Brasil tem indisciplina escolar acima da média: professores gastam mais de 20% da aula para controlar alunos

Indisciplina escolar no Brasil: professores gastam mais de 20% do tempo de aula para controlar alunos, aponta pesquisa da OCDE

A indisciplina nas escolas brasileiras está acima da média internacional e afeta diretamente a qualidade do ensino. Segundo a Pesquisa Internacional sobre Ensino e Aprendizagem (Talis 2024), realizada pela OCDE, os professores do Brasil perdem mais de 20% do tempo de aula apenas para manter a ordem em sala. Esse índice é maior que a média internacional, de 16%.

Além disso, apenas 14% dos docentes brasileiros acreditam ser valorizados pela sociedade, enquanto a média entre os países avaliados é de 22%.


Professores enfrentam barulho e desordem em sala de aula

Mais da metade dos professores brasileiros (50%) relatam enfrentar barulho perturbador e desordem durante suas aulas. O número é mais que o dobro da média da OCDE (20%).

  • Chile, Finlândia, Portugal e África do Sul: pouco mais de 33% dos professores enfrentam problemas disciplinares.
  • Albânia, Japão e Xangai (China): menos de 5% relatam dificuldades.

Outro dado importante: professores novatos enfrentam mais interrupções que os experientes. No Brasil, 66% dos iniciantes relatam esse problema, contra 53% dos veteranos.



Perda de tempo com silêncio e interrupções

O levantamento mostra que 43% dos professores brasileiros afirmam perder muito tempo esperando os alunos ficarem em silêncio – quase três vezes mais que a média da OCDE (15%).

O mesmo índice se aplica a interrupções durante as aulas: 44% dos docentes no Brasil afirmam enfrentar essa situação, enquanto a média internacional é de apenas 18%.


Valorização da carreira docente ainda é baixa

Outro ponto crítico é o baixo reconhecimento profissional. Apenas 14% dos professores brasileiros acreditam ser valorizados pela sociedade – apesar de ser um leve aumento em relação a 2018, o número ainda está muito abaixo da média da OCDE (22%).

O estudo também revelou que:

  • 47% dos professores brasileiros afirmam sofrer intimidação ou abuso verbal de alunos – quase o dobro da média internacional.
  • 72% trabalham em regime de meio período, uma das maiores proporções entre os países avaliados.

Segundo especialistas, jornadas integrais de 40 horas e dedicação exclusiva a uma única escola poderiam melhorar a motivação, o vínculo com os alunos e os resultados de aprendizagem.


Formação continuada ainda é um desafio

Mais da metade dos professores brasileiros relatam dificuldade em participar de ações de formação continuada. O principal motivo é a incompatibilidade entre os cursos e a carga horária de trabalho.

Segundo o Movimento Profissão Docente, oferecer melhores condições de jornada e remuneração é fundamental para fortalecer a carreira e garantir maior qualidade na educação.


O que é a Pesquisa Talis?

A Pesquisa Internacional sobre Ensino e Aprendizagem (Talis) existe desde 2008 e avalia as condições de trabalho de professores e diretores em diferentes países.

Os principais pontos de análise são:

  • formação inicial e continuada;
  • métodos de ensino e práticas pedagógicas;
  • clima escolar e gestão;
  • motivação e satisfação profissional;
  • uso de tecnologias.

Na edição de 2024, foram ouvidos 280 mil professores e diretores de 17 mil escolas em 55 sistemas educacionais. No Brasil, o estudo foi conduzido pelo Inep, com dados coletados entre junho e julho de 2023.


Conclusão

A pesquisa da OCDE deixa claro que a indisciplina escolar no Brasil é um problema estrutural que compromete o tempo de aula, desgasta professores e prejudica a aprendizagem.

Além disso, o baixo reconhecimento social da profissão docente, somado à falta de melhores condições de trabalho e oportunidades de formação continuada, reforça o desafio de valorizar os professores e transformar a educação brasileira.