8 em cada 10 professores da rede pública relatou dificuldade em atender alunos com deficiência na pandemia, aponta pesquisa do Cetic
‘Na sala de aula já era difícil, porque os professores não sabem lidar’, diz aluna com autismo que teve de fazer aulas à distância em 2021. Falta de apoio de pais e de internet, além da defasagem no aprendizado foram os principais problemas apontados pelos docentes.
O atendimento aos alunos com deficiência foi uma das maiores dificuldades enfrentadas pelos professores das redes de ensino pública e particular nos anos de pandemia, mostra levantamento do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br). Os dados são referentes a 2021 e foram divulgados nesta terça-feira (12).
Segundo o levantamento, 80% dos professores de ensino fundamental e médio da rede pública (municipal, estadual e federal) relataram dificuldade em atender alunos com deficiência durante a pandemia. Na rede particular de ensino, o percentual foi de 60%.
O estudo foi feito com 1.865 professores de todo o país entre setembro de 2021 e maio de 2022.
Ana Maria Freire é coordenadora pedagógica do Colégio Escritor Monteiro Lobato, em Porto Alegre, e conta que precisaram de protocolos específicos para atender alunos com deficiência. Era preciso viabilizar o atendimento presencial de professores a alunos que precisavam.
“Nossos alunos tinham fácil acesso ao nosso sistema remoto, mas alguns têm sensibilidade à tela, outros têm limitação motora. Então era preciso aulas presenciais e isso demandava muitos cuidados, testes recorrentes e o auxílio dos pais”, avalia.
A aluna Bruna Medeiros, de 18 anos, viveu o outro lado da experiência e conta que o despreparo dos professores para lecionar em uma situação de pandemia foi perceptível. Bruna é autista, diagnosticada há 3 anos, e teve dificuldade para concluir o ensino médio pela escola estadual em que estudou, em Resende, Rio de Janeiro.
“Na sala de aula já era difícil, porque os professores não sabem lidar [com pessoas autistas]. Mas no meu último ano, em 2021, senti que não tinha espaço para aprender, só para ganhar nota com as atividades para passar de ano”, conta.
As dificuldades mais relatadas pelos professores ouvidos pelo levantamento foram falta de apoio de pais responsáveis nas atividades escolares, defasagem na aprendizagem dos alunos e falta de acesso à internet (veja os percentuais nos gráficos abaixo).
Métodos para aplicação de atividades na pandemia
Segundo os professores ouvidos, a grande maioria das escolas do país adotou a modalidade híbrida (com atividades tanto presenciais quanto a distância) ou remota para realização das atividades pedagógicas em 2021.
Para isso, as instituições recorreram à aplicação de atividades impressas e à mídias e recursos digitais.
54% das escolas municipais passaram a utilizar plataformas de videoconferência, percentual que chega a 82% entre as escolas estaduais e a 91% em instituições privadas.
As escolas também utilizaram recursos digitais gravados. Videoaulas gravadas foram utilizadas por 69% das escolas municiais, 79% das escolas estaduais e 71% das escolas particulares do país.