alteração na sequência de DNA. Graças a essa ciência, sabemos agora que alguns fatores ambientais podem modificar a expressão de certos genes ao longo de nossa vida, tornando-nos mais propensos, por exemplo, a desenvolver algumas doenças ou distúrbios psicológicos.

A ciência explica como “As crianças herdam o sofrimento dos pais “

Um grupo de pesquisadores da Universidade da Califórnia analisou os descendentes de soldados que participaram da Guerra Civil Americana. Muitos desses soldados foram submetidos a grande estresse físico e psicológico, de modo que o objetivo do estudo publicado na revista PNAS era descobrir como esse sofrimento afetou a prole.

Graças aos arquivos militares, os investigadores sabiam se os soldados haviam se casado, onde moravam e se tinham filhos. Eles coletaram informações sobre 6.500 veteranos de guerra e 20.000 crianças e pessoas da mesma geração, mas cujos pais não haviam participado da guerra.

As crianças herdam o sofrimento dos pais

Sua descoberta foi devastadora: os filhos dos soldados tinham duas vezes mais chances de morrer cedo em comparação com as pessoas cujos pais não tinham ido à guerra,embora compartilhassem o mesmo status socioeconômico e estado de saúde anterior.

Uma descoberta ainda mais surpreendente foi a de que as crianças que os prisioneiros de guerra tinham após sobreviver às duras condições do acampamento tinham 2,2 vezes mais chances de morrer diante de seus irmãos. Eles também eram 1,11 vezes mais propensos a morrer do que os filhos de soldados que não foram feitos prisioneiros.

Os pesquisadores acham que a exposição ambiental a condições adversas e o sofrimento psicológico que isso gerou poderiam induzir mudanças moleculares nos gametas dos pais que, por sua vez, afetam o comportamento de seus filhos. De fato, foi provado que, em animais, a exposição ao estresse gera mudanças no perfil de DNA que são transmitidas aos seus filhos.

Obviamente, também é provável que fatores psicológicos, como o fato de pais que sofreram um grande trauma, possam infectar seus filhos de uma visão mais pessimista do mundo. Sabe-se que o pessimismo e a depressão, principalmente nos estágios iniciais da vida, geram comportamentos aversivos em diferentes ambientes e diminuem a expectativa de vida.

Isso significa que os filhos de pessoas que sofreram estresse pós-traumático adquirem de seus pais um estilo de enfrentamento peculiar que gera comportamentos desadaptativos e um sentimento de desamparo.

Efeito da segunda geração

O efeito de segunda geração refere-se à transmissão transgeracional (de pais para filhos) de consequências psicológicas e estilos de enfrentamento do estresse.

Esta teoria é apoiada por um estudo publicado no American Journal of Psychiatry, que analisou 106 mulheres com câncer de mama que também eram filhas de vítimas do holocausto fascista, que foram comparadas com 102 mulheres que sofriam da mesma doença, mas cuja os pais não haviam experimentado nenhuma experiência particularmente traumática.

Os pesquisadores descobriram que as filhas de pessoas que sobreviveram ao holocausto eram mais vulneráveis a situações estressantes e reagiam mais negativamente à doença, em comparação com as outras pessoas que participaram do estudo.

Esses psicólogos concluíram que a segunda geração tem menos recursos psicológicos para lidar com situações estressantes. Sendo menos resilientes e com uma visão mais negativa do mundo, influenciada pelo sofrimento vivido pelos pais, essas pessoas são mais vulneráveis do ponto de vista físico e psicológico.

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