Fases do Desenvolvimento intelectual segundo Jean Piaget
Para Cunha (2002), o desenvolvimento intelectual, segundo Jean Piaget envolve quatro períodos de desenvolvimento experienciados necessariamente de forma sequencial, considerando os determinantes de natureza biológica. Cada fase do desenvolvimento prepara, ou seja, alicerça a fase seguinte de maneira que as aquisições ocorridas em uma fase ou período, constituem pré-condição para a seguinte. Especificamente em relação às fases de desenvolvimento e nelas a expressão da capacidade de apreensão do conhecimento pelo sujeito epistêmico, Bock (1983, p. 84), afirma:
Segundo Piaget, cada período é caracterizado por aquilo que, de melhor o indivíduo consegue fazer nessas faixas etárias. Todos os indivíduos passam por todas essas fases ou períodos, nessa sequência, porém o início e o término de cada uma delas dependem das características biológicas do indivíduo e de fatores educacionais, sociais. Portanto, a divisão nessas faixas etárias é uma referência, e não uma norma rígida.
As fases de desenvolvimento da teoria piagetiana apontadas por Rappaport (1981) e Ries (2007).
- período Sensório-motor (0 a 2 anos);
- período Pré-operatório (2 a 7 anos);
- período das Operações concretas (7 a 11 ou 12 anos);
- período das Operações formais (11 ou 12 anos em diante).
A partir dessa afirmação e considerando as pesquisas de Piaget, passaremos então a discorrer sobre o que se acha reservado para cada fase do desenvolvimento humano, de acordo com Bock (1993, p. 84-90), a saber:
a) Período Sensório-Motor: (recém-nascido e o lactente – 0 a 2 anos)
De acordo com Cunha (2002), a característica central do primeiro período de desenvolvimento, denominado sensório-motor, é a inexistência de representações e ou imagens mentais dos objetos que entornam a criança. Nesse período o conhecimento se processa a partir de impressões que chegam ao organismo, via órgãos dos sentidos (por isso a denominação de Sensório – da sensação e Motora – do movimento motor).
Para em Bock et al (1993), no recém-nascido, a atividade mental acha-se restrita aos reflexos, de fundo hereditário, como a sucção, por exemplo e tais reflexos vão aprimorando a partir de sua prática ou treino.
Conforme Cunha (2002), nesse período de desenvolvimento o processo predominante será o da assimilação, que começa com os reflexos, ou seja, com as estruturas inatas, os quais possibilitam, ao recém-nascido, o estabelecimento dos primeiros contatos com os objetos que o cerca favorecendo-o as construções dos primeiros referencias cognitivos que para o autor, nesse período apresentam-se um tanto pouco desenvolvidos.
Como exemplo, Cunha destaca a passagem do reflexo de preensão para o de agarrar. O que significa já estar ocorrendo o processo de acomodação além da assimilação.
Para Rappaport (1981), essa fase do desenvolvimento representa na verdade para o bebê, uma conquista visto o seu aprendizado, por meio da percepção e dos movimentos, considerando o universo da cotidianidade em que esteja inserido. Ou, melhor dizendo, por meio dos esquemas sensoriais-motores irá permitir ao bebê a organização inicial dos estímulos ambientais, permitindo que, ao final do período ele tenha condições de lidar, embora de maneira rudimentar, com a maioria das situações que lhe são apresentadas. (p. 66).
Para ela, nessa fase o eu do bebê encontra-se no centro da realidade visto que ele não apresenta capacidade do que chamamos de consciência de si mesmo e, somente quando vai se constituindo como sujeito concreto, interno e subjetivo, o mundo externo vai ganhando objetividade.
Cunha (2002) destaca um experimento clássico de Piaget, no qual ele observa a atitude de um bebê quando um brinquedo cai de suas mãos e rola para baixo de algum móvel, desaparecendo de seu campo visual. O que acontece nesse experimento é que a criança não busca encontrar o objeto, mesmo tendo presenciado e visto o objeto rolar para debaixo da mobília. Conforme destaca Cunha, para a criança o objeto deixa de existir em função de ter desaparecido de seu campo visual.
Conclui então o autor que, para a criança, o brinquedo deixa de existir quando não é visualizado. Contudo destaca que deixa de existir, “obviamente do ponto de vista da criança, para quem a realidade depende das impressões sensoriais que recebe”. (CUNHA, 2002, p.82).
Período Sensório-motor e os elementos da Afetividade
Conforme Bock et al (1993), os avanços intelectuais que vão se organizando na construção de conhecimentos, alcança a dimensão do afeto uma vez que o bebê passa das emoções primárias (os primeiros medos, quando, por exemplo,ele se enrijece ao ouvir um barulho muito forte) para uma escolha afetiva de objetos (no final do período), quando já manifesta preferências por brinquedos, objetos, pessoas, etc. (BOCK ET AL., 1993, p.84).
b) Período pré-operatório (ou a primeira infância – 2 a 7 anos)
Período da Representação, da Linguagem e da Socialização
Conforme evidencia Cunha (2002), o aspecto mais destacado desta fase do desenvolvimento é a capacidade de representação – ou a transformação de esquemas de ações em esquemas representativos. A partir do dito por Cunha, no decorrer deste período, a linguagem vai deixando de ser representativa para assumir configurações socialmente convencionais.
Em Bock et al (1993), em função do notável relevo da linguagem, o desenvolvimento do pensamento ganha celeridade sendo por isso que esta é a conhecida fase dos famosos “porquês”.
Segundo Rappaport (1981), neste período do desenvolvimento, o egocentrismo se caracteriza por uma visão do real que tem por referência o próprio eu, ou seja, a criança nessa fase não concebe uma situação no mundo sem que não faça parte, desse modo, ela confunde-se com objetos e pessoas atribuindo-lhes seus próprios pensamentos.
Assim, a criança pode dar explicações animistas, frente a acontecimentos por ela vividos, ou seja, a criança irá atribuir características humanas para animais, plantas e objetos, por exemplo, “dizer que a boneca vai dormir porque está com sono ou que a panela está sentada no fogão.” (RAPPAPORT, 1981, p. 69).
Período Pré-Operatório e os elementos da Afetividade
Conforme indicam Rappaport (1981), Ries (2007), e Bock et al (1993), neste período do desenvolvimento, os elementos da efetividade destacam-se pelos sentimentos interindividuais, sobretudo aqueles sentimentos que a criança desenvolve por pessoas as quais julga superiores a ela.
Bock et al (1993, p. 86) destaca como “por exemplo, em relação aos pais, aos professores. É um misto de amor e temor. Seus sentimentos morais refletem esta relação com os adultos significativos – a moral da obediência – em que o critério de bem e mal é a vontade dos adultos”.
Já com referência à linguagem, Rappaport (1981), assegura que nesta fase do desenvolvimento, a criança apresenta tanto a linguagem socializada- aquela linguagem intencionalmente com fins de comunicação – como uma linguagem egocêntrica – aquela que não necessita de um interlocutor, pois não possui a intenção de comunicação. Para ela, quanto menor a criança, mais se destaca a linguagem egocêntrica em relação à linguagem socializada.
a) Período das operações concretas (7 a 11 ou 12 anos)
A partir dos estudos postos em Cunha (2002), nessa fase do desenvolvimento, o processo de pensar da criança alcança a capacidade de operar mentalmente visto que não possuía em função de operar por representações. Para Cunha, embora consiga operar mentalmente, essas operações possuem um caráter concreto, ou seja, precisam realizar parte da tarefa empiricamente, ou com a presença e apoio de suportes de objetos e materiais concretos.
Para Rappaport (1981), nessa fase do desenvolvimento se identifica um significativo declínio do egocentrismo intelectual e certa ascensão do pensamento lógico. Para esta autora, o que marca esta fase do desenvolvimento, seria a organização de esquemas visando à aquisição dos elementos conceituais, sendo, portanto, sua relação com o mundo muito mais mediada pelos elementos racionais e muito menos pela assimilação egocêntrica.
No que se refere ao desenvolvimento da linguagem verifica-se um encolhimento da linguagem egocêntrica até o seu total desaparecimento. Já, quanto ao desenvolvimento social, este ocorre não só e ao mesmo tempo em que o desenvolvimento intelectual, mas acaba por configurar como um dos aspectos mais evidentes neste período. Nessa fase do desenvolvimento, se observa na criança uma interação mais genuína e mais efetiva, isso, tanto com relação aos outros colegas, como com referência aos adultos de sua convivência.
b) Período das operações formais (+ ou – 12 anos em diante)
Para Piaget, entre os 12 e 16 anos, o sujeito experiencia a fase de desenvolvimento chamada de operações formais. A característica focal desta fase é a transformação dos esquemas cognitivos, operados concretamente em esquemas baseados na realidade imaginada.
Para Bock et al (1993, p.89), neste período, o adolescente possui condições intelectuais para elaborar conceitos éticos como liberdade, justiça e outros. Conforme esta pesquisadora, neste período “o adolescente domina, progressivamente, a capacidade de abstrair e generalizar, cria teorias sobre o mundo, principalmente sobre aspectos que gostaria de reformular”.
De acordo com Cunha (2002), nesta fase pode acontecer de o jovem imaginar sociedades alternativas, sistemas filosóficos perfeitos e busca por profissões inusitadas. Há acordo entre os pesquisadores de que esta fase abre-se para o indivíduo largos horizontes de possibilidades de transformações, tanto do próprio jovem como do mundo que o cerca em função de realidades que ele passa a dominar em virtude dos recursos intelectuais mais avançados e pertinentes ao seu desenvolvimento.