A pedagogia do olhar

A pedagogia do olhar – Artigo enviado pelo nosso parceiro “Professor Marcos L Souza – Pedagogo – Psicopedagogo – Educador.

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A pedagogia do olhar

O educador ao revelar-se enquanto sujeito do seu agir, terá que fechar a boca para a ignorância e a soberba e abrir os olhos para a ética, a transparência, a amorosidade e para a beleza do ato de ensinar. A curiosidade deve ser entendida como a mola que impulsiona para a motivação do início ao fim de cada ato de ensinar. No contexto da aprendizagem a sensibilidade do olhar está (Inter) ligado a duas dimensões muito discutidas por Freire: a alegria e a esperança. Há uma relação entre a alegria necessária à atividade educativa e a esperança (Esperançar).

A esperança de que professor e alunos juntos podem aprender ensinar, inquietar-nos, produzir e juntos igualmente resistir aos obstáculos a nossa alegria (FREIRE, 2015, p. 70).

Essa relação entre o olhar, à alegria e a esperança é o movimento dialógico que deve pautar o ato de ensinar e aprender. É neste “chão sagrado” que se estabelece a mística para a concretização da pedagogia do amor. O universo não está pronto ou acabado é preciso compreendê-lo, decifrá-lo para transformá-lo. A magia do compreender o olhar,  não deve ser vista ou interpretada de forma apriori determinada. A magia está na construção e no diálogo entre os atores do cenário educativo, seja qual for ele (educação formal, educação não formal, educação informal, educação popular). Como menciona Freire: “a educação é uma espécie de ímpeto natural possível e necessário…” (2015, 3 p. 70).

Somos dotados de possibilidades e dons. Os seres humanos devem ser os guardiões da sabedoria e fazer delas um oásis de fenômenos criativos e solidários. Novamente Freire nos lembra: “A esperança é um condimento indispensável à experiência histórica.” (2015, p. 71). Denota-se na frase a dimensão histórica.

A pedagogia do olhar

A historicidade é a marca de qualquer ser humano. Sua vivência é dotada de sentimentos e sentidos. É preciso ter sonhos, estimular sonhos para a vivência dialógica no âmbito da educação. Freire deixa bem claro que não existe educação sem diálogo (2013, p. 95). O diálogo é um ato íntimo quando educador e educando se tornam um só na condição de aprender. É na relação humana que se expressa a mais verdadeira aprendizagem educacional. Como diz Freire: É através deste que se opera a superação de que resulta um termo novo: não mais educador do educando, não mais educando do educador, mas educador educando com educando educador (2013, p. 95).

Essa simbiose poética e humana caracteriza o processo da aprendizagem. A dimensão existencial implicada nesta relação é que dá forma no processo educativo, onde o educando e o educador está um no outro e não só com o outro. Nesta dimensão afetiva e recoberta de esperanças é que acontece o existir, por meio do outro, de forma dialógica e amável. Aí se pode dizer que a sensibilidade de interpretar o olhar e de fechar a boca para o inaceitável e abrir os olhos para o aceitável, é que se vive o verdadeiro momento poético do aprender.

Mario Quintana nos brinda com um poema sobre as utopias: Das Utopias – Se as coisas são inatingíveis… Ora! Não é motivo para não querê-las… Que tristes os caminhos, se não fora a presença distante das estrelas! (2015, p. 47).

Paulo Freire foi um mestre e um líder da e na educação, e seus ensinamentos versavam sempre na lógica da amorosidade e do afeto. Não era ingênuo ou simplório na condução do ato de educar. Demonstrava autoridade e clareza nas suas ações. Sua sensibilidade era pautada pela tolerância, compaixão, diálogo, franqueza e outras virtudes de um homem poético, ousado e esperançoso. Ele é a certeza de que a educação alicerçada no amor é fundamental para um caminho de transformação e solidariedade. Sabe-se que Freire acreditava no potencial de cada educando sem demagogias. Ele sabia que a transformação social e ética só aconteceriam se a centralidade  de toda a ação estivesse no sujeito e não no objeto ou na ferramenta que fosse utilizada para o processo educativo. Uma educação vivenciada na singularidade e pessoalidade em prol de um coletivo foi à proposta de Freire e assim ele apresenta: Ao pensar sobre o dever que tenho, como professor, de respeitar a dignidade do educando, sua autonomia, sua identidade em processo, devo pensar também, como já salientei, em como ter uma prática educativa em que aquele respeito, que sei dever ter ao educando, se realize em lugar de ser negado (2015, p.63).

A esperança de que um mundo melhor é possível de se tornar realidade através dos sonhos de todos os educadores e educandos, fica enfatizada em todas as obras e trabalhos de Freire Essa dimensão dialógica entre educando e educador tendo como princípio o “Amor”, é o caminho para transformação de uma sociedade capaz de superar suas vulnerabilidades, preconceitos e outros desafios quaisquer. Não é preciso diferentes hermenêuticas para compreender que o amor, aliado à educação do coração, torna-se a ferramenta mais poderosa do ensinar e do aprender.

Texto > Prof. Marcos L Souza

Marcos Leonardo de Souza é Educador e Escritor. Licenciado em Pedagogia, História e Música, com Pós-Graduação Lato Senso em Psicopedagogia, Alfabetização e Letramento, Educação Lúdica, Educação Musical, Educação Infantil, atuando nas áreas de consultora, assessoria pedagógica, treinamentos, oficinas e palestras. Mestre em Educação

REFERÊNCIAS

  • AYALA, Walmir. ANTOLOGIA POÉTICA, Mário Quintana. Rio de Janeiro; Nova fronteira Editora, 2015.
  • FREIRE, Paulo. PEDAGOGIA DA AUTONOMIA. Saberes Necessários à Prática Educativa. Rio de Janeiro: Paz e Terra Editora, 2015.
  • FREIRE, Paulo. PEDAGOGIA DO OPRIMIDO. Rio de Janeiro: Paz e Terra Editora, 2013.
  • STRECK, Danilo R.; REDIN, Euclides; ZITKOSKI, Jaime José (orgs). Dicionário Paulo Freire. São Paulo: Autêntica Editora, 2010.

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