Brasil é referência na alimentação escolar, diz especialista
O Brasil é considerado um dos grandes modelos mundiais quando o assunto é alimentação escolar. Mesmo que, por vezes, o país não valorize tanto essa conquista, especialistas destacam que o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) está entre os mais estruturados do planeta, sendo reconhecido internacionalmente e até adotado como inspiração em outros países.
História e fortalecimento do programa
O Pnae existe há mais de 70 anos, mas ganhou força a partir de 2009, com a aprovação de uma lei que trouxe avanços significativos. Essa legislação estabeleceu critérios para garantir qualidade e equilíbrio nutricional, restringiu alimentos ultraprocessados e definiu que o cardápio deve respeitar a cultura alimentar local.
Outro ponto fundamental foi a transformação da chamada “merenda” em refeição completa. Desde então, nutricionistas passaram a ser responsáveis pela elaboração dos cardápios, que são executados nas escolas por cozinheiros e auxiliares capacitados.
Como funciona na prática
Exemplo em Fortaleza-CE
Na Escola Johnson, em Fortaleza, mais de 400 estudantes recebem três refeições diárias. Os pratos variam entre baião de dois, carne picadinha, farofa de ovo e o tradicional creme de galinha — sempre preparado de forma saudável, sem uso de creme de leite, queijos gordurosos ou produtos ultraprocessados.
A alimentação é planejada para contemplar todos os alunos, incluindo aqueles que têm restrições alimentares. Isso mostra como a escola se preocupa em oferecer refeições inclusivas, saborosas e equilibradas.
Regras dos cardápios
Os cardápios do Pnae seguem critérios obrigatórios, entre eles:
- Atender às necessidades nutricionais dos alunos;
- Respeitar a cultura alimentar de cada região;
- Priorizar alimentos preparados na própria escola;
- Limitar ultraprocessados a, no máximo, 15% do total;
- Garantir que pelo menos 30% dos ingredientes venham da agricultura familiar.
Benefícios para a agricultura familiar
Um dos pontos fortes do Pnae é o impacto positivo para pequenos produtores rurais. Muitos agricultores encontram no programa uma fonte estável de renda, já que parte significativa da produção é comprada diretamente para abastecer as escolas.
Além de fortalecer a economia local, essa prática estimula a diversidade de alimentos servidos aos estudantes, garante frescor e qualidade dos produtos e movimenta o desenvolvimento regional. Um projeto recente do Congresso prevê ampliar essa exigência, passando de 30% para 45% de participação da agricultura familiar até 2026.
Reconhecimento internacional
O sucesso do Pnae tem chamado atenção de outros países. Recentemente, o Brasil sediou um encontro internacional que reuniu representantes de mais de 90 nações, com o objetivo de ampliar o acesso a refeições saudáveis a cerca de 700 milhões de alunos até 2030.
Países como São Tomé e Príncipe já receberam apoio direto de nutricionistas brasileiras para implementar programas inspirados no modelo nacional. Isso demonstra que a experiência brasileira se consolidou como referência global.
Atualmente, o programa atende cerca de 40 milhões de estudantes, desde creches até a Educação de Jovens e Adultos (EJA). Para muitos desses alunos, a refeição da escola é a mais importante do dia.
Desafios a superar
Apesar de todos os avanços, o Pnae enfrenta obstáculos:
- Recursos financeiros limitados – O orçamento é significativo, mas os valores diários por aluno ainda são baixos. Além disso, muitos municípios deixam de complementar o repasse federal, principalmente nas regiões Norte e Nordeste.
- Estrutura insuficiente – Em várias escolas, faltam cozinhas adequadas, equipamentos e profissionais. Além disso, a inflação dos alimentos dificulta cumprir todas as exigências nutricionais.
- Visão reduzida do programa – Muitos gestores ainda tratam a alimentação escolar como “merenda”, e não como uma política pública de saúde e educação. Isso limita o reconhecimento da importância pedagógica e nutricional do programa.
Conclusão
O Programa Nacional de Alimentação Escolar é muito mais do que uma simples refeição servida na escola. Ele garante saúde, combate a fome, promove aprendizado, fortalece a agricultura familiar e inspira o mundo inteiro.
Apesar dos desafios que ainda precisam ser enfrentados, o Brasil pode se orgulhar: sua política de alimentação escolar é uma das mais avançadas e inclusivas do planeta.
Fonte: agenciabrasil

